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Momentos icónicos JO

Nos Jogos de St. Louis em 1904 surgiram as medalhas de prata e bronze (e heróis com perna de pau, brandy nas veias e um meteorito)

05 ago, 2024 - 11:20 • Hugo Tavares da Silva

Nestes Jogos Olímpicos, onde se estrearam boxe, luta livre, decatlo e levantamento do peso, viu-se pela primeira vez um negro a subir a um pódio. George Eyser fez história na ginástica.

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A maratona dos Jogos Olímpicos de St. Louis (e outros capítulos, na verdade), em 1904, foi um tratado. Parece um conto filho da ficção científica. Frederick Lorz era um dos favoritos. Pedreiro de profissão, treinava pela noite depois da labuta. Por outro lado, o compatriota Thomas Hicks era outro por quem o ouro sentia atração. Era um operário de Massachusetts. Mas havia outros ferozes competidores.

A prova começou e os quilómetros foram engolidos pelas solas dos corajosos corredores, naquela que seria para a história uma das piores olimpíadas, até porque se voltava a repetir a ideia de 1900, em Paris, de misturar Jogos com a Feira Mundial. E não só: os JO aconteceram entre 1 de julho e 23 de novembro.

A grande inovação destes Jogos, apesar de tudo o que correu mal, foi mesmo a introdução das medalhas de prata e bronze, que deixam ainda hoje momentos cheios de dignidade, emoção e superação. Pela primeira vez na história, os concorrentes corriam, saltavam, nadavam e faziam tudo e mais alguma coisa por três pedaços de metal inundados de eternidade.

Mas regressamos à maratona.

O primeiro a passar a meta foi mesmo Lorz, o tal pedreiro. Tirou as suas fotografias, espalhou os seus sorrisos e até posou ao lado da filha do Presidente norte-americano, Theodore Roosevelt. Mais tarde, soube-se que tinha feito uma parte importante do percurso de carro, imitando o que Spriridon Belokas fizera uns anos antes, mas de carroça, conta este artigo do "É desporto". Mais tarde, Lorz diria que tudo se tratou de uma piada.

O herói desse dia foi então Hicks, que passou mal para ter essa memória. Rezam os relatos e a lenda que teve de ser reanimado algumas vezes, há até fotografias que o mostram a ser amparado por dois homens (como a da capa deste artigo). E lá lhe enfiaram no organismo alguns copos de brandy e suplementos de estricnina, um químico que até pode matar na dose errada, a tal substância que Elis Regina canta em “Tiro ao Álvaro” (Teu olhar mata mais/Que bala de carabina/Que veneno estricnina/Que peixeira de baiano).

O novo medalha de ouro da maratona, Hicks, terá superado a meta embriagado ou pelo menos num estado de consciência alternativo. A estreia do pódio com três degraus recebeu ainda Albert Corey e Arthur Newton, ambos norte-americanos. O último correu em 1900.

Nestes Jogos de St. Louis, onde se estrearam boxe, luta livre, decatlo e levantamento do peso, vimos pela primeira vez um negro a subir a um pódio. O primeiro negro medalhado da história foi George Poage, que conquistou o bronze nos 200m e 400m barreiras.

No atletismo testemunhou-se a passagem do “meteorito de Milwaukee”. Archie Hahn recebeu medalhas de ouro depois das prestações nos 60, 100 e 200 metros, nesta última até fixou o recorde olímpico que vingaria durante 28 anos.

Houve mais histórias tremendas. Emil Rausch, na natação, venceu dois ouros e um bronze, Eliza Pollock, no tiro com arco, conquistou um ouro e dois bronzes, e Matilda Scott Howell, também no tiro com arco, conquistou três ouros.

Já George Eyser, mais um ginasta a encantar como sempre os Jogos Olímpicos, conquistou seis medalhas (três ouros, duas pratas, dois bronzes)… mesmo tendo uma perna de madeira.

Avisámos, certo?, que mais parecia uma olimpíada saída de um livro de ficção científica. E foi.

E a história continua.

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