Portugal

​Encurtamento do mercado de transferências. Treinadores querem "reduzir a instabilidade" nas equipas

31 jan, 2019 - 11:45 • Eduardo Soares da Silva , José Pedro Pinto

Os treinadores da I e II Liga apresentaram a proposta à Liga de Clubes para o encurtamento do mercado de transferências. O objetivo é que a janela de verão feche no dia anterior ao arranque do campeonato e um encurtamento no longo mês de transferências de janeiro. A Renascença foi ouvir a proposta dos jogadores e ponto de vista dos agentes português.

A+ / A-

Os treinadores da I e II Liga, representados pela ANTF, Associação Nacional de Treinadores de Futebol, propuseram à Liga de Clubes o encurtamento das duas janelas de transferências anuais: a de verão fechar antes da primeira jornada do campeonato, e a de inverno antes de 31 de janeiro. Tudo para que os técnicos possam definir, com mais tranquilidade, o elenco dos plantéis e impedir que se esteja até 31 de agosto e 31 de janeiro com indefinição nas equipas.

A Renascença esteve à conversa com José Pereira, presidente da ANTF, que defende a existência do mercado de transferências em janeiro, mas critica a sua duração, que causa incerteza aos treinadores e, em última instância, coloca em risco os objetivos das equipas:

“Os treinadores compreendem a necessidade empresarial das transferências e também conjuntural das equipas. Claro que ninguém se opõe à existência de uma janela de transferências nesta altura, contudo, por uma questão emocional, organizativa e de tranquilidade, que fossem realizadas num espaço mais curto”.

Em Inglaterra, o mercado de transferências de verão fechou esta temporada antes do arranque da primeira jornada da Premier League. Segundo o presidente da ANTF, a ideia portuguesa não segue o modelo britânco, até porque já está a ser congeminada há muito tempo pelos treinadores:

“Não precisamos de olhar para Inglaterra como exemplo, porque a ideia já está pensada aqui há muito tempo. Se dependesse dos jogadores e treinadores, já estaria tudo mudado há muito, mas essa situação é decidida pelos clubes, através da Federação e a UEFA”.

O presidente da Associação de Treinadores acredita que o mercado de verão terminar quase um mês após o arranque da I Liga leva a que os clubes “não comecem a época de forma tranquila": “Todos temos a plena consciência que o futebol precisa de ter essa janela de transferências, até porque há clubes que organizam as suas finanças através das transferências de verão, mas começar o campeonato e estar um mês à espera que o mercado feche é um exagero, e é contra estes exageros que os treinadores estão contra”.

A proposta foi discutida entre treinadores e representantes da Liga, na conferência “Think Football”, em Braga, e foi bem recebida pelo responsável da principal prova portuguesa: “A Liga está aberta às nossas sugestões, mas agora vai depender do que os clubes entenderem e decidirem na assembleia geral”.

Encurtamento do mercado "não altera rotinas" dos empresários, que deixam um alerta

Diminuir o período de transferências traduz-se também num menor período de ação dos representantes dos jogadores. Ainda assim, Emanuel Calçada, secretário-geral da Associação Nacional de Agentes de Futebol (ANAF), diz que o trabalho dos agentes não está em causa:

“Os agentes não vão deixar de fazer o seu trabalho pelo facto da janela fechar mais cedo. O que vai acontecer é uma mudança de hábitos comerciais, mas a competência dos agentes nunca será colocada em causa, bem como os efeitos do seu trabalho. Não me parece que isso vá prejudicar”.

Calçada deixa, no entanto, o aviso para o “pequeno mercado” português, muito dependente da venda de jogadores para gerar receitas: “Apesar de o futebol português trabalhar bem o seu produto e sermos competentes no que fazemos, a verdade é que o mercado, por ser mais pequeno, precisa de injeção de capital que normalmente é recebido via venda de atletas".

"Os clubes não podem querer tudo. Não podem querer estabilidade quando se evoca a questão de o mercado fechar mais cedo para os treinadores saberem com o que contam. Não podem mais tarde vir a público dizer que é preciso mais dinheiro para o futebol português, quando esse dinheiro deriva do muito trabalho dos agentes, no fundo”, alerta, em declarações à Renascença.

Em relação ao dia-a-dia na vida de um agente de futebol, Emanuel Calçada não prevê grandes alterações, mas sim uma antecipação nos planos de ação, para dar resposta a um mercado mais curto:

“Os agentes têm uma agenda própria, como qualquer pessoa que exerce a sua atividade. Será um desafio para mudar hábitos, mas sempre em função de um "timing". Não vai mudar de forma drástica a forma como se olha para o mercado mas poderá antecipar um pouco as estratégias e planos de ação que, em condições normais, seriam feitos mais tarde”.

A duração da janela de transferências é uma discussão antiga em Portugal, e que gera diferentes opiniões. Depois da conferência "Think Football", o consenso entre os treinadores deixou clara a vontade de ver reduzido o período de mercado, restando saber a decisão dos clubes na próxima Assembleia Geral da Liga.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+