17 jul, 2024 - 09:45 • Inês Braga Sampaio
O Chelsea anunciou, esta quarta-feira, a abertura de um processo disciplinar a Enzo Fernández, na sequência da partilha, no Instagram, de um vídeo em que os jogadores da seleção argentina entoavam um cântico ofensivo contra a seleção francesa, após a conquista da Copa América. A FIFA também abriu investigação ao sucedido.
No vídeo em questão, entretanto apagado, o ex-jogador do Benfica e seus companheiros faziam troça da ascendência africana de vários jogadores da França, que em 2022 perdeu a final do Mundial para a Argentina. O cântico incluía uma referência insultuosa ao facto de a modelo francesa Ines Rau, suposta ex-namorada de Kylian Mbappé, ser transgénero.
Acusado de racismo e transfobia, Enzo apagou o vídeo e publicou um pedido de desculpas pela "linguagem altamente ofensiva".
"Não há qualquer justificação para aquelas palavras. Sou contra a discriminação em todas as suas formas e peço desculpa por me ter deixado levar pela euforia dos nossos festejos da Copa América. Aquele vídeo, aquele momento, aquelas palavras, não refletem as minhas crenças ou o meu caráter. As minhas sinceras desculpas", escreveu.
O dano já estava feito, porém. O francês Wesley Fofana, colega do internacional argentino no Chelsea, partilhou o vídeo na sua conta do X, com a legenda: "O futebol em 2024: racismo descomplexado."
Fofana e o resto do contingente francês do Chelsea - Axel Disassi, Benoit Badiashille, Malo Gusto, Lesley Ugochukwu, Christopher Nkunku e Malang Sarr - já deixaram de seguir Enzo nas redes sociais.
O Chelsea pronunciou-se, igualmente, sobre o caso, esta quarta-feira de manhã. Em comunicado publicado no seu site oficial, o clube inglês dá conta da abertura de um processo disciplinar interno, ainda que "reconheça e aprecie o pedido de desculpas público" de Enzo Fernández: "Usaremos isto como uma oportunidade para educar."
"O Chelsea Football Club considera todas as formas de comportamento discriminatório completamente inaceitável. Temos orgulho em ser um clube diverso e inclusivo, onde pessoas de todas as culturas, comunidades e identidades se sentem bem-vindas", lê-se.
A Federação Francesa de Futebol (FFF) também não deixou passar o episódio. Em comunicado, informa que fará queixa à FIFA e na Justiça, por "declarações racialmente ofensivas e discriminatórias".
"O presidente da FFF, Philippe Diallo, condena nos mais fortes termos as inaceitáveis declarações racistas e discriminatórias que foram feitas contra os jogadores da equipa francesa, num cântico entoado por jogadores e adeptos da seleção da Argentina", pode ler-se.
A FFF classifica o cântico como "chocante" e "contrário aos valores do desporto e dos direitos humanos" e revela que Diallo decidiu "apelar diretamente ao seu homólogo argentino e à FIFA".
A FIFA já está ao corrente da situação e um porta-voz garante que "o incidente está a ser investigado". O organismo sublinha, ainda, que "condena qualquer forma de discriminação cometida por qualquer pessoa, incluindo jogadores, adeptos e funcionários".
Formado no River Plate, Enzo Fernández chegou à Europa pela mão do Benfica, no verão de 2022. Em janeiro de 2023, depois de apenas seis meses na Luz, foi vendido ao Chelsea por 121 milhões de euros.
Na temporada passada, o médio, de 23 anos, marcou sete golos e fez três assistências em 40 jogos pelos "blues". Pela seleção da Argentina, conquistou o Mundial 2022 e a Copa América 2024.