08 ago, 2024 - 12:00 • Carlos Calaveiras
Os Jogos Olímpicos de 1936 foram organizados pela Alemanha. Hitler, que estava no poder, quis aproveitar o evento para promover a supremacia da raça ariana. No entanto, a estrela acabou por ser um negro, neto de escravos, que ganhou quatro medalhas de ouro.
Jesse Owens tinha 23 anos e venceu os 100 metros, os 200 metros, a estafeta 4x100 e o salto em comprimento.
Hitler não gostou e terá até ignorado o atleta negro após a prova dos 100 metros.
O jovem norte-americano garantiu, no entanto, que o ditador o cumprimentou. “Depois de descer do pódio, passei em frente da tribuna de honra para voltar aos balneários. Ele viu-me e acenou com a mão. Eu, feliz, respondi à sua saudação”, referiu anos mais tarde.
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O público de Berlim adorava Owens e era sempre uma festa quando o norte-americano entrava no estádio olímpico.
Tudo corria bem até à final do salto em comprimento. Jesse Owens estava a ter um dia mau e fez dois nulos na qualificação. Se falhasse novamente lá se ia a final e quem sabe mais uma medalha.
A ironia das ironias foi o alemão Luz Long, o seu principal rival, ajudá-lo. Chamou-o à parte antes do salto decisivo e deu-lhe um conselho: “Salta atrás da chamada habitual”.
Conclusão: Jesse Owens saltou 8.06 metros, à frente de Long – que foi prata – e conseguiu mais um ouro, com Hitler nas bancadas. Os dois atletas deram uma volta ao estádio juntos e abraçados.
Já nos Estados Unidos, a vida não foi fácil e o atleta começou por não ser recebido pelo Presidente dos Estados Unidos. Franklin Roosevelt fez apenas uma receção para os atletas brancos na Casa Branca. “Ele [Roosevelt] não me mandou nem um telegrama”, queixou-se Owens.
E apesar de ser um herói multimedalhado, Owens continuava a ter de andar na parte de trás dos autocarros e a entrar pelas portas de serviço dos edifícios.
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A II Guerra Mundial chegou em 1939 e, por isso, não houve Jogos Olímpicos nem em 1940 e 1944.
A fama de 1936 foi rapidamente esquecida. Owens começou a sentir dificuldades e teve vários empregos, ao mesmo tempo que fazia exibições de rua: corridas contra motos, cães ou cavalos.
“As pessoas dizem que era degradante para um campeão olímpico correr contra um cavalo, mas o que eu deveria fazer? Eu tinha quatro medalhas de ouro, mas não podia comer quatro medalhas de ouro. Claro que isto me incomodava, mas pelo menos era algo honesto. Eu tinha que comer”, chegou a referir.
A partir da década de 50, as coisas começaram a melhorar com Jesse Owens a dar palestras e a chegar a ser enviado aos Jogos Olímpicos de Melbourne, em 1956, como representante dos Estados Unidos.
O grande campeão acabou por falecer, aos 67 anos, a 31 de março de 1980, vítima de cancro.
A Alemanha nunca esqueceu Owens e uma das ruas em frente ao Estádio Olímpico de Berlim tem o seu nome.
Jesse Owens chegou a bater os recordes do mundo dos 100 e 200 metros, mas os tempos nunca foram homologados por terem sido obtidos com vento a favor acima do permitido (10.2 segundos, aos 100m, em 1935, e 20.7 segundos aos 200m, em 1936). Já o do salto em comprimento (8.13 metros) valeu e durou até 1960.