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Ciclone Idai

Português na Beira descreve cenário de destruição. "Vai ser difícil nos próximos meses conseguir reerguer esta cidade"

19 mar, 2019 - 17:50 • Pedro Mesquita , Tiago Palma

Seis dias depois do desastre, Moçambique continua a braços com um rasto de destruição e morte. A Save The Children alertou esta terça-feira que a aldeia de Búzi pode estar prestes a desaparecer do mapa.

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Entrevista a Romeu Rodrigues, português na Beira em Moçambique, do jornalista Pedro Mesquita
Ouça aqui a entrevista completa a Romeu Rodrigues

As fortes chuvas e ventos que, a partir de quinta-feira, com a passagem do ciclone Idai, causaram dezenas de mortos (os números oficiais apontam para 84 vítimas mortais) e desaparecidos em Moçambique, deixaram algumas regiões, nomeadamente na Beira e no Dondo, no centro de país, completamente irreconhecíveis.

A situação é dramática, como relata à Renascença Romeu Rodrigues, um português que se encontra na região afetada.

“A cidade [da Beira] está virada do avesso. Grande parte da zona industrial tem os armazéns destruídos em termos de coberturas, algumas paredes foram a baixo. Os postos de iluminação estão todos em baixo e vê-se um cenário de destruição massiva. Agora, a pouco e pouco, as pessoas estão a começar a tentar organizar as suas vidas”, lembra.

Entre a comunidade portuguesa, e como voltou a garantir esta terça-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, não há, por ora, registo de vítimas mortais.

“O problemas dos portugueses são as casas, que tiveram alguns danos, vidros partidos, alguns telhados partidos – sobretudo bens-materiais estragados. De resto, as pessoas, mal ou bem, conseguiram abrigar-se em sítios onde as casas são mais ou menos robustas. O problema não é a cidade [da Beira]: o problema está à volta; à volta é que é a desgraça. As pessoas esquecem-se que há milhares de pessoas que estão a perder as suas vidas”, recorda Romeu Rodrigues.

As Nações Unidas alertaram esta terça-feira que as próximas 72 horas serão "críticas" para Moçambique, com cheias esperadas nas bacias dos rios Búzi e Pungoe. A aldeia moçambicana de Búzi, na província de Sofala, está a somente 24 horas de ficar totalmente submersa, garantiu também esta terça-feira organização não-governamental Save The Children.

“A informação que se tem aqui relativamente a Búzi é que está para desaparecer. Sei que ontem estavam a tentar organizar barcos para resgatar pessoas, porque os helicópteros que andam no ar são escassos para a quantidade de pessoas que devem estar afetadas e com dificuldades. E aí é que é preciso ajuda”, explica.

A passagem do ciclone Idai em Moçambique, Maláui e Zimbabué provocou pelo menos 222 mortos, segundo balanços provisórios divulgados pelos respetivos governos na segunda-feira. Mais de 1,5 milhões de pessoas foram afetadas pela tempestade naqueles três países africanos.

Em moçambique, o Presidente Filipe Nyusi acredita que o número de mortos no país pode ultrapassar os mil. A ajuda humanitária só agora começa a chegar para os que sobreviveram ao ciclone, mas perderam tudo.

“Não se noção aqui [do número de mortos e desaparecidos]. Só falando com pessoas que estão ligadas aos socorros é que se tem. Porque as notícias não chegam. Hoje foi o primeiro em que os telefones funcionaram melhor. Ninguém consegue ir de carro a essas zonas. Logo, a informação é muito pouca. Sabe-se que iam chegar os navios [com ajuda humanitária], não sei se chegaram ou não. Ontem chegou um avião com ajuda. Vemos sempre, durante o dia, helicópteros de um lado para o outro. Há muita coisa que se está a fazer nessas zonas afetadas. A prioridade, e é o que o Governo está a fazer – e bem –, são as pessoas que estão afetadas em zonas isoladas. Vai ser difícil nos próximos meses conseguir reerguer esta cidade e vai demorar muito tempo de certeza", explica.

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