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Escola de Felgueiras é a pública que mais contribui para o sucesso dos alunos. O segredo? “Somos uma família”

18 fev, 2019 - 07:30 • Hugo Monteiro

Aqui os alunos apresentam alta taxa de sucesso, mesmo que os pais apresentem um nível de escolaridade baixo. Encarregados de educação, alunos e professores convergem numa explicação para o sucesso: a proximidade e a forte ligação entre toda a comunidade escolar.

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Beatriz Marinho Teixeira e Georgina Carvalhais são alunas do 12º ano da Escola Básica e Secundária de Felgueiras. Com médias de 17 e de 18,5 valores, estão prestes a concluir o ensino secundário sem qualquer retenção no percurso escolar.

Um percurso que deixa orgulhosas as respetivas mães que, numa outra época, não chegaram tão longe nos estudos. Numa zona com muita indústria do setor do calçado, Cacilda Ferreira, mãe da Georgina, conta que “era muito difícil estudar. Não havia os apoios que há agora”.

Uma explicação em que é apoiada por Heloísa Marinho, a mãe da Beatriz: “Na altura pensei em ganhar o meu próprio dinheiro e fui trabalhar. Mas agora, quero que a minha filha continue a estudar e tenha um futuro melhor do que o meu”, conta à Renascença.

Estes são dois casos que ilustram a conclusão que é possível retirar do ranking das escolas de 2018. Este estabelecimento de ensino ocupa o 132º lugar na tabela referente às notas dos exames do Secundário.

No entanto, esta escola surge em segundo lugar na lista das que mais contribuíram para o sucesso dos seus alunos, sendo a primeira no caso das públicas. Na Escola Básica e Secundária de Felgueiras, 38,2% dos alunos conseguiram concluir o secundário sem chumbar e tiveram positiva nos dois exames finais de 12º ano, mesmo tendo as mães com o nível de escolaridade mais baixo.

A falta de apoio em casa, quando chega a hora de estudar, é reconhecida tanto por mães como pelas filhas. Heloísa Marinho lamenta que ao olhar “para a maior parte da matéria” não perceba nada, mas sendo a filha “boa aluna”, acaba por conseguir “resolver tudo sozinha”. Beatriz agradece o elogio e explica que, como a mãe “só completou o segundo ciclo”, é natural que não a possa ajudar muito. Por isso, diz: “Tenho de ultrapassar essa dificuldade”.

Georgina intervém e conta que, sabendo que a mãe “não teve oportunidade de estudar e de seguir um curso”, é “ótimo” saber que tem capacidade para o fazer.

Cacilda ouve a filha e acrescenta: “Eu agora não posso ajudar, mas os professores ajudam mesmo muito”.

Este é apontado como um dos grandes segredos do sucesso da Escola Básica e Secundária de Felgueiras. Georgina Carvalhais resume: “Há uma grande união entre professores e alunos. Somos conhecidos pelo nome e podemos ter a ajuda de todos os docentes, mesmo que não sejam professores da respetiva turma. Assim, não precisamos de procurar ajuda fora daqui, em explicações. Somos um família”.

“Temos um relação muito próxima com os professores, o que nos permite tirar todas as dúvidas”, resume, por sua, vez, Beatriz.

União, disponibilidade e organização, numa escola pequena

Apesar do elogio aos professores, a presidente da Associação de Pais também lembra que é importante os encarregados de educação, apesar de terem um nível baixo de escolaridade, serem interessados. “São pais que vêm à escola, sempre que solicitados ou quando há atividades e, nesta medida, também há esta ligação pais-alunos-escola. E eles veem isto como uma família”, diz Zaida Silva que sublinha: “Procura-se a estabilidade do aluno".

“Família” – a palavra é a mais utilizada para descrever o ambiente na escola. Até mesmo o diretor fala num “ensino de proximidade, porque, com a sorte de conseguir manter um corpo docente estável, com poucas alterações, faz com que se consiga criar uma família” dentro do estabelecimento de ensino.

António José Bragança recusa dizer que encontrou “a receita ou a poção mágica” para o sucesso. Mas assume que tem algumas estratégias que o potenciam. “A preocupação na elaboração dos horários” para permitir maior apoio aos alunos e ter professores “motivados”, o que os torna mais dedicados aos alunos e prestáveis para dar apoio “mesmo fora dos horas letivas”.

Estratégias que resultam melhor “numa escola de pequena dimensão”, reconhece António José Bragança, que conta que, num estabelecimento de ensino com sete anos de vida, estudam 508 alunos, 210 dos quais no Ensino Secundário.

Fossem melhores as instalações, e os resultados podiam, também eles, serem ainda mais positivos, conclui o diretor da escola.

Um bom futuro

Dentro de meses, Georgina e Beatriz terminam o 12º ano. A esta distância mantêm-se as dúvidas sobre que curso seguir na universidade. “Ainda estamos em processo de descoberta”, diz Georgina, que acrescenta: “Espero que seja um bom futuro”. “Vai ser um bom futuro!”, acredita Beatriz.

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