De facto, o regulamento da FIFA de abril de 2023 dita que a inscrição de um jogador amador num campeonato profissional deve ser feita durante os períodos de transferências normais. Só os jogadores profissionais sem contrato é que podem ser contratados para lá do prazo.
"Jogadores só podem ser inscritos durante um dos dois períodos anuais de inscrição fixados pela associação relevante", pode ler-se na alínea 1 do Artigo 6. Entre as exceções, detalhadas na alínea 3b, encontra-se "um profissional cujo contrato tenha expirado naturalmente ou sido mutuamente terminado antes do fim do período de inscrições".
Ou seja, ao jogar pelo Coppermine United, Chinyelu Asher tornou-se uma jogadora amadora, o que, para voltar a ser profissional, mesmo sendo jogadora livre, a obrigava a ser inscrita durante o mercado de transferências normal. Só se a jamaicana não tivesse deixado de ser profissional é que poderia ter sido inscrita mais tarde.
"Como começaram a procurar informação demasiado tarde - e isto é algo que devia ter acontecido quando cheguei -, tiveram de correr atrás do prejuízo quando perceberam o seu erro, porque tinham falhado completamente a janela de inscrição. Disseram-me, então, que podiam recorrer e inscrever-me, e eu acreditei que ainda havia esperança, mas afinal não era possível. Não pudemos ser inscritas até à próxima janela, que era janeiro, por isso tivemos de ficar seis meses sem jogar", conta.
Asher contactou o Sindicato dos Jogadores, de forma a pedir conselhos em relação à situação: "Disseram-me que, infelizmente, era o clube que tinha de tratar da maior parte do processo."
Também realça que os responsáveis do Torreense "nunca disseram exatamente que erro tinham cometido".
"Um dia, fui à sede do clube e fiquei lá sentada durante pelo menos 90 minutos. Estava lá sentada, só queria falar com o diretor e ele não me viu. Só queria ter uma conversa, não estava a ser confrontacional. Só queria informação e alguma clareza. Acabei por me ir embora. O silêncio é a pior coisa", assinala a jogadora, que também refere que demorou "até talvez ao final da temporada para alguém pedir desculpa" pelo sucedido.
"Há muita arrogância na forma como operam e como se comportam com as jogadoras", critica.
"Poderei dar-lhes um pequeno desconto porque começámos com um diretor desportivo no início da pré-época e, não sei o que aconteceu, mas por alguma razão ele saiu ao fim de um par de meses ou até mais cedo, e promoveram alguém pra colmatar a vaga - que continua, ainda agora, com a equipa feminina. Algo que me disseram, o que não é desculpa, foi que foi na realocação de responsabilidades que a minha inscrição caiu. Não é desculpa, mas sei que isso afetou algumas coisas", admite.
Chinyelu Asher ficou, então, meia época sem jogar. Ainda assim, garante que estava "mesmo entusiasmada" por disputar a liga portuguesa, que "adorava a equipa" e, portanto, continuou a trabalhar com afinco: "Disseram-me que uma das coisas que apreciavam em mim era que, independentemente do que se estava a passar, eu mantinha o profissionalismo a cada dia. Isso é algo de que me orgulho."
"Pensei em sair, mas também estava mais segura de que em janeiro a minha situação se resolveria. Além disso, houve mudança de treinador e isso dá sempre uma sensação de novo início, de um começo do zero. Fez-me sentir bem. Quer dizer, eu estava muito aborrecida com o clube e considerei mesmo sair, mas, ao mesmo tempo, já tinha investido muito do meu tempo e gostava da equipa, por isso quis terminar o que tínhamos começado", acrescenta.