15 dez, 2018 - 09:10 • Teresa Paula Costa
Sabia que o rosário ou terço é um contador de orações? À semelhança de outras religiões e filosofias orientais, os católicos também utilizam um cordão de contas para contar as orações.
São 53 Ave-Marias, cinco Pai Nossos, cinco Glórias, cinco invocações a Jesus e cinco invocações a Maria Imaculada de Jesus que se rezam com a ajuda deste cordão ou fio de contas, feitas de diversos materiais, que na ponta termina com o crucifixo.
O termo “terço” ou rosário também designa a própria oração que pode ser rezada internamente, em sussurro, ou em voz alta. Neste fim de semana, o Santuário de Fátima dá início a uma série de ações de aprofundamento sobre o Rosário. Pode encontrar mais informação no site do Santuário.
Entrevistados pela Renascença, o vigário-geral da diocese de Leiria-Fátima, o padre Jorge Guarda, fala da história do uso deste objeto e da evolução que esta oração teve ao longo da história, e a irmã Sandra Bartolomeu, da Congregação Servas de Nossa Senhora, explica como se reza e o efeito desta oração no praticante.
DO ROSÁRIO AO TERÇO
O rosário como contador de orações
Não se sabe ao certo quando surgiu o hábito de utilizar um cordão de contas para contar as orações. Com o passar dos séculos, devido ao aumento da prática da entoação repetitiva de orações curtas, e para não perderem o número de repetições, as pessoas costumavam usar objetos como, pequenas pedras, ossos, grãos, ou simplesmente, os dedos das mãos. No século XII, nos mosteiros, um cordão com nós era já utilizado para contar os 150 salmos bíblicos, o Saltério dos Leigos, que os monges letrados rezavam diariamente, e os 150 Pai-Nossos que os confrades leigos, que mal ou nada sabiam ler, eram instruídos a rezarem.
O rosário como oração
No início, segundo o vigário-geral da diocese de Leiria-Fátima, com a ajuda de pequenos objetos, contavam-se as Saudações evangélicas que invocavam as palavras do Anjo a anunciar a gravidez a Maria, a que se veio juntar, mais tarde, a saudação de Isabel a Maria.
A oração esteve, por isso, refere Ana Paula Pinto, professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais e da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, na Revista Fátima XXI, “primitivamente associada a um conjunto de formas populares de devoção”.
No século XII, revela o padre Jorge Guarda, os Pai-Nossos são substituídos pela primeira parte das Ave-Marias, surgindo o Saltério mariano. Um século depois, numa aparição a S. Domingos de Gusmão, a Virgem Maria designa o Rosário como “uma arma poderosa para a conversão”, dando-lhe o nome de Saltério Angélico. Com o aparecimento da segunda parte da Ave-Maria, no século XV, o monge cartuxo Henrique Kalkar tem a ideia de subdividir as 150 Ave-Marias em 15 dezenas, intercaladas por um Pai-nosso. Ainda no mesmo século, o frade dominicano Alain de La Roche denomina esta oração de “Rosário da Bem-aventurada Virgem Maria”.
Foi ainda este frade que sugeriu a meditação nos episódios da vida de Cristo, os chamados Mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos, e dividiu a oração em três partes – o Terço – provavelmente, avança o sacerdote, para “tornar a oração mais acessível a todos”. Por ter ficado resumida a um terço do original, a oração é ainda hoje designada por Terço, ainda que, nalguns círculos, se prefira utilizar o termo Rosário. Em 2002, o Papa João Paulo II introduziu os “Mistérios luminosos”.
Rápida expansão
Com a criação das confrarias de Nossa Senhora do Rosário, em meados do século XV, dá-se uma grande expansão desta oração entre o povo, propondo-se a sua reza diária. A partir do século XVI, as recomendações dos Papas e as aparições marianas em Lourdes (1858) e em Fátima (1917) dão ainda mais um incremento a esta oração.
Porque se chamava Rosário
O nome Rosário significa metaforicamente um ramo ou coroa de rosas, que são as orações oferecidas à Virgem Maria. Na Idade Média, explica o padre Jorge Guarda, os vassalos tinham o costume de oferecer coroas de flores aos seus soberanos, em sinal de submissão. Os cristãos adotaram este uso em honra de Maria, oferecendo-lhe a tríplice “coroa de rosas”, que lembra a sua alegria, as suas dores e a sua glória pelo facto de participar nos mistérios da vida do seu filho.
Os Mistérios
São episódios da vida de Maria e Jesus que são invocados durante a recitação, para que os praticantes meditem neles. Segundo a irmã Sandra Bartolomeu, “meditamos nas entrelinhas, no seu significado, no como e na importância que aqueles acontecimentos podem ter para a nossa vida, neste momento.”
Mistérios gozosos
São os acontecimentos que refletem a alegria cristã, como a anunciação do Anjo a Maria, a visita de Maria à sua prima Isabel, o nascimento de Jesus e a sua apresentação no templo, bem como a perda e o encontro de Jesus no templo entre os doutores.
Mistérios luminosos
São os acontecimentos da vida pública de Jesus que refletem a Luz que Ele veio trazer ao mundo. Começam na infância de Jesus e vão até ao início da Sua paixão. São exemplo, o batismo de Jesus, as bodas de Canã, Jesus que anuncia o reino e chama à conversão, a transfiguração de Jesus e a instituição da eucaristia na última ceia.
Mistérios dolorosos
São os acontecimentos que refletem o sofrimento e a Paixão de Jesus, como a agonia no horto, a flagelação de Jesus, a coroação de espinhos, Jesus carrega a cruz até ao calvário e a crucifixão e morte.
Mistérios gloriosos
Referem-se à ressurreição e ascensão de Jesus aos céus, a descida do espírito santo, a assunção de Nossa Senhora e a sua coroação.
Terço ou concerto de rock?
A recitação do terço proporciona o “encontro” do cristão com Jesus, mas como propor a oração do terço a um jovem? A irmã Sandra Bartolomeu admite que, para um jovem, “rezar o terço, repetir 50 Ave-Marias, não é tão estimulante como ir ver um concerto de rock”. Contudo, “a oração do rosário, se feita autenticamente, deixa em nós um gosto e um gozo de plenitude muito diferente e mais duradouro do que um concerto de rock”.
Mas tem de se experimentar. Tudo tem a ver com “a qualidade do encontro.” E quando o encontro marca, o jovem diz, como Francisco dizia a Nossa Senhora: “Terços? Terços rezo quantos a Senhora quiser!” Um encontro interno que toda a alma procura, mesmo que a pessoa não tenha consciência dele por estar tão absorvida na vida material.
Mas este “anseio do espírito por Deus”, salienta Sandra Bartolomeu, “vive e grita em nós.” E ele só se satisfaz quando o “encontro” acontecer. Por isso, a irmã deixa o desafio: “Arrisquem! Why not? Experimentem rezar esta oração tão simples e aparentemente tão repetitiva, mas que vai tecendo a união misteriosa com Deus por Maria. Experimentem!”