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Falhas no socorro ao helicóptero do INEM? Saiba quem diz o quê

16 dez, 2018 - 16:23 • ​​Marília Freitas​ com Lusa.

A empresa que gere a navegação aérea diz que tentou contactar os CDOS para informar sobre o desaparecimento dos radares do helicóptero do INEM, mas as chamadas não foram atendidas. A Proteção Civil diz que essa informação é falsa. Resumimos a troca de palavras entre instituições.

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As duas horas de hiato entre o momento de desaparecimento do helicóptero do INEM e o avanço do socorro para o local do acidente estão ainda envoltas em muitas dúvidas. Este período será um dos pontos fulcrais das investigações que começaram este domingo, na serra de Valongo sobre o que falhou nas operações de socorro.

O helicóptero, em que seguiam o médico espanhol Luis Vega, a enfermeira Daniela Silva, o piloto João Lima e o co-piloto Luís Rosindo, saiu de Macedo de Cavaleiros pouco depois das 15h00, transportando uma doente de 73 anos. Chegaram ao Hospital de S. João, no Porto, pouco depois das 18h00 .

Findo o transporte e devido às condições climatéricas adversas, a tripulação terá, num primeiro momento, decidido ficar no heliporto de Massarelos, no Porto, à espera de melhorias no tempo. Porém, acabou por decidir voar.

Segundo a NAV, a empresa que gere a navegação aérea, a tripulação contactou com a Torre de Controlo do Porto às 18h30, para informar que iria descolar para Macedo de Cavaleiros via Baltar dentro de 5/6 minutos, informando ainda que se não conseguisse aterrar em Baltar, poderia prosseguir para o Porto.

Perda de comunicações é "normal"

A tripulação contactou, pela primeira vez, a Torre de Controlo do Porto, já em voo, às 18h37, e foi contactada às 18h39 pela Torre de Controlo, que pretendia saber qual a altitude que pretendia manter, tendo a tripulação informado que iria manter 1.500 pés.

A primeira perda de sinal radar com o helicóptero deu-se às 18h55, afirmou a NAV, salientando ainda que a perda de comunicações "é normal", devido "à altitude e orografia do terreno". Informação que contraria a avançada no sábado pelo INEM, segundo o qual a aeronave estava desaparecida desde as 18h30.

Tendo em conta a hora de descolagem do aparelho, era expectável que aterrasse às 19h00.

NAV acusa Proteção Civil de não atender chamadas

Vinte minutos depois, a NAV inicia o protocolo de atuação “que determina que 30 minutos após o último contacto expectável se iniciem tentativas de contacto com a aeronave". Segundo a NAV, a Torre de Controlo do Porto contactou telefonicamente várias entidades, entre as quais os bombeiros de Valongo e a PSP de Valongo.

À mesma hora, diz a empresa, foi tentado o contacto ainda com os Comandos Distritais de Operações de Socorro (CDOS) do Porto, Braga e Vila Real "que não atenderam".

"Só após contactar o CDOS de Coimbra, que reencaminhou a chamada para o Porto, é que se conseguiu contactar o CDOS do Porto", vincou a NAV.

Protecção Civil diz que informação da NAV é falsa

Em declarações à agência Lusa, Marco Martins, presidente da Comissão Distrital do Porto da Proteção Civil, disse ser "falsa" a informação dada pela NAV de que o CDOS do Porto apenas "atendeu" uma chamada sobre o acidente quando a mesma foi "reencaminhada pelo CDOS de Coimbra".

A Proteção Civil distrital afirma que o CDOS do Porto foi alertado para a queda do helicóptero do INEM pelo Comando Nacional e que este foi avisado às 20h09 pela Força Aérea.

“O que diz a NAV é estranho, até porque há uma linha direta da torre de controlo do Aeroporto do Porto para o CDOS do Porto e a mesma não foi acionada", acrescentou Marco Martins.

Também os CDOS de Braga e de Vila Real recusam não ter atendido a chamada da NAV sobre o acidente de Valongo, garantindo ter operadores "em permanência 24 horas por dia".

O comandante do CDOS de Braga, Hermenegildo Abreu, garantiu à Agência Lusa que "qualquer chamada" ali recebida "é atendida conforme a sequência de entrada", considerando por isso "muito estranho" que a NAV diga que aquela entidade "não atendeu" uma chamada feita ao fim da tarde de sábado devido à perda de contacto com o helicóptero do INEM.

Para o comandante do CDOS de Vila Real, Álvaro Ribeiro, é também "muito esquisito" que uma chamada de quem quer que seja não tenha sido atendida, porque "a sala de operadores tem sempre dois operadores em permanência, 24 sobre 24 horas".

Aos jornalistas, o comandante distrital do Porto da Proteção Civil, Carlos Alves, disse desconhecer "qualquer atraso nas comunicações" entre bombeiros e aquela entidade.

"Tanto quanto sei, os bombeiros foram os primeiros a chegar ao local", acrescentou o comandante, que afirmou desconhecer "qual a primeira entidade a receber o alerta" sobre a queda do helicóptero e garantindo que o aviso chegou à Proteção Civil "às 20h15", cerca de duas horas após o último contacto da aeronave com a torre de controlo.

Popular terá dado o primeiro alerta

Cerca das 18h45 um popular terá ligado para o 112 a dar conta do acidente. A informação não é confirmada pelo secretário de estado da Proteção Civil, José Artur Neves, que remeteu para futuras investigações.

O governante deixou, no entanto, a certeza que "tudo funcionou como deveria ser: chegou a indicação ao comando de operações do distrito e, de imediato, foram mobilizados os meios para o terreno". "A informação chegou em primeiro lugar ao CDOS e, a partir daí, foram espoletados todos os mecanismos para mobilizar os meios para o terreno".

Helicóptero da Força Aérea levantou duas horas após o alerta

O helicóptero da Força Aérea que fez as buscas da aeronave que caiu em Valongo, descolou do Montijo quase duas horas depois de ter tomado conhecimento do acidente, segundo um comunicado daquela força militar.

Segundo a empresa que gere a navegação aérea, às 19h40 foi avisada a Força Aérea Portuguesa, "que é quem ativa a busca e salvamento". Em comunicado, a Força Aérea confirma este contacto e afirma que entrou em contacto com a Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) "que informou não ser conhecedora de qualquer ocorrência".

São depois relatados outros contactos, nomeadamente para a GNR de Baltar - "que informou não ter conhecimento de qualquer ocorrência", para a GNR de Massarelos, "mas o telefone estava indisponível" e para o Comando Territorial da GNR do Porto que disse "que não haveria conhecimento de qualquer ocorrência".

Mas é através da GNR que o Centro de Busca e Salvamento da Força Aérea fica a saber que um popular, através de um telefonema, tinha relatado "ter ouvido um barulho estranho".

Pelas 20h26, a ANPC informou a Força Aérea que um popular reportou um estrondo entre a Serra de Pias e a Serra de Santa Justa.

É o próprio Centro de Busca e Salvamento que entra em contacto com o popular e este diz que viu passar o helicóptero e que de seguida ouviu um estrondo naquele local.

Às 20h37, refere a mesma nota, foi ativado o Helicóptero EH-101 Merlin em alerta na Base Aérea N.º6 - Montijo e um minuto depois é informada a ANPC de que a Força Aérea vai enviar um EH-101 para a área de operações.

Dois minutos após receber as últimas coordenadas do helicóptero acidentado, pelas 21h25, o EH-101 Merlin descolou do Montijo em direção à zona de operações. Porém, devido às condições meteorológicas muito adversas na zona de Valongo, o helicóptero da Força Aérea acabou por se dirigir para o aeroporto Francisco Sá Carneiro (Porto), onde ficou a aguardar a melhoria do estado do tempo.

Perante as várias informações contraditórias, o ministro da Administração Interna determinou à Proteção Civil a abertura de um “inquérito técnico urgente” ao funcionamento dos mecanismos de reporte da ocorrência e de lançamento de alertas relativamente ao acidente com o helicóptero do INEM.

A queda de um helicóptero do INEM, ao final da tarde de sábado, no concelho de Valongo, distrito do Porto, causou a morte aos quatro ocupantes. A bordo do aparelho seguiam dois pilotos e uma equipa médica, composta por médico e enfermeira.

Este é o acidente aéreo mais grave ocorrido este ano em Portugal, elevando para seis o número de vítimas mortais em acidentes com aeronaves desde janeiro.


[Notícia atualizada às 6h30 de 17/12/2018]

Comentários
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  • otário
    17 dez, 2018 Coimbra 08:11
    Num jogo de futebol quando a equipa não joga lá está o treinador para levar com as marradas. Neste caso ainda vou ver o piloto a ser julgado, condenado, enra""" Bado e entregue ao estado para ainda ser enforcado. Cá este velho caduco entende ser demais as instituições envolvidas nesta questão de socorro é muito rambo a mandar e que de saber mandar nem neles sabem. Não gosto da fanfarronice de Martha Soares mas de bombeiros e proteção civil deixem o homem trabalhar. São muitos organismos envolvidos para tachos, e até dá arrepios ver tanto rambo em exibição sem nada fazer. Faz-me lembrar quando ia para o trabalho em Coimbra e via um gajo dentro de um buraco de pá nas mãos a tirar terra e mais quatro ou cinco bem vestidos a fumarem e a darem ordens. Agora é só papagaios a mostrar coisa que não são. Agora já há assunto para esquecer a corrupção e as falcatruas dos deputados, etc.
  • FIlipe
    16 dez, 2018 évora 23:36
    Quem chega primeiro ou quem chega em último é irrelevante aquando o tipo de acidente em causa , pois existe logo na partida quatro pontos a considerar sem margem para dúvida : Primeiro : O piloto nunca devia ter voado com as condições atmosféricas adversas existentes . Segundo : A máquina não tem equipamento suficiente para voar com as condições atmosféricas adversas , tendo o piloto que para o fazer voar com solo à vista . Terceiro : O piloto não respeitou a margem de altitude mínima de segurança , nem com as condições atmosféricas adversas sinalizou as luzes vermelhas das antenas . Quarto : O piloto deixou que o equipamento tivesse um nível mínimo de combustível . Concluindo : A culpa do acidente deve-se ao piloto e excessos de confiança .
  • António dos Santos
    16 dez, 2018 Coimbra 20:14
    Um acidente destes, pode acontecer. O que não pode continuar a acontecer, é a total incompetência da ANPC e das comunicações. O Governo que não seja teimoso e dê a decisão a quem sabe e sempre tratou estes problemas, com menos meios e melhor, isto é, os BOMBEIROS. Toda essa escumalha da ANP central e nas câmaras, são uma corja de malandros e inúteis.

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