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Ludwig Guttman não se conformou com o tratamento aos veteranos de guerra. E assim surgiram os Jogos Paralímpicos

28 ago, 2024 - 11:06 • Eduardo Soares da Silva

Um médico alemão exilado da Alemanha Nazi recorreu a desporto para mudar o tratamento aos paralisados. 80 anos depois, o legado ainda prossegue nos Jogos Paralímpicos.

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Tudo começou num centro médico. Em 1944, Ludwig Guttman, um médico judeu refugiado da Alemanha nazi, foi integrado num centro de recuperação física em Stoke Mandeville para veteranos lesionados da II Guerra Mundial. Foi nessa ala que nasceram os Jogos Paralímpicos.

Guttman tinha uma abordagem diferente ao tratamento dos doentes e não concordava com os métodos vigentes. Jovens paralisados recebiam diagnósticos terminais e ficavam encamados permanentemente. Por esse motivo, cerca de 80 por cento dos pacientes morriam num espaço de três anos.

O objetivo do alemão não era apenas dar conforto aos doentes, mas procurar a recuperação. Nesse sentido, incentivava que saíssem das camas e participassem em atividades lúdicas e desportivas de forma a melhorar a condição física, aumentar a autoestima e a recuperar a dignidade pessoal de cada um.

Quatro anos depois, em 1948, no mesmo dia do arranque dos Jogos Olímpicos de Londres, realizou-se a primeira competição de arco com flecha com 16 veteranos. Foram os primeiros paralímpicos da história.

"Estes jogos são muito importantes para eles, tanto do ponto de vista físico como psicológico. Mas o mais importante é a reintegração social", disse Ludwig Guttman numa entrevista durante um dos eventos.

O evento repetiu-se anualmente e foi-se tornando progressivamente maior e melhor. Em 1952, o torneio internacionalizou-se com a participação de uma delegação neerlandesa.

Em 1960, organizaram-se os primeiros Jogos Paralímpicos na conceção que hoje temos do evento. Em Roma, a prova realizou-se logo após a conclusão dos Jogos Olímpicos. Participaram 400 atletas de 23 países em oito desportos diferentes.

Até aos dias de hoje, o evento ainda realiza-se anualmente, à exceção do ano dos Jogos Paralímpicos. O evento já foi reformulado em diversas ocasiões e, em 2022, decorreram em Vila Real de Santo António, no Algarve.

Em 19 de junho de 2001, foi assinado um acordo entre os comités olímpicos e paralímpicos com o objetivo de proteger a organização dos Jogos Paralímpicos e de garantir a prática do "uma candidatura, uma cidade".

A partir desse momento, todas as cidades que tenham objetivo de organizar os Jogos Olímpicos devem automaticamente incluir os Jogos Paralímpicos como parte de sua candidatura.

Os Jogos Paralímpicos de Paris 2024 arrancam esta quarta-feira, com 27 atletas portugueses distribuídos por um número recorde de dez modalidades.

No total, estarão em participação, até 8 de setembro, 4.400 atletas, de 180 Comités Paralímpicos Nacionais, mais uma equipa de refugiados e outra de atletas neutros, num total de 22 modalidades.

Portugal, que vai na 11.ª participação em Jogos Paralímpicos (a primeira em Heidelberg 1972), tentará, em Paris, aumentar o histórico de 94 medalhas conquistadas (25 ouros, 30 pratas e 39 bronzes).

Os atletas paralímpicos portugueses mais medalhados de sempre são Paulo Coelho e Carlos Lopes (homónimo do primeiro medalhado olímpico da história), ambos com quatro e ambos no atletismo.

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