Já o papel do treinador é manter os pés das jogadoras bem assentes na terra. Passe a passe até à baliza, como nas equipas de Pep Guardiola, em quem se inspira. Daniel Chaves é igualmente fã de José Mourinho, pelo trabalho do português no FC Porto. O "Special One" também não costuma subir ao Olimpo logo na primeira época.
Crescer de forma sustentada e sustentável é imperativo para uma equipa que tem somente um mês de vida.
"Sinto que tenho um plantel competitivo para a terceira, sem querer ser limitante. Tivemos jogos de treino com equipas de segunda divisão e sentimo-nos competitivos também com elas, mas lá está, não quero levar a que acham que este ano vai ser demasiado fácil. Nem o vemos assim. Vai ser um ano muito competitivo e queremos estar ao mais alto nível. O plantel dá-nos garantias de ser competitivos jogo a jogo", refere Daniel Chaves.
É impossível esconder, porém, que "o objetivo é estar na I Liga o mais rápido possível".
"Se isso vai traduzir em dois anos, só o caminho que faremos o dirá. Este ano, obviamente, o objetivo principal é subirmos de divisão. Não escondemos isso, claro que sim. E para o ano vemos também como as coisas estão, se alcançamos o objetivo e voltamos a definir estratégias e ambições", salienta o técnico, que espera fazer esse caminho com a equipa: "Não me via a iniciar o projeto sem ter a ambição não apenas de o levar, mas permanecer lá, enquanto o clube estiver na primeira divisão. A ambição é essa, nem aceitaria o projeto se não me imaginasse nesse papel."
E apesar de "ambicionar coisas grandes", Joana Neves, que se inspira na espanhola Alexia Putellas, Bola de Ouro em 2021 e 2022, bebe das palavras do treinador e salienta, também, que, começando do zero, há que "ir passo a passo" e "não estar já a ambicionar coisas do futuro": "Temos de manter os pés no chão."
Joana Oliveira vinca que o FC Porto está "numa corrida contra o tempo", todavia, não está "mais atrasado ou mais adiantado que ninguém".
"Estamos no tempo certo, temos de respeitar isso. Como é óbvio, o objetivo já definido é subir para a segunda divisão. No entanto, sabemos, também, que a diminuição da Liga BPI para dez equipas vai dificultar muito mais o objetivo de subir", adverte.
Abrir bancadas, no Dragão e no clube
O final da época e as contas da subida estão longe, contudo, e por agora o Porto parte confiante para a estreia oficial (domingo em Viseu, com o Académico, às 15h). A oficiosa, para os adeptos, foi um sonho tornado realidade.
Joana Neves não esperava ver as bancadas repletas de adeptos.
"Nós esperávamos algumas pessoas, porque também víamos as redes sociais e pessoas que conhecíamos que tinham dito que estavam à espera que o Porto abrisse o feminino, que era uma coisa que o clube queria. Esperava alguma gente, mas não 30 mil pessoas. Foi uma coisa mesmo de outro mundo", enaltece.
"Aquilo que aconteceu no jogo na nossa apresentação é muito aquilo que vai ser o futuro do futebol feminino FC Porto. É ir abrindo bancadas", declara Joana Oliveira, para quem o recorde de assistência representou "uma força passada do exterior para o interior muito grande".
"Eu acho que não tenho noção, ainda, do que é que foi viver aquele momento. Todos nós que representamos o FC Porto temos uma missão clara no futebol feminino, que é a missão da equidade no futebol. Portanto, nós, mulheres, que um dia estamos no FC Porto a trabalhar e que no dia a seguir estamos a olhar em nosso redor e ver 31 mil pessoas a entrar pelas bancadas sucessivamente durante 45 minutos, uma hora, é uma sensação brutal. Eu olhava à volta e tinha a sensação de que nem estava a desfrutar, dada a responsabilidade que nos é passada", assinala.