Entrevista Renascença

Tiago Dantas, entre Munique e Tondela à procura de afirmação no Benfica

11 mar, 2022 - 06:11 • Eduardo Soares da Silva

A promessa do Benfica está em afirmação na I Liga ao serviço do Tondela e espera conquistar espaço na equipa principal das águias na próxima temporada, três anos depois da estreia. Com os beirões às portas do Jamor, o sonho de Dantas é voltar à Luz com a Taça de Portugal no currículo.

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Tiago Dantas, entre Munique e Tondela à procura de afirmação no Benfica
Tiago Dantas, entre Munique e Tondela à procura de afirmação no Benfica

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Tiago Dantas quer mostrar no Tondela que tem espaço na equipa principal do Benfica na próxima época. O jovem médio de 21 anos está emprestado aos beirões, passagem temporária e importante para chegar ao sonho de se afirmar de águia ao peito.

Em entrevista a Bola Branca, o médio criativo acredita que o empréstimo ao Tondela, com utilização regular, foi o passo certo na carreira, depois de um ano no Bayern de Munique com poucos minutos.

Desde a estreia na equipa principal do Benfica, num jogo da Taça da Liga em 2019 com Bruno Lage, as portas da equipa principal não voltaram a abrir-se para Tiago Dantas, que acredita que ainda está a tempo de corresponder às expectativas criadas em torno de si desde muito cedo.

Dantas soma três golos em 24 jogos disputados e é parte fundamental da caminhada história da equipa beirã na Taça da Portugal. O Tondela está muito perto de chegar à primeira final da sua história.

Na época passada, o médio esteve no Bayern de Munique, numa transferência inesperada no último dia do mercado de transferências de verão. Hansi Flick, hoje selecionador alemão, foi um dos principais responsáveis pela contratação de Tiago Dantas, que voltou a Portugal como campeão alemão e do Mundo de clubes.

No próximo domingo, Tiago Dantas volta aos grandes palcos. O Tondela vai jogar ao terreno do FC Porto, um jogo que deve ser encarado "para ganhar" contra uma equipa "muito boa". A equipa de Pako Ayestarán está em lugar de "play-off" de manutenção e precisa de pontos para respirar melhor na tabela classificativa.

O internacional sub-21 convive de perto com Vitinha, jogador "parecido" a Dantas e que acredita que chegará à seleção principal em breve.

Que balanço faz da passagem pelo Tondela até agora na sua estreia na I Liga?

Está a ser positivo, encarei este desafio com muita vontade. Ainda não tinha jogado na I Liga, foi-me proposto e aceitei com muito agrado. Em alguns momentos não jogo tanto, vou intercalando entre jogar e não jogar e acho que é importante para mim ter tempo de jogo a um nível elevado. Está a ser muito positivo.

O treinador Pako Ayestarán roda muito a equipa, há pouco a noção de um 11 base e de titulares indiscutíveis. Ainda assim, tem jogado bastante. Que acha da rotação que o treinador faz?

Se o faz é porque acha que todos são capazes de dar uma boa resposta e temos visto isso. Temos um plantel equilibrado, há sempre jogadores que jogam mais minutos.

É normal, cabe-nos mostrar que queremos jogar e depois ele toma as suas decisões.

O Tiago é um médio muito técnico. O que lhe pede o treinador e como é que o adapta à equipa?

O treinador pede-me para estar perto da bola e da saída na construção. Sou forte nisso e tenho melhorado, tento estar sempre perto do jogo.

Tenho melhorado a minha chegada à área, já fiz três golos e esta semana tive mais uma oportunidade para fazer. Tem sido algo a melhorar.

Todos os golos que fez foram na Taça. Tem sido um elemento preponderante nesta caminhada histórica...

Ninguém esperava que fossemos tão longe na Taça. Já que estamos aqui, porque não pensar mais além e em algo inédito? Estamos a trabalhar para isso. Agora temos de pensar no campeonato, falta muito tempo para a segunda mão contra o Mafra (20 de abril).

Não começamos da melhor maneira na Taça, fomos a prolongamento com o Camacha, mas felizmente ganhámos. A partir daí tem sido bastante positivo, com o Leixões e com o Estoril, que tem feito um campeonato bastante bom. Agora é dar continuidade e chegar à final.

Com o Tiago como protagonista até agora.

Sim, fiz os três golos, tenho-me sentido bastante bem, mas não é por ser Taça, é mais um jogo como no campeonato. É assim que tento encarar os jogos.

Seria uma boa experiência e um momento importante da carreira chegar à final ainda tão jovem?

Claro que sim, todos os jogadores sonham ganhar a Taça de Portugal. Temos de passar o Mafra, fechar a eliminatória, porque ainda não está feito.

Já vimos muitas reviravoltas, até por mais de 3-0. Temos de fazer o trabalho e chegar à final. Se queremos ganhar, temos de jogar contra os melhores. É o Porto ou o Sporting, teremos de jogar contra um deles.

No campeonato, o cenário não está tão positivo. Estão no lugar de “play-off” de manutenção. Como está o ambiente no balneário, ainda com certeza de que vão sair desse lugar?

Acho que está muito claro para todos que não é a posição em que queremos estar. Temos de ver os erros que estamos a cometer, as coisas boas também.

Não é só por estarmos no lugar de “play-off” que não vamos ver o que temos feito de bom. Nos últimos jogos temos criado mais situações de golo, isso é importante.

Temos de ter confiança no nosso trabalho, precisamos de ganhar jogos.

Como está a ser a adaptação ao futebol da I Liga? Já mostrou que está adaptado à qualidade do campeonato?

Quando os jogadores têm qualidade adaptam-se rapidamente. O nível da I Liga é elevado, mas não é assim tão distante da II Liga.

Fiz bastantes jogos no Benfica B, estava habituado. Vim para aqui depois de um ano difícil em que não joguei quase nada, tive o meu período de adaptação, mas já estou mais do que preparado.

Quais as diferenças entre o Tiago Dantas que jogava na equipa B do Benfica há dois anos e este?

Acho que é a questão de estar perto da bola e da construção. Tentamos sair a jogar aqui, tal como na equipa B. Estou bastante melhor a pisar terrenos mais à frente para poder fazer golos e assistências.

Defensivamente tenho de melhorar ainda e acrescentar coisas ao meu jogo. Tenho de olhar para os médios que hoje o estão a fazer, adquirir o que eles fazem para o meu jogo e, com isso, melhorar e ajudar a equipa.

Vem aí o Porto, que jogou com o Lyon na quinta-feira, com cansaço acrescido. É um jogo com menos responsabilidade para o Tondela?

Não é por termos menos responsabilidade que devemos abordar o jogo de outra maneira. Temos de ir com o pensamento de jogar para vencer. É assim que temos de entrar.

O Porto é muito forte, está a fazer um campeonato muito bom. É certo que perderam na Liga Europa, mas não jogaram contra um adversário qualquer. Temos de entrar para vencer.

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"Vitinha vai chegar à seleção mais cedo ou mais tarde"

O Sérgio Conceição tem destacado muito o plano físico e o Porto não fez poupanças com o Lyon. O que quer dizer isto em relação ao jogo com o Tondela, pode haver alguma desvalorização da dificuldade do jogo de domingo?

Na minha opinião, o Porto tem um plantel alargado e forte. O cansaço está acumulado, é possível que façam algumas alterações, mas mesmo com mudanças têm jogadores com muita qualidade.

Tenho alguns colegas meus dos sub-21 que podem entrar no 11 inicial. Não têm jogado tanto e têm muita qualidade.

Por falar nisso, é colega de equipa na seleção do Vitinha, na mesma posição. É uma das revelações do campeonato. Acha que pode chegar à seleção A já na próxima convocatória?

Quando lhe falava de observar outros jogadores referia-me ao Vítor [Vitinha]. Acho que somos parecidos. Está num nível muito, muito bom. Vai chegar à seleção principal, mais cedo ou mais tarde.

O Tondela tem o Ricardo Alves e o Salvador Agra de fora por castigo. Baixas importantes?

O Salvador tem sido dos jogadores com mais minutos, é importante. O Ricardo dá-nos segurança a nível defensivo. Quem entrar vai dar conta do recado.


Voltando atrás, pode recordar o momento em que decide vir para o Tondela no verão?

Estava de férias, faltavam uns cinco dias para me apresentar no Seixal. O meu agente ligou-me, conversámos sobre as possibilidades, tínhamos várias.

A proposta do Tondela aliciou-me. Falei com o Rúben Fonseca, que esteve comigo no Benfica e ele falou-me muito bem do clube.

Decidi aceitar uns dias depois. Foi tudo muito rápido, cheguei aqui pouco depois de terem começado a pré-época.

A ideia era ficar na I Liga e jogar muito, depois de ter feito poucos minutos no Bayern de Munique?

Existiam vários cenários. Um deles era este, ficar em Portugal e ter minutos, mas havia cenários no estrangeiro.

A minha escolha foi jogar regularmente, mostrar-me. Acho que foi a melhor opção.

Como foi a transição de estar no Bayern de Munique, um dos maiores clubes com mundo, com todas as condições, para o Tondela?

Temos de saber subir, mas é mais importante saber descer. Ao vir para o Tondela, vi como uma oportunidade para me mostrar e me valorizar.

É incomparável em termos de estrutura, mas temos de saber reconhecer o que precisamos e para onde queremos ir. Foi o passo mais acertado.

Esperava ficar no Benfica na pré-época ou já tinha a indicação de que o futuro imediato não seria na equipa principal?

Não sabia que não me iria apresentar na primeira equipa. Quando soube, foi muito claro que não faria muito sentido continuar na equipa B.

Tem sido acompanhado? Algum contacto com elementos do Benfica?

Sim, sou contactado de vez em quando, perguntam como está a correr, como me sinto.

Quando vieram aqui jogar falei rapidamente com o presidente Rui Costa e com os meus colegas. Têm-me acompanhado.

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Do Bayern de Munique para o Tondela. "É mais importante saber descer do que subir"

Com Nélson Veríssimo, voltaram a aumentar os minutos de jogadores da formação. Paulo Bernardo já jogou mais, o Gonçalo Ramos tem sido titular. É esse o caminho que quer fazer no próximo ano?

O meu objetivo é voltar ao Benfica e afirmar-me na primeira equipa. Com a troca de treinador, o Gonçalo Ramos tem tido um papel muito importante, tem estado em muito bom nível e gosto de vê-lo jogar.

O Paulo Bernardo tem deixado de jogar, mas tem estado bem. Há outros casos, como o Morato, que também dá conta do recado.

Está fora de questão voltar e jogar na equipa B novamente?

Nunca podemos dizer que está fora de questão. No futebol podem acontecer muitas coisas que não controlamos, mas os meus objetivos estão bem claros, sei bem o que quero.

O Tiago Dantas fez um jogo na equipa principal, em 2019/20, ainda com o Bruno Lage como treinador, num jogo da Taça da Liga com o Vitória de Setúbal. Foi um momento marcante?

Foi muito especial para mim e para a minha família. Queria desde miúdo, desde que cheguei ao Benfica. Vai ser um dia que nunca mais vou esquecer.

Depois desse momento, esperava ser integrado na equipa principal e começar a ter uma sequência de jogos? Na temporada seguinte entrou Jorge Jesus, que não aposta tanto na formação, e o Tiago saiu.

No início dessa época em que me estreei fiz a pré-época com a equipa principal nos Estados Unidos.

Fiz os jogos de treino lá, mas não joguei na competição que fizemos. Joguei com o Anderlecht na apresentação aos sócios, mas percebi que não iria ter espaço na equipa. Era o meu primeiro ano de sénior, fui para a equipa B.

Quando me disseram para não me apresentar na equipa principal na época seguinte, achei que era o momento de dar outro rumo, ter outra oportunidade com o Bayern de Munique.

A transferência para o Bayern aconteceu no último dia de mercado. Recorde-me esses dias.

Sabia que havia interesse da parte do Hansi Flick, a quem estou muito agradecido por tudo o que fez por mim. Surgiu uns dias antes do fecho do mercado, estava nervoso e irrequieto.

Era a primeira vez que se sucedia comigo algo deste género. Eram quase 11 horas da noite quando soube que a proposta tinha sido enviada. O Benfica aceitou e segui para a Alemanha no dia seguinte.

Como é que o Hansi Flick queria tanto o Tiago Dantas?

Ele já me tinha visto em torneios internacionais pelas seleções jovens e pelo Benfica. Tinha boas referências, quis-me com ele e eu fiquei muito grato por isso.

Algum jogador do Bayern de Munique que o tenha marcado em especial?

Pela relação, os jogadores mais novos, como o Alphonso Davies e o Musiala. Os mais velhos acolheram-me muito bem. Dei por mim a trocar mensagens com o Kimmich e o Muller, algo que nunca imaginei.

O jogador que mais me surpreendeu pelo que fazia nos treinos foi o Kimmich, pela liderança que teve. Deu um salto muito grande com o Hansi Flick. Esperava que todos fossem de um nível absurdo e assim foi.

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"Hansi Flick tinha muito interesse, estou-lhe muito agradecido"

Não jogou muito, mas ganhou a Bundesliga e o Campeonato do Mundo de Clubes. Não é um currículo mau para um jovem de 20 anos…

Acho que ninguém recusaria tal currículo com 20 anos. Foi a oportunidade de ter essa experiência, serviu para amadurecer muito, viver sozinho fora de casa e ganhar esses títulos que estão ao alcance de pouca gente.

Tenho as medalhas em casa, é algo muito marcante.

O Bayern de Munique está nos quartos de final da Liga dos Campeões, acha que podem ser campeões europeus novamente?

Têm feito uma época positiva, são das equipas mais fortes na Europa, com o Manchester City e o Liverpool. Penso que tem havido demasiados altos e baixos, alguns jogos não tão bem conseguidos.

Mas a Liga dos Campeões é sempre diferente, ainda no Real Madrid-PSG vimos um jogo frenético e a eliminatória foi virada do avesso em 30 minutos. Tudo pode acontecer.

Tem alguma história diferente a destacar no Bayern?

Quando cheguei, disseram-me que ia ficar no balneário ao lado do Thomas Muller.

É uma coisa de nada, mas significou muito para mim. Vou-me lembrar sempre do balneário e dos jogadores.

Puxando a fita atrás, quando é que começa a jogar futebol?

Comecei aos três anos. Jogava muito à bola em casa. Fui para a escolinha do Simão Sabrosa no Estoril.

O Miguel Soares e o mister Sandro, que tinham ligações ao Benfica, perguntaram ao meu pai se poderia ir lá treinar. Com quatro anos segui para o Benfica, até hoje lá estou.

Que momentos destaca da formação?

O campeonato de sub-15. Marcou-me muito, perdemos o título no último lance do jogo contra o Sporting. O Luís Nascimento era o treinador. Tive muito prazer a jogar nos sub-17 com o Renato Paiva.
Perdemos o título num jogo em casa com o Sporting. Voltei a encontrar o Luís Nascimento nos sub-19, na mesma época que estive na equipa B com o Bruno Lage, com quem gostei muito de trabalhar, apreciava muito o treino dele, é muito competente. Viu-se no Benfica e vê-se no Wolverhampton. Na segunda metade da época voltei aos sub-19, num futebol muito diferente com o Luís Nascimento, mais rendilhado. Perdemos o título também num empate em Braga. Foi uma formação repleta de bons momentos.

Desde cedo que tem o rótulo de uma das grandes promessas do Benfica. Lida bem com isso?

Quando um jogador de 17 ou 18 anos começa a dar nas vistas na equipa B, as pessoas começam a observar. Cria uma expetativa elevada, mas lido com normalidade.

Mais um dia, mais um jogo. Foi assim que lidei com as coisas. Há jogadores que com essa idade já dão nas vistas na equipa A, como o João Félix e o Renato Sanches. Por algum motivo são os jogadores que são, foram Golden Boy. É um nível diferente.

Acha que vai a tempo de chegar à altura do rótulo e das expectativas?

Acho que sim, esta etapa era necessária. Sei o que quero, estou a treinar e a aprimorar o meu jogo.

Tenho plena confiança em mim e nas pessoas que estão comigo. Quero chegar ao alto nível.

Tem sido também opção na seleção sub-21, que tem tido uma caminhada tranquila.

Nem sempre fui chamado às seleções jovens, mesmo jogando sempre no Benfica. Agora nos sub-21 fui chamado logo de início.

Surpreendeu-me um pouco e tenho retirado muito. É um espaço de que gosto bastante, pela forma como jogamos. Gosto muito do treinador, tem ideias muito fixas e temos jogadores com muita capacidade para jogar desta maneira. Tem sido um trajeto perfeito até agora.

Quais os principais sonhos que tem por cumprir enquanto futebolista?

Jogar na equipa principal do Benfica, ganhar uma Liga dos Campeões e, de preferência, que fosse no Benfica, e ganhar o maior número de títulos possível.

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