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"Entre os três grandes, sou do clube da minha terra". Tirsense "à moda antiga" leva sete mil pessoas ao estádio

21 jan, 2019 - 18:32 • Eduardo Soares da Silva

O Tirsense lançou o desafio e Santo Tirso respondeu afirmativamente. O dérbi frente ao Lousada, a contar para o quarto escalão do futebol português, recebeu mais de sete mil espectadores nas bancadas do Estádio Abel Alves de Figueiredo, um número apenas superado por dois jogos da I Liga na última jornada.

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Numa altura em que o futebol profissional tem cada vez menos espectadores nos estádios em Portugal, há um clube nos campeonatos distritais que veio provar o contrário. A partida entre o Tirsense e o Lousada, a contar para a Divisão de Elite da AF Porto, recebeu um total histórico de 7.329 espectadores.

A iniciativa foi do clube de Santo Tirso, que em parceria com uma loja de roupa desportiva desafiou os adeptos a virem apoiar a equipa e, nesse sentido, ofereceu cinco mil bilhetes duplos para a partida, com o objetivo definido e ambicioso de receber dez mil pessoas no “velhinho” Estádio Abel Alves de Figueiredo.

Na jornada 18 da I Liga, disputada no último fim-de-semana, apenas duas partidas conseguiram ter mais espectadores, o Sporting-Moreirense e o Vitória de Guimarães-Benfica. Nem a receção do Chaves ao campeão nacional FC Porto se aproximou do Tirsense-Lousada.

Em declarações à Renascença, Fernando Matos, presidente do clube, diz que o “timing” para a iniciativa foi perfeito. “A ideia já era antiga, porque temos colocado sempre cerca de três mil pessoas no estádio. Com a disponibilidade da parceria com o Bazar Desportivo, desenvolvemos o projeto nos últimos 15 dias."

Famalicão e Guimarães como exemplos

Apesar de não ter alcançado os 10 mil desejados, Fernando Matos faz um “balanço positivo” da iniciativa. O presidente do Tirsense faz o apelo aos adeptos de futebol em Portugal para apoiarem o clube local, inspirado em clubes como o Vitória de Guimarães e Famalicão.

“Tenho uma costela de um clube grande, como todos temos, mas que tem passado. Dos três grandes, sou do clube da minha terra e é preciso passar esta mensagem, não podemos estar agarrados aos três grandes, porque depois os clubes mais pequenos já sofrem as consequências.”

“Agora não queremos deixar cair. A onda está criada, aprendemos com clubes como o Vitória de Guimarães e o Famalicão, e queremos continuar a elevar a fasquia”, adicionou.

Nos anos 90, o Tirsense recebia no Abel Alves de Figueiredo clubes como FC Porto, Benfica e Sporting, período em que o clube jesuíta recebia molduras humanas semelhantes. “Recordo-me ver o estádio com este número de pessoas, mas precisava de puxar atrás a fita uns 20 anos”, recorda o presidente.

O Tirsense é um clube histórico do futebol nacional, e conta com oito participações no principal escalão do futebol português. Nos livros da história, a última presença do clube na I Liga foi na temporada 1995/96.

Sete mil pessoas na Divisão de Elite? "Histórico"

Tonau, treinador da equipa jesuíta, parabenizou a direção do clube pela iniciativa e recordou a conversa com o presidente do Tirsense. “Tenho de deixar uma palavra de agradecimento para a direção, que fez um trabalho incrível. Colocar sete mil pessoas na Divisão de Elite é histórico. O que aconteceu aqui no domingo foi história. Há sempre muita gente que critica, mas fazer o que é difícil é muito complicado, e tive a oportunidade de agradecer ao presidente do clube”.

"Não é todos os dias que se encontram sete mil pessoas neste campeonato. Quase todos os jogadores nunca tiveram esta moldura humana a ver os seus jogos e isso motiva-os e fá-los crescer”, adicionou, em declarações à Renascença.

Apesar da “semana normal de trabalho”, o técnico de 51 anos admite que houve uma “preocupação imensa em retirar pressão” aos jogadores, “sempre cientes da responsabilidade”. A multidão regressou ao Abel Alves de Figueiredo, e o Tirsense correspondeu com uma vitória por 1-0 no dérbi. “A equipa esteve à altura, foi um jogo fantástico. A vitória aconteceu com naturalidade e apenas pecou por escassez”.

“Foi um momento bonito, envolver a cidade e rever o Tirsense do passado. Só existiam estes números de espectadores quando o clube recebia os grandes quando jogava na I Liga”, recordou Tonau. Veja o golo que deu os três pontos:


“Os sete mil querem o Tirsense noutra divisão”

O técnico, que já passou pela II Liga ao serviço do Fafe, em 2016/17, quer levar o emblema de Santo Tirso até ao Campeonato de Portugal, “para o clube sonhar ainda mais alto”. “Aceitei o desafio de descer dois degraus e tentar colocar o clube onde merece. Vamos pensando jogo a jogo para que no final da época estejamos a celebrar a subida. É o mínimo que se exige a um clube destes”.

Apesar do entusiasmo de Tonau, o presidente prefere refrear as expectativas. “Com as responsabilidades que tenho no clube, a subida tem de estar sempre em cima da mesa, mas só no final podemos fazer as contas. É muito complicado, e só conta se no final estivermos em cima. Mas nota-se que os sete mil que vieram ao estádio querem o Tirsense noutra divisão”.

Tonau acredita que o feito do Tirsense envia uma “mensagem aos clubes profissionais, à Liga de Clubes e, principalmente, à Federação”, a quem deixa fortes críticas. Em comparação, a cerca de dez quilómetros de distância, o Desportivo das Aves recebeu o Vitória de Setúbal, a contar para o principal escalão do futebol português, com apenas 1617 pessoas nas bancadas.

“Acabaram com a terceira divisão nacional, o que foi gravíssimo porque destruíram os quadros competitivos. É óbvio que depois houve este afastamento entre as equipas e os seus adeptos. Deve-se olhar mais para baixo. A Liga entrou num meio que não quer saber de nada, só dinheiro e alto rendimento e deveria olhar com outros olhos para estas realidades”.

O repto dos 10 mil “jesuítas” no Abel Alves de Figueiredo não foi cumprido, mas a festa foi feita na mesma, nas bancadas e em campo. Depois de várias temporadas nos escalões profissionais, o “grandioso, esquecido e adormecido” Tirsense vai continuar com um único objetivo: lutar para regressar aos grandes palcos nacionais, habitat natural do clube.

Foto: Tirsense
Foto: Tirsense
Foto: Tirsense
Foto: Tirsense
Foto: Tirsense
Foto: Tirsense
Foto: Município de Santo Tirso
Foto: Município de Santo Tirso

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