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Títulos nacionais decididos por "ligação afetiva" dos delegados

29 jun, 2022 - 12:45 • João Fonseca

César Rodrigues, investigador da história do desporto, considera todos os pareceres defensáveis. Por esse motivo, é um assunto que "não correu bem" à Federação Portuguesa de Futebol.

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A decisão sobre recontagem dos títulos de campeão nacional será levada a votação esta quarta-feira, em assembleia geral extraordinária da Federação Portuguesa de Futebol. Ainda antes de uma tomada de decisão já é possível concluir que o assunto "não é unânime" e que o desfecho poderá ser motivado por "ligações afetivas".

Bola Branca entrevistou César Rodrigues, investigador da história do desporto, que apontou para uma decisão final baseada na "ligação afetiva" dos delegados que estarão presentes e que terão de eleger uma das hipóteses colocadas a sufrágio.

Nestas declarações à Renascença, o historiador começa por explicar que todas "são defensáveis", e que mesmo as propostas 1 e 2, solicitadas pela própria federação, e elaboradas por pessoas "sem nenhuma agenda prévia, em consciência e com conhecimento", vieram mostrar que "não há unanimidade", pelo que "isto era o que menos se desejava".

Quais os pareceres?

Em causa está a prova intitulada de Campeonato de Portugal que se realizou entre 1921 e 1938 e que não é contabilizada, atualmente, no número de títulos de campeão que a FPF reconhece.

Outros dos imbróglios é que entre 1934 e 1938 duas provas existiram em simultâneo: o Campeonato de Portugal e o Campeonato das Ligas, sendo que a última é já reconhecida pela FPF na lista de campeões nacionais atual.

O primeiro parecer defende que "os vencedores do Campeonato de Portugal entre as épocas 1921/1922 e 1933/1934 devem ser considerados como campeões nacionais, bem como os vencedores do Campeonato das Ligas, entre 1934/1935 e 1937/1938, que precede o Campeonato Nacional".

Uma vez que os vencedores das quatro edições do Campeonato das Ligas já estão integrados na atual contagem oficial, esta alteração beneficia, principalmente, Porto e Belenenses, que ganham três títulos de campeões cada.

Sporting e Benfica acrescentam dois títulos de campeão, enquanto que o Marítimo, Carcavelinhos e Olhanense são reconhecidos como campeões nacionais.

No que diz respeito ao segundo parecer, não implica mudanças na contagem dos campeões: "O Campeonato de Portugal é prova antecessora da Taça de Portugal e os Campeonatos das Ligas (I e II Liga) antecessores do Campeonato Nacional (I e II Divisão)".

Nesse sentido, "devem ser por isso reconhecidos como campeões nacionais os vencedores dos Campeonatos das Ligas (entre 1934/35 e 1937/1938) e como vencedores da Taça de Portugal os clubes que venceram o Campeonato de Portugal desde 1921/1922".

O que muda? Nada, no que diz respeito aos títulos de campeão nacional, mexendo apenas na contabilização das Taças: Sporting e FC Porto acrescentam quatro, Benfica e Belenenses acrescentam três. Neste parecer, Marítimo, Carcavelinhos e Olhanense juntam uma Taça de Portugal ao palmarés.

Vai ainda a votação o parecer apresentado pelo Sporting, que reclama quatro Ligas decorrentes das vitórias no Campeonato de Portugal em 1922/23, 1933/34, 1935/36 e 1937/38, tendo como base um documento redigido pelo professor Diogo Ramada Curto.

Teses sem unanimidade

Embora a ideia de juntar aos atuais vencedores, novos nomes, como os de Marítimo, Olhanense ou até o Carcavelinhos possa ser considerada "como simpática", a realidade é que nenhuma das teses apresentadas é inequívoca.

César Rodrigues compreende todos os motivos invocados, mesmo aqueles que são apresentados pelo Sporting, só que até neste, o facto de se defender que ninguém é prejudicado "não pode ser o prisma para a análise" e posterior votação.

Para esta quarta-feira, aguarda-se por uma decisão e até mesmo a que pode deixar tudo na mesma "faz todo o sentido", explicou o investigador.

O processo iniciado por Bruno de Carvalho, quando presidente do Sporting, tem hoje mais um capítulo, que pode não ficar fechado, depois da votação de logo, em sede federativa.

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