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Entrevista a Ricardo Oliveira

"​Não quero ver Varandas expulso porque o Sporting entrou em 'default' financeiro”

25 fev, 2022 - 09:50 • Carlos Dias

Ricardo Oliveira garante que tem solução para avançar com a reestruturação da SAD do Sporting, apesar de acusar Frederico Varandas de esconder os números reais. Rúben Amorim é treinador para manter. Relações com alguns empresários são para rever.

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Ricardo Oliveira, candidato da Lista B às eleições do Sporting, avança com preocupação com as contas da SAD. O gestor, de 51 anos, faz reparos à gestão de Frederico Varandas e espera que o atual presidente não acabe por seu expulso do Sporting, por causar danos financeiros ao causados ao clube.

Nesta entrevista à Renascença, Ricardo Oliveira garante ter investidores prontos para injetar dinheiro na SAD, apesar de não ter uma noção exata dos valores a que terá de recorrer, por não ter acesso total aos números.

O candidato censura ainda algumas contratações que, na sua opinião, não terão dedo de Rúben Amorim. O treinador é, sublinha Ricardo Oliveira, o segredo do sucesso. Antes da sua chegada, identifica, a direção cometeu vários erros de "casting".

Relação com Antero Henrique, por via de Rúben Amorim, aprovada. Relação com Jorge Mendes, "com troca de favores", censurada.

As eleições para a presidência do Sporting estão marcadas para 5 de março. A Renascença convidou os três candidatos - Nuno Sousa, Ricardo Oliveira e Frederico Varandas - para entrevistas sobre os motivos que os levam a apresentar projetos para o clube.

O que o leva a afirmar que tem um projeto vencedor para o Sporting?

Eu e a minha equipa temos um projeto vencedor porque conseguimos reunir o capital necessário para o Sporting fazer a restruturação financeira, o que permite resolver os problemas de curto prazo e renegociar a dívida a longo prazo e resolver de vez o problema das VMOC.

Tudo isto vai permitir fazer as reformas necessárias na estrutura Sporting, clube e SAD, e apostar em novos projetos que criem valor.

Foi o último a apresentar a sua candidatura. Sente que deveria ter chegado mais cedo?

Passei muito tempo a refletir sobre se devia candidatar-me ou não. O meu pai sempre me disse que para ter as coisas na minha vida devia querer, poder e merecer, e sempre tenho pautado a minha vida com esse ensinamento.

Claro que entrei tarde e sobretudo numa altura em que o Sporting vence, em que as pessoas confundem um bocado Rúben Amorim e Frederico Varandas. Rúben Amorim é um caso de sucesso, há um Sporting com dois anos sem Rúben Amorim e depois há um Sporting com Rúben Amorim.

Na minha opinião esta foi a única coisa que mudou, mas entendemos que tínhamos um dever moral, um dever de não olhar para o lado, um dever de ver factos reais e de ver que o Sporting vai por um mau caminho financeiro.

Mas a situação financeira do Sporting está assim tão mal ou está bem como diz o presidente Frederico Varandas?

Os números que Frederico Varandas apresentou estão longe da realidade. A posição financeira global do Sporting é muito má, o Sporting não se consegue financiar com juros baixos o que é sinal de que os mercados não confiam no Sporting.

Ricardo Oliveira diz que tem a solução para a tão falada restruturação financeira do Sporting, quando é que vai apresentar os investidores?

As eleições são no dia 5, eu digo sempre isto, todos os projetos bons encontram sempre financiamento, o mercado neste momento está cheio de liquidez, as pessoas não sabem onde investir o dinheiro. Tenho acesso a instituições com muita capacidade neste prolongamento, já lhes mostrei as contas dos últimos três anos, já discutimos o assunto e tenho a certeza de que posso ter um financiamento a juro mais baixo do que o Sporting tem vindo a financiar-se.

No devido momento as pessoas vão perceber quem são essas pessoas, quem são as instituições e perceberão que dinheiro não será um problema. Falamos em 150 ou 200 milhões de euros porque não temos muita informação, é-nos negada essa informação, sou acionista da SAD, vou às assembleias gerais da SAD e faço imensas perguntas a que não me respondem.

Na conversa que tive com o presidente Frederico Varandas percebi que os números não são o seu forte, o que não é mal nenhum porque eu não percebo nada de medicina. Senti que passa alguma informação que me deixa um pouco a pensar, mas isto é mesmo assim?

Se eu encontrar o Sporting numa posição só preciso de 150 milhões, se eu encontrar na situação que eu estou à espera então são necessários 200 milhões, até porque no dia 1 de julho de 2024, o Sporting recebe a última “tranche” do contrato com a NOS e as VMOC convertem em Dezembro de 2026. Se não for o Sporting a agarrar estes títulos, perde automaticamente a maioria da SAD.

Se o seu projeto não for o eleito pelos sócios, haverá futuro para o Sporting?

Vou fazer fé que a lista vencedora consiga desviar-se do caminho que tem trilhado e passe a trilhar um caminho mais responsável e com um maior conhecimento na área financeira. Se não se desviar, temos de nos lembrar que há uma cláusula no acordo com os bancos que diz que se o Sporting não pagar perde o direito a comprar esses títulos.

Pelos números que eu tenho, o Sporting vai ter de antecipar mais receitas ou desata a vender jogadores, que são os seus ativos, e assim enfraquece a equipa e deixa de ser competitivo. É isto que eu não quero, o que eu quero é dotar Rúben Amorim e os treinadores das outras modalidades com meios para competir internacionalmente.

Nós também ganhámos dois títulos, em 2000 e 2002, e pensávamos que o Sporting iria relançar-se.

Vamos lá falar do futebol. O Sporting é campeão nacional em título…

E este ano ainda estamos na luta e ainda podemos ser campeões e se não tivéssemos o terreno tão inclinado nos nossos jogos, seriamos campeões este ano também, mas esta é uma das fragilidades do Sporting, que se mexe mal ao nível das instituições de poder do futebol.

É uma aposta que não tem sido feita. Está nos meus planos tornar o Sporting mais influente. Quando digo influente não vamos confundir com todos os escândalos que por aí andam. O Sporting não quer ser influente para ser beneficiado, mas para não ser prejudicado.

Rúben Amorim, Hugo Viana, o diretor desportivo vai continuar se for eleito presidente?

Eles são funcionários do Sporting, nós vamos entrar e vamos estudar o que se passa no Sporting, porque há muitas coisas que não temos conhecimento. Rúben Amorim é um excelente treinador e gostava muito de contar com ele até porque ele é funcionário da SAD e não do Frederico Varandas e Hugo Viana também é funcionário do Sporting.

Claro que vou levar pessoas da minha confiança para cargos de gestão importantes. Terei um homem-forte para o futebol, mas não quero entrar por aí. As coisas no desporto não são assim tão fáceis. Existe um Rúben Amorim que até tem boas relações com os empresários Antero Henrique e Raúl Costa que até têm feito boas contratações. Aliás, essa é grande diferença.

Desde a entrada de Rúben Amorim deixámos de fazer disparates nas contratações. Durante dois anos o Sporting fez muitos disparates em contratações que custaram ao Sporting cerca de 30 milhões de euros. Jesés, Bolasies, enfim. Nos três primeiros mercados todos os jogadores que foram contratados não “calçaram” no Sporting.

Depois entra o Rúben Amorim e é isso de que eu falo, entra este treinador e o Sporting começa a contratar bem, as apostas nos jovens começam a sair bem e hoje em dia temos uma equipa competitiva para o campeonato. Ultimamente têm acontecido uns fenómenos interessantes, o Sporting fez alguns empréstimos e umas contratações por valores que dá para perceber que provavelmente são Antero Henrique e Raúl Costa que estão metidos nestes negócios, porque depois há outros negócios que envolvem montantes muito mais avultados e esses têm a ver com as dependências que o Sporting foi criando com outros agentes.

Com quem?

Não é dizer nada de negativo, mas o Jorge Mendes tem tido muita interação com o Sporting e têm sido feitas transações que claramente se vê que estão a pagar outras coisas. Não estou a falar de nada de ilegal mas há ali trocas de favores, de uma compensa a outra, mas que representam valores muito altos.

O que pensa do negócio Rúben Vinagre?

Não critico a capacidade do jogador, o que eu critico é o negócio financeiro do jogador. Vou ao transfermarkt, que fiquei a saber pelo presidente do Sporting que é o sítio de referência para ver o valor dos jogadores, e vejo que pelo menos nos dois primeiros anos o Sporting comprou sempre acima e vendeu sempre abaixo dos valores registados nesse site.

Quanto ao Rúben Vinagre, está avaliado em cinco milhões de euros pela totalidade do passe e nós comprámos 50% do passe por 10 milhões, ou seja, o jogador foi avaliado por 20 milhões.

Já fez saber que quer fazer a Cidade do Desporto em Oeiras ou Odivelas, para receber os treinos de todas as equipas de todas as modalidades. E o que vai acontecer à Academia de Alcochete?

Alcochete tem servido. A Academia até pode servir para fazer um negócio imobiliário que pode compensar o custo da Cidade do Desporto. A Academia não pode deixar de existir até esta Cidade do Desporto estar pronta.

O que pensa da proposta de um outro candidato, Nuno Sousa, que aponta para a possível readmissão de sócios que foram expulsos, como por exemplo os ex-presidentes Bruno de Carvalho e Godinho Lopes?

Acho triste que os dois últimos presidentes do Sporting tenham sido expulsos. Acho que não abona nada a favor do nosso clube. Podem ter feito coisas para merecerem isso, os sócios decidiram que sim, nomeadamente Bruno de Carvalho, mas eu não falo de ninguém em particular.

Eu não quero ver mais um presidente do Sporting expulso, eu não quero ver amanhã Frederico Varandas expulso porque o Sporting entrou em “default” financeiro.

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