Lussem nasceu em 1960, em Colónia, e lembra-se bem do Mundial 1974. Lembra-se, especialmente, por algo que acontecera dois anos antes: o massacre de Munique.
"O Mundial decorreu sob a sombra dos Jogos Olímpicos de 1972 e dos terroristas. Os terroristas palestinianos [a já extinta Organização Setembro Negro] que mataram membros da comitiva olímpica de Israel [11, ao todo, mais um polícia alemão que morreu no tiroteio]. Foi o início de uma década de violência e terrorismo, e havia o medo de que os terroristas fossem usar o Mundial de futebol para os seus objetivos, por isso todas as equipas estavam sob pesado controlo policial", conta.
A atmosfera estava pesada, para jogadores e adeptos, por motivos que nada tinham a ver com o futebol:
"Foi uma situação muito estranha para mim. Foi a minha primeira impressão, como um menino de 13, 14 anos, de que algo estava errado no mundo. Lá no fundo, todos sentíamos que algo podia acontecer, tínhamos esse medo de que algo pudesse acontecer."
Nada aconteceu e, no final, a Alemanha Ocidental sagrou-se campeã do mundo, pela segunda vez na sua história.
Nesse ano, o Estádio Olímpico de Berlim, mandado erigir por Adolf Hitler para os Jogos Olímpicos de 1936, fez parte do mapa do Mundial. Algo que não sucederia 14 anos depois, no Euro 1988. Curiosamente, essa decisão viria a gerar um dos mais fortes sinais de unificação que o futebol alemão poderia dar.
1988: o presidente que saltou o muro
A RFA ganhou a organização do Euro 88 com cinco votos, contra três da candidatura conjunta de Noruega, Suécia e Dinamarca, e zero da Inglaterra. "Foi limpinho", diz Rui Miguel Tovar.
As assistências, no Europeu, andaram à volta dos 50 mil adeptos por jogo; um contraste com a baixa adesão dos adeptos à Bundesliga, na altura: o Bayer Leverkusen venceu a Taça UEFA desse ano e teve uma assistência média de 9.000 espectadores.
O problema é que a União Soviética já não quis que Berlim fizesse parte do torneio, explica Frank Lussem, e a UEFA acatou a decisão, o que impediu a agora capital alemã de ser cidade-sede do Europeu. Munique, Hamburgo, Estugarda, Frankfurt, Colónia, Gelsenkirchen, Dusseldorf e Hannover foram as cidades escolhidas.
"Não havia Berlim, não havia Leipzig, como há hoje", enumera Tovar.