​Margarida sobreviveu à violência doméstica. Hoje saiu à rua para dizer “basta”

10 fev, 2019 - 19:11 • Maria João Costa

Marcha contra a violência doméstica, em Lisboa. Mais de 300 pessoas desfilaram este domingo estre o Marquês de Pombal e a Assembleia da República, numa iniciativa convocada pelas redes sociais.

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“Conceição, 60 anos, assassinada à facada pelo ex-sogro”; “Chega!”; “Não à violência”; “A violência é a arma dos medíocres” pode ler-se em alguns dos cartazes que encabeçam a marcha silenciosa contra a violência doméstica que este domingo percorreu as ruas de Lisboa, debaixo de chuva.

Homens, mulheres, crianças, mais de 300 pessoas engrossaram a marcha que foi convocada pelas redes sociais.

Alguns dos que caminharam pela capital já sentiram na pele a violência doméstica. É o caso de Margarida, de 43 anos. A voz treme quando fala sobre o que lhe aconteceu. “Ele era uma pessoa que batia e sabia como fazê-lo sem que o efeito se visse e houvesse provas”, lembra esta mulher que teve de abandonar a casa a meio da noite, com os dois filhos.

Para esta vítima de violência doméstica, os “agressores precisam de ser tratados e devem ficar num espaço em que possam receber esse tratamento”.

Entre os portugueses que responderam à convocação desta marcha, há quem fale em “doença social” quando se refere à violência doméstica. João Cândido de Sousa, é um dos que quis estar presente nesta concentração. Nas suas palavras “a violência doméstica é um indicador do mau estar da sociedade e é preciso tomar atitudes”.

Para pedir uma mudança, este grupo que marchou de forma ordeira pelas ruas de Lisboa, com o acompanhamento da polícia, foi até à Assembleia da República. Num domingo em que as portas do Parlamento estão fechadas, vale a intenção, explica Joana Marques, que promoveu esta ação.

Em declarações à Renascença, esta jovem fala do compromisso e respeito para com “as vidas humanas” vítimas de violência doméstica. “Uma sociedade violenta, é uma sociedade doente”, refere Joana Marques que considera esta marcha “um puro exercício de cidadania por uma causa”.

Muitos dos que estiveram lado a lado neste desfile não se conheciam. Nem todos sabiam na pele o que era a violência doméstica, como a Margarida. Ela lamenta que o homem que a agrediu “possa estar a fazer o mesmo, mas a outra pessoa”.

“São pessoas comuns como as que vemos na televisão e que dizemos: ‘era uma pessoa muito agradável e simpática’, nunca pensamos que ia fazer isso, até ao dia”, diz Margarida.

Perante os casos que têm sido notícia desde o início do ano, em que já morreram nove pessoas às mãos da violência doméstica, esta vítima diz que sente que, “felizmente”, conseguiu “sair e sobreviver”, mas refere que esteve “muito próximo de não o conseguir”.

Nesta marcha, cheia de balões pretos em memória daqueles que já morreram, Margarida fala “numa rede muito difícil” e considera ser “necessário um apoio e grande capacidade de a sociedade ajudar”. Esta mulher considera que as “vítimas não devem ser escondidas”, “o agressor tem de perceber que de facto há consequências”.

A violência doméstica não é uma questão de pobreza, sublinha Margarida, que explica que “quem tem dinheiro, tem a vida completamente facilitada porque normalmente as vítimas não têm muito dinheiro e estão mais fragilizadas”.

Margarida diz que hoje olha para trás e pensa “como foi possível eu sujeitar-me aquilo?”, ela que reconhece agora que entrou numa rede de manipulação.”

Nas ruas a esta marcha silenciosa debaixo de chuva, juntaram-se também alguns elementos políticos e figuras públicas. Além de membros dos partidos como o Bloco de Esquerda, PAN e PS estavam também Francisco Moita Flores e a artista plástica Fernanda Fragateiro.

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