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Momentos icónicos JO

Tommie Smith e John Carlos baixaram a cabeça e ergueram o punho cerrado. As medalhas não chegavam

09 ago, 2024 - 10:50 • Carlos Calaveiras

O hino dos Estados Unidos estava a tocar, em mais uma cerimónia dos Jogos de 1968, quando os dois norte-americanos decidiram protestar contra o racismo, a segregação racial e a violência policial nos EUA.

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Ganhar uma medalha olímpica é marcante para qualquer desportista, mas no caso dos dois que vamos recordar neste texto o que ficou marcado na história foi a imagem e o que fizeram depois da prova, já no pódio, em protesto contra o racismo nos Estados Unidos.

A 16 de outubro de 1968, Tommie Smith, o novo campeão olímpico e novo recordista mundial da distância, e John Carlos, o terceiro classificado, subiram ao pódio para receber as medalhas de ouro e bronze respeitantes à final dos 200 metros dos Jogos Olímpicos do México.

Até aqui tudo parecia como habitual. O hino dos Estados Unidos estava a tocar quando os dois norte-americanos aproveitaram os olhares do mundo para avançar com um protesto contra o racismo, a segregação racial e a violência policial nos Estados Unidos.

Foram vários os sinais naquele momento em que todo o mundo estava atento à cerimónia.

Os atletas baixaram a cabeça e ergueram o punho (calçado com uma luva preta), replicando a saudação “Black Power”. Ambos estavam sem sapatos, apenas com meias pretas – simbolizando a pobreza dos negros. Smith tinha um cachecol para lembrar o orgulho negro e Carlos tinha um colar de missangas em memória de “todos os que foram linchados ou mortos e pelos quais ninguém disse uma oração, ou enforcados e torturados”.

O australiano Peter Norman, segundo classificado, que também já se tinha manifestado contra o racismo na Austrália, participou no protesto de forma mais discreta e usou, tal como os outros dois elementos do pódio, um selo de direitos humanos no casaco.

Na altura, este inédito protesto não caiu nada bem nas entidades organizadoras. O Comité Olímpico Internacional exigiu que os atletas norte-americanos fossem expulsos da Aldeia Olímpica e ameaçou banir toda a equipa se tal não fosse cumprido.

Tommie Smith, campeão olímpico, ainda declarou: “Se eu vencer, sou americano, não um negro americano. Mas se eu fizer alguma coisa má, então eles vão dizer que eu sou preto. Nós somos negros e somos orgulhosos de ser negros. A América negra vai entender o que fizemos esta noite”.

A altura não era fácil para protestos. A polícia carregava violentamente e, convém lembrar, Martin Luther King tinha sido assassinado seis meses antes.

Ao regressarem a casa, ninguém da equipa olímpica norte-americana os recebeu e foi um jornalista negro que os esperava no aeroporto que lhes deu boleia.

Os três atletas sofreram represálias e só Tommie Smith se manteve no mundo do desporto, ao transferir-se para o futebol americano, nomeadamente para os Cincinnati Bengals.

Os anos passaram, a situação acalmou, mas a imagem icónica e a luta protagonizada, especialmente pelos norte-americanos, nunca foi esquecida, e Tommie Smith e John Carlos já foram várias vezes homenageados pelo que fizeram naquele dia de 1968 na cidade do México.

Uma das homenagens mais significativas tem a ver com o fato de treino que Tommie Smith usou naquele dia. Está atualmente no Museu Nacional da Histórica Afro-Americana, em Washington.

Entretanto, ambos os ex-atletas foram convidados para serem embaixadores dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

Os três do pódio continuaram ligados. Exemplo disso, o facto de, em 2006, os norte-americanos terem viajado para a Austrália para assistir ao funeral de Peter Norman.

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