18 mai, 2024 - 22:29 • Lusa
A passagem da chama olímpica agendada para 11 de junho na Nova Caledónia foi cancelada, por ser prioritário o regresso à ordem no território ultramarino francês, onde violentos tumultos fizeram vários mortos, indicou hoje a ministra dos Desportos.
"Penso que todos compreendem que, tendo em conta o contexto, a prioridade deve ser dada à consolidação do regresso à ordem pública e, em seguida, ao apaziguamento", declarou a ministra Amélie Oudéa-Castéra à imprensa, numa etapa da Taça do Mundo de Esgrima de Saint-Maur-des-Fossés, perto de Paris.
"Prioridade à segurança dos habitantes, prioridade ao regresso à calma e prioridade à melhoria política da situação", disse a ministra francesa, enquanto a violência relacionada com motins na Nova Caledónia, um arquipélago francês no Pacífico Sul, prosseguia hoje com uma sexta morte em seis dias, segundo as autoridades, e uma situação "distante do regresso à calma", de acordo com o presidente da câmara de Nouméa.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, anunciou o cancelamento da passagem da tocha olímpica pelo arquipélago numa reunião com deputados em Matignon, segundo várias fontes concordantes citadas pela agência de notícias francesa AFP.
Uma reforma constitucional que muda as regras elei(...)
A chama olímpica chegou com grande pompa e circunstância a 08 de maio a Marselha, a bordo do navio Belem, e deveria atravessar todo o território francês, com passagem pelos territórios ultramarinos franceses, até terminar a sua viagem nas margens do Sena, a 26 de julho, onde acenderá a pira na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2024 de Paris, as terceiras olimpíadas na capital de França, após as de 1900 e 1924.
"Todos compreendem, gostaríamos de poder partilhar este momento", embora "até 11 de junho, possa haver alguma evolução favorável" na Nova Caledónia, disse Amélie Oudéa-Castéra, responsável pela preparação para os Jogos Olímpicos de Paris referindo-se às dificuldades relacionadas com logística e segurança.
"Para estarmos prontos a 11 de junho [para a passagem da chama olímpica na Nova Caledónia], há toda uma contagem decrescente e operações de prospeção, verificação e triagem que têm de ser efetuadas. E as forças de segurança, os militares, estão agora ocupados em restaurar a calma, restabelecer a ordem" no território, afirmou a ministra dos Desportos francesa.
Estes tumultos, os mais graves registados na Nova Caledónia desde os anos 1980, foram desencadeados por uma reforma eleitoral promovida por Paris, que altera o recenseamento, retirando peso aos povos autóctones, o que indignou os independentistas.
Há décadas que existem tensões no arquipélago entre os indígenas Kanaks, que pretendem a independência, e os descendentes dos colonizadores, que querem continuar a fazer parte de França.
Na quarta-feira, a Assembleia Nacional aprovou um projeto de lei que, entre outras alterações, permite que os residentes na Nova Caledónia há dez anos possam votar nas eleições provinciais.
Os opositores dizem que a medida beneficiará os políticos pró-França na Nova Caledónia e marginalizará ainda mais o povo indígena Kanak, que no passado foi alvo de uma política de segregação rigorosa e discriminação generalizada.
Situado a leste da Austrália e dez fusos horários adiantado em relação a Paris, o vasto arquipélago que tem atualmente cerca de 270.000 habitantes tornou-se francês em 1853, sob o comando do imperador Napoleão III, sobrinho e herdeiro de Napoleão.
Tornou-se um território ultramarino de França após a Segunda Guerra Mundial, tendo sido concedida a nacionalidade francesa a todos os Kanaks em 1957.
Em 1988, foi celebrado um acordo de paz entre as fações rivais. Uma década depois, França prometeu atribuir à Nova Caledónia poder político e ampla autonomia e organizar até três referendos sucessivos.
Os três referendos realizaram-se entre 2018 e 2021, e a maioria dos eleitores optou por continuar a fazer parte de França, em vez de apoiar a independência.
O povo Kanak, pró-independência, rejeitou os resultados do último referendo de 2021, que boicotou por ter sido realizado no pico da pandemia de covid-19.