05 ago, 2024 - 09:57 • Eva Massy, correspondente da Renascença em Paris
A organização garante que a campanha de recrutamento foi um sucesso: cerca de 300 mil candidaturas do mundo inteiro foram registadas. Ao todo, 45 mil pessoas foram selecionadas para ajudar em diversas áreas, como dar as boas-vindas aos espectadores, guiar pessoas credenciadas ou acompanhar os atletas até aos locais de competição.
Isabel e Bruno, 53 e 39 anos, conheceram-se na aldeia olímpica, no norte de Paris, onde vêm todos os dias para acompanhar as delegações colombiana e portuguesa. Preencheram um formulário, participaram em formações online e a organização realizou inquéritos administrativos para verificar o perfil dos candidatos.
Mal teve uma resposta positiva, Isabel, professora do primeiro ciclo em Ponte de Lima, Viana do Castelo, comprou bilhetes de avião para Paris. à chegada, Isabel encontrou-se com as restantes equipas e vestiu a camisa de voluntária, um uniforme que está a ser muito elogiado ao ponto de já se encontrar em plataformas de revenda, como a Vinted.
Ao chegar à aldeia, todos os dias às 14h30, apresentam-se às suas delegações e ficam a conhecer as tarefas do dia. “Pode ser qualquer coisa como verificar se os quartos estão prontos para receber os atletas, ou sair novamente da aldeia para ir comprar qualquer coisa que faça falta, por exemplo uma vassoura”, recorda a voluntária, de riso contido. Dedicação não falta, Isabel garante que fazem “tudo o que for preciso” para assistir à sua equipa, como se de uma vocação se tratasse.
Bruno é Personal Trainer em Paris, sempre quis participar nos Jogos Olímpicos, “enquanto espectador ou na organização”, porque rapidamente percebeu “que não ia ser como atleta, por não ter o nível requerido”.
Um sonho para Isabel e Bruno, mas um pesadelo para muitos parisienses. As restrições de circulação, a obrigação de apresentar um QR code para atravessar Paris de Norte a Sul nos primeiros dias de competições juntam-se au aumento do custo dos transportes públicos, não se sabendo ainda se os valores iniciais serão mantidos depois do evento.
Os voluntários trabalham oito horas por dia, com direito a uma refeição diárias, mas garantem estarem a viver “um sonho” e a acreditação que lhes dá acesso a todos os espaços de competição, desde que estejam a acompanhar a delegação, faz deles “uns privilegiados”. Já partilharam momentos com atletas de várias delegações, aliás "estar com o Jorge Fonseca" foi para Isabel um dos momentos mais marcantes, assim como viajar nos barcos ao longo do Sena, lado a lado com os maiores desportistas do mundo durante a cerimónia de abertura.
Acabados os Jogos Olímpicos e depois de uma curta pausa em que Isabel regressa a Portugal para participar nas Festas d’Agonia, a voluntária vai repetir a experiência, em setembro, durante as provas Paralímpicas.
Têm sido denunciados os impactos ecológicos e sociais deste maior evento desportivo do mundo, nomeadamente a exclusão do centro da cidade de pessoas em situação de exílio e sem-abrigos.
Relativamente aos milhares de voluntários nos Jogos, o coletivo anti-Jogos Olímpicos Saccages 2024 denuncia a utilização de uma “mão-de-obra” gratuita, que considera ser trabalho dissimulado. De acordo com os cálculos deste movimento, se todos os voluntários fossem retribuídos no valor do salário mínimo, representaria 1% do orçamento dos Jogos Olímpicos.