13 ago, 2024 - 14:50 • Redação
Dona de uma das mais memoráveis edições de todos os tempos, Los Ange
les prepara-se para receber os Jogos Olímpicos, em 2028, pela terceira vez (depois de 1932 e 1984). Quarenta anos depois de LA 1984, será que os norte-americanos vão voltar a ser um exemplo de organização a seguir?Mil novecentos e oitenta e quatro foi o ano que marcou a estreia de 18 países na competição, num recorde de participação de 140 delegações e mais de 6.000 atletas. Três novas modalidades aterraram na aldeia olímpica e o desporto feminino nunca mais voltou a ser o mesmo. A cerimónia de abertura mostrou tudo aquilo que os Estados Unidos da América prometiam ser: extravagantes, poderosos e tecnologicamente avançados. Mas sabe-se que nem tudo foi um mar de rosas…
O ano de 1984 foi marcante para a Guerra Fria entre os norte-americanos e a União Soviética, e saltou do imaginário do livro de George Orwell para a realidade dos Jogos Olímpicos. A União Soviética e os seus aliados mais próximos recusaram-se a participar na competição por esta ser feita nos EUA, tal como os norte-americanos o tinham feito em 1980, em Moscovo.
No total, foram 14 os países que não marcaram presença em Los Angeles, mas não foi por isso que deixaram o desporto de lado. É que esses países inauguraram uma nova competição chamada "Jogos da Amizade", numa clara afronta aos Jogos Olímpicos, com um sistema de premiação e modalidades muito semelhantes.
Apesar do boicote, a Roménia foi o único país comunista que não aderiu à 'falta coletiva' e acabou por fazer a melhor prestação de sempre nesta edição (53 medalhas, 20 de ouro), terminando em segundo lugar, só atrás dos Estados Unidos. A atleta que mais se destacou foi uma romena: Ecaterina Szabo, da ginástica artística.
Os Jogos Olímpicos vinham de um período negro de grande prejuízo, o que levou à necessidade de reestruturação económica do evento. Por essa razão, só houve uma candidatura para acolher a edição de 1984: os EUA.
Com um novo modelo económico baseado na promoção exclusiva de marcas em determinadas modalidades, os
norte-americanos não só contornaram os valores negativos, como lucraram
diretamente mais de 200 milhões de dólares. Foi, por isso, a edição em que os EUA
passaram a ser um exemplo de organização para futuras edições num verdadeiro volte-face.
As reviravoltas aconteceram também nas questões de género. As mulheres representaram 23% do total de atletas e, pela primeira vez, viu-se nas atletas femininas a capacidade de alcançar marcas semelhantes às dos homens. Uma das atletas mais marcantes dessa edição foi Gabriela Andersen-Schiess. A maratonista tornou-se um símbolo da resiliência feminina ao lutar contra o seu próprio limite de esforço para, mesmo em 34.º lugar, cruzar a meta.
Foi uma mudança histórica na perspetiva desportiva e um avanço significativo para a igualdade de género. Nota-se a evolução, por exemplo, no facto de a organização autorizar a maratona exclusivamente feminina. Aliás, foi graças a essa decisão que Portugal fez história: Rosa Mota provou o seu valor enquanto atleta e pisou o pódio, trazendo o bronze para casa.
Mas nem só de bronze se pintavam as medalhas lusitanas. O ouro de Carlos Lopes, na maratona masculina, foi o momento mais alto da história portuguesa nas Olimpíadas. Não só venceu a corrida como bateu o recorde mundial. E como "três foi a conta que Deus fez", como diz a sabedoria popular, Portugal arrecadou a terceira medalha no atletismo, com António Leitão a destacar-se na prova dos 500 metros.
Até ao passado dia 9 de agosto, todas as medalhas de ouro ganhas por Portugal (6) tinha sido garantidas nas diversas modalidades do atletismo. Rui Oliveira e Iúri Leitão foram os responsáveis por quebrar esse padrão e trouxeram o ouro no ciclismo de pista.
Depois de, em 1984, as expectativas terem sido largamente superadas, a fasquia agora é ainda mais elevada, especialmente com as cinco novas modalidades em competição - flag football, squash, críquete, baseball/Softball e lacrosse.
Para já, antes de aterrar definitivamente em Los Angeles, as atenções viram-se para a Milão, onde se vão realizar os Jogos Olimpicos de Inverno, em 2026.