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"Liquidez em mínimos históricos". Pereira da Costa traça cenário e perspetivas financeiras da SAD do FC Porto

01 nov, 2024 - 11:50 • Eduardo Soares da Silva

O diretor-financeiro da SAD portista dissecou os resultados da época passada com prejuízo de 21 milhões. Villas-Boas explicou empréstimo de 500 mil euros: "Resposta a uma situação urgente, fi-lo de coração aberto e voltaria a fazer em caso de necessidade".

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José Pedro Pereira da Costa, diretor-financeiro da SAD do FC Porto, confirmou que a liquidez "estava em mínimos históricos" quando a atual direção tomou posse, confirmando a notícia que a antiga administração teria deixado oito mil euros disponíveis.

Em conferência de imprensa, ao lado do presidente André Villas-Boas, Pereira da Costa dissecou o resultado financeiro da temporada 2023/24, que terminou com um prejuízo de 21,063 milhões de euros.

"Este é o ponto de partida para um novo ciclo, que é o mandato desta administração da SAD", começou por dizer o dirigente.

O FC Porto não se apurou para a Liga dos Campeões e é apontado uma perda económica a rondar os 45 milhões de euros, que será atenuado, ainda assim, pela participação no Campeonato do Mundo de Clubes, cujo prémio pelo apuramento "deverá ser abaixo do inicialmente falado dos 50 milhões de euros".

O responsável pela pasta financeira elencou os principais problemas no imediato - e que se manterão ao longo do próximo ano - são com tesouraria, devido à antecipação de muitas verbas para os próximos anos.

"Vão-nos faltar cerca de 140 milhões de euros. São três anos e meio praticamente sem receitas de direitos televisivos em cash, a receita dos lugares anuais também já estava descontada para este ano e o próximo, que tem um impacto de 6 milhões de euros", explica.

Pereira da Costa não entrou em detalhe sobre o valor disponível na SAD do FC Porto quando tomaram posse, mas deu a entender que seriam os oito mil euros noticiados na altura.

"A liquidez no fim de maio estava em mínimos históricos. Não vale a pena por números, porque já foram amplamente difundidos, mas não havia nenhum processo em curso para aceder a liquidez", explicou o diretor-financeiro.

O acordo para a exploração das operações do Estádio do Dragão com a Ithaka, assinado ainda pela direção de Pinto da Costa, foi renegociado: "Esta atividade pode ser um motor de crescimento e tem um impacto positivo".

"Conseguimos melhorar substancialmente o acordo, passou de 65 para 100 milhões de valor total, e o valor a encaixar no imediato, em outubro, passou de 40 para 50 milhões de euros. São mais 10 milhões em tesouraria no imediato. E ainda introduzimos a opção do FC Porto recomprar os direitos em dois momentos no tempo: a 10 e 15 anos da parceria", detalhou.

Ainda assim, as dívidas a cumprir a curto-prazo são muitas, sendo que a grande maioria de caráter obrigatório para evitar o afastamento das provas europeias.

"Até ao fim de maio, tínhamos pagamentos de 12 milhões de euros, entre salários, impostos, etc. Até ao fim de junho, havia um controlo da UEFA e se não fossem realizados certos pagamentos, seríamos desqualificados. Era preciso pagar 16 milhões de euros a clubes até ao fim de junho", revela.

Nos próximos 12 meses, Pereira da Costa diz que o FC Porto tem a pagar um montante acima dos 90 milhões de euros, mas terá apenas sete milhões a receber: "Fomos vendendo jogadores no passado, mas os valores foram totalmente descontados e isto reflete-se no passivo".

Nesse sentido, André Villas-Boas confirmou o empréstimo que fez de 500 mil euros e explicou-o: "Foi uma resposta a uma situação urgente, implicava uma resposta imediatada e disponibilizei-me como associado para responder a uma crise. Fi-lo de coração aberto, portista que sou, e voltaria a fazer em caso de necessidade".

O que está a ser feito?

Numa segunda fase da apresentação, Pereira da Costa detalhou o que já foi feito pela atual administração para tentar dar resposta: "Um pilar crítico é garantir liquidez a curto-prazo, o outro é a sustentabilidade a longo-prazo com o reequilíbrio económico".

Foi lançado um "programa de papel comercial que levantou 12 milhões de euros, foram essencialmente investidores que acreditaram no FC Porto, amigos do FC Porto. Sócios e adeptos que nos apoiaram nesta fase difícil".

Foram lançadas iniciativas comerciais sem custo associado, como campanhas de sócios para aumentar a venda de lugares anuais e tentar esgotar o Estádio do Dragão ao máximo.

Pereira da Costa confirma também que o FC Porto atingiu números históricos na venda de lugares anuais: "Passamos de 22,7 mil para 27,6 mil lugares vendidos, é um recorde desde a inauguração do estádio".

"Passamos também de 125 para acima dos 140 mil sócios, que é receita do clube e não da SAD, mas também aqui se vê a mobilização dos adeptos nos últimos meses. E tivemos seis jogos em sete com lotação esgotada, nenhum deles um clássico", explicou.

Em termos mais estruturais, Pereira da Costa explicou que foi feito uma "contenção de custos, nomeadamente a nível de salários na equipa principal, funcionário e administração da SAD" com um impacto de 6 milhões de euros. "Ajudou a equilibrar as contas para este ano", afirmou.

A transferência de jogadores ajudou também a equilibrar o barco: "Foi a nossa primeira janela e foi muito positiva. Temos receitas fixas de 60 milhões, mais 20 variáveis, uma boa parte deles de relativa fácil concretização e as compras foram bem abaixo disso".

Tudo isto "permitiu cumprir o controlo da UEFA de 30 de junho e de 30 de setembro" e há um balanço muito positivo do trabalho feito até ao momento: "Estamos muito satisfeitos".

Saídas em janeiro não estão planeadas

O presidente André Villas-Boas garantiu que não está a ponderar transferir qualque jogador no mercado de janeiro para equilibrar as contas.

Caso exista interesse em algum jogador, será remetida a cláusula de rescisão que, "em termos práticos, nunca existem sem um acordo entre os clubes".

"Não está perspetivado, estamos relativamente tranquilos que o plantel que construídos lute para ser campeão nacional e qualificar-se para a Liga dos Campeões. Não estamos à espera de nenhuma ataque a jogadores nossos, mas se assim for, remetemos para as cláusulas, que em termos práticos nunca existem sem acordo entre clubes pelos prazos a estabelecer pelos pagamentos. Foi a equipa que construimos e estamos confiantes que assim se manterá", conclui.

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