31 mar, 2019 - 19:19 • Marília Freitas
"É um grande dia. É o nosso padre Aguiar que vai ser bispo", diz Maria de Fátima. Está em pé no Largo da Trindade, no Porto, porque a igreja já está cheia e os bancos colocados cá fora também. São algumas centenas os fiéis que se deslocam à Igreja da Trindade para assistir à ordenação episcopal de D. Américo Aguiar.
Para aqueles que o conhecem há mais tempo - sobretudo ligados à diocese do Porto -, a força do hábito fala mais alto e D. Américo continua a ser "o padre Américo" com quem trabalharam, conversaram ou viajaram.
"Ele é uma pessoa realmente escolhida por Deus. A postura dele é uma postura vertical, de muita espiritualidade e tem muita sabedoria", diz Maria de Fátima.
Lamenta que D. Américo rume à diocese de Lisboa. Mas, reconhece, "ele é do mundo" e "Lisboa é que fica a ganhar".
Sentada numa das primeiras filas está uma espanhola que mora em Vila Nova de Gaia. Catequista em Portugal há vários anos, recorda os inúmeros encontros com o então padre Américo Aguiar, "desde que foi secretário de D. Manuel Clemente e depois do D. António Francisco". "Tenho muita amizade por ele", diz à Renascença.
Fala das peregrinações a Itália e das formações. "A última vez que o vi, disse: 'O próximo bispo és tu'. E ele, a brincar, disse: 'Sim sim, naturalmente'. A caminhada dele era para isto, fico contente", conta.
Vai ficar sentada cá fora, a assistir à cerimónia através de ecrã colocado no exterior da igreja da Trindade. Com 80 anos, diz, "entrar lá dentro é muito cansativo, porque os bancos são muito duros". "Depois mando-lhe os parabéns".
O dia, reconhece, é de um misto de sentimentos. "Deus tem coisas que a gente não entende. Que no dia da sua consagração de bispo tenha estado a enterrar a sua mãe... Mas tudo isto são presentes de Deus. Porque Deus oferece presentes se calhar em embalagens muito feias, mas dentro tem um tesouro. A mãe dele está no céu, mas está contente com o filho bispo. Eu também estou muito contente. Acho que é uma graça para a Igreja".
Faltam cerca de 20 minutos para a cerimónia, quando chega D. Américo Aguiar. É recebido pelo bispo do Porto, D. Manuel Linda, e pelos presidentes das autarquias do Porto e de Lisboa, Rui Moreira e Fernando Medina. Mas também pelo primeiro-ministro, António Costa, e por Pinto da Costa, presidente do FC Porto.
"Cuidem bem dele", ouve-se no momento em que D. Américo cumprimenta Fernando Medina. É Emília Almeida quem está por perto a assistir aos cumprimentos iniciais. Viveu 42 anos em Lisboa, mas agora está pela Invicta.
"Conheço o padre Américo há uns bons anos, é uma pessoa por quem tenho muita estima e espero que ele se dê bem em Lisboa. Fico muito contente e por isso estava a dizer ao senhor presidente da câmara para o tratar bem lá em Lisboa", explica.
Emília não tem dúvidas que D. Américo "vai fazer muito por Lisboa". "É uma pessoa muito dinâmica, que gosta de estar próximo das pessoas. Acho que atualmente a Igreja precisa muito de homens como o padre Américo", afirma.
À amiga, com quem veio para assistir à cerimónia, estava a recordar um episódio "com graça", quando interrompemos a conversa.
"Ele foi, como eu chamava, o guarda costas do senhor D. Armindo quando ele estava internado no hospital de Santo António", começa por contar. Já na altura Arminda era voluntária no hospital e costumava passar pelo quarto de D. Armindo "para dar uma palavrinha de estímulo".
"Um dia chego lá e à porta do quarto havia um berbequim a furar, porque havia um problema num cano. E diz-me o padre Américo: 'Emília, o senhor D. Américo deve estar a descansar'. E eu dei uma gargalhada muito alta. Veio tudo ver o que se passava. Ora, com o berbequim à porta do quarto, ele não podia descansar de certeza", conta, realçando o bom humor e a boa disposição de D. Américo Aguiar.
Ao lado, encontramos um grupo de seminaristas vindos de Lisboa. Elei Bastos é natural de São Tomé e Príncipe, mas estuda em Lisboa, tal como os colegas que o acompanham, alguns provenientes de Cabo Verde e da Índia, com quem conversa em amena cavaqueira.
Vieram saudar o novo bispo auxiliar da capital portuguesa, mas não esquecem as origens. Pedem uma "igreja universal e que a comunhão entre as igrejas se note cada vez mais". Sobre o novo bispo, Elei espera "que de facto seja um pastor próximo das pessoas".
Luís também é seminarista, mas no Porto. Recorda as visitas do então padre Américo ao seminário e a participação dos jovens seminaristas "em muitas atividades nos Clérigos".
Lembra, em especial "a missa dos jovens com o Papa em 2010, em que ele foi o organizador, e toda organização em que nós também estivemos envolvidos. Talvez seja o evento com mais expressão em que recordamos a sua participação e a sua presença".
"É um homem próximo, é um testemunho para nós interessante", diz.
Na opinião de Luís, D. Américo Aguiar pode ser um contributo valioso para a organização da Jornada Mundial da Juventude em 2022. "Tem experiência, tem muita iniciativa. É um homem com muito rasgo e acho que será um contributo muito importante para um evento que é muito grande e com muita expressão a nível mundial", diz à Renascença.
Espera que o novo bispo "mantenha a postura que tem tido até agora, com muita proximidade, num estilo muito afável, assim com uma certa ironia e de brincadeira fácil, que é o que o carateriza".
D. Américo Aguiar foi nomeado pelo Papa Francisco bispo auxiliar de Lisboa no dia 1 de março. A ordenação episcopal decorreu este domingo e foi presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente, que na homilia salientou as qualidades de D. Américo ao nível da comunicação e pediu pastores coerentes e limpos no anúncio e na vida.
O novo bispo vai ser o responsável pela coordenação logística da Jornada Mundial da Juventude que irá decorrer em Lisboa, em 2022. Por isso, um dos bispos co-ordenantes do D. Jose Domingo Ulloa, arcebispo do Panamá, onde decorreu a ultima Jornada.