09 ago, 2024 - 12:55 • João Carlos Malta
Mauro Paula é amigo de Vítor Bruno desde sempre. Aos sete anos já partilhavam o balneário dos escalões de formação da Académica. Foram colegas no curso de Ciências do Desporto e Educação Física e foi ele que apresentou Vítor à mulher Elsa.
À Renascença fala sobre os sentimentos do atual treinador do FC Porto aquando da separação de Sérgio Conceição. “Foi muito difícil para ele, porque efetivamente guarda um grande carinho, um grande respeito e uma grande consideração pelo Sérgio Conceição”, revela.
Mauro recorda que tudo aconteceu na semana em que os jogadores que seguiram mais de uma década na formação da Académica com José Viterbo, treinador que mais tarde foi também ele técnico principal da equipa de Coimbra, se juntaram para lhe fazer uma homenagem. Vítor faz parte desse núcleo duro e queria muito ter estado presente no evento, mas envolvido no turbilhão de acontecimentos e sentimentos que resultaram no convite para assumir o comando técnico do FC Porto, não o conseguiu fazer.
Só mais tarde é que ligou a Mauro para explicar a ausência. Era meia-noite do dia em que foi apresentado como treinador principal do FC Porto. “Disse-me: ‘Olá meu querido. És a primeira pessoa a quem estou a ligar. Foram dias muito difíceis para mim e resguardei-me’”. conta.
FC Porto
Treinador confirma que teve convites para técnico (...)
Segundo o amigo de Vítor Bruno a cronologia dos acontecimentos que levaram o conimbricense à liderança técnica dos azuis e brancos não é aquela que as pessoas mais perto de Sérgio Conceição quiseram fazer crer. E que lhe colou o rótulo de “traidor”.
"Foi muito difícil para ele, porque efetivamente guarda um grande carinho, um grande respeito e uma grande consideração pelo Sérgio Conceição”, Mauro Paula.
“O que passou na Comunicação Social não é verdade e isso custou muito”, explica Mauro. “Agora ele tem uma organização mental que lhe permite separar as coisas e mudar o chip. A partir do momento que assumiu a liderança do FC Porto é para ganhar”, acrescenta.
Foi mais de uma década de ligação profissional e pessoal, que começou no Olhanense, passou pela Académica, e depois seguiu para o Minho, com passagens por Braga e Vitória, para avançar posteriormente para França, no Nantes, até se ter sediado no Norte, nos últimos sete anos, no FC Porto.
Na altura da separação entre os dois, o filho Rodrigo Conceição escreveu nas redes sociais que "às vezes, ajudar as pessoas só serve para revelar a ingratidão delas".
A mulher de Sérgio, Liliana, foi mais longe no ataque. Depois de deixar uma mensagem de elogio e lealdade a Sérgio Conceição, a mulher do técnico considera que "não vale tudo para chegar ao topo" e afirma que a "ganância e a fome de poder destroem o mundo".
Pouco depois, Moisés Conceição também deixou uma mensagem no Instagram, em que fala de "respeito, fidelidade e lealdade", sobre uma imagem em que abraça o pai.
O jornal “O Jogo” escreveu também que Sérgio Conceição considerou que Vítor Bruno não foi frontal na hora de anunciar o próximo passo na carreira.
O então adjunto anunciou, no jantar de final de época da equipa técnica, que desejava sair e prosseguir carreira de treinador principal, sendo que teria um convite de um clube estrangeiro.
Mauro, o amigo de longa data do treinador dos azuis e brancos, conta que a decisão de “ele assumir o papel de treinador principal já estava decido há algum tempo, já tinha sido comunicado ao Sérgio Conceição”.
“O Sérgio Conceição já tinha compreendido e esta opção do presidente, André Villas-Boas, foi comunicada ao Sérgio Conceição sem antes ter sido falado com o Vítor”, relata Mauro Paula, que considera natural que, estando Conceição de saída e surgindo aquela oportunidade, “ele aceitá-la”.
Vítor Bruno terá tentado telefonar a Sérgio Conceição, mas os telefonemas já não foram atendidos.
"Esta opção do presidente, André Villas-Boas, foi comunicada ao Sérgio Conceição sem antes ter sido falado com o Vítor"
Mauro diz que Vítor lamenta “as relações não estarem de maneira nenhuma reatadas ou se calhar nem nunca vão estar”. “Não vão voltar a ter aquela amizade, aquela cumplicidade. E isso acredito que custa ao Vítor, porque o Vítor dá muita importância à amizade”.
Aliás, na apresentação como treinador FC Porto, a 7 de junho, o técnico natural de Coimbra confidenciou que “tenho a certeza que os jogadores me conhecem, e têm sempre a capacidade de perceber quem está diante deles, perceber os comportamentos e valores, ver quem os lidera num papel secundário. Sempre me comportei com verdade, autenticidade, a tentar garantir o máximo de sucesso para o clube”.
Terminou a dizer que não guarda rancor a ninguém.
FC Porto
Defesa mexicano foi um de quatro jogadores afastad(...)
Mauro acha que Conceição se sentiu traído porque “achou que já tinha havido uma conversa anterior entre o Vítor e o presidente do Porto, que não tinha acontecido. Quando houve uma reunião entre o Villas-Boas e o Sérgio Conceição, pelos vistos foi dito que havia dois cenários: um de corte com o passado e aí o Porto ia buscar um treinador estrangeiro e outra possibilidade, que era aquela que mais agradava ao presidente, a de haver alguma continuidade para dar a oportunidade ao Vítor”.
Mauro diz que a conversa entre Conceição e Villas-Boas correu bem até se chegar ao tema da sucessão. Algo que aconteceu “provavelmente porque [Sérgio] queria que houvesse um corte com o passado e que fossem buscar o treinador que nada tivesse a ver com ele. E levou a mal porque pensou que houvesse uma premeditação”.
Também José Viterbo, treinador de Vítor Bruno, ou “Bruno” como carinhosamente lhe chama, nas camadas jovens da Académica, não hesita em dizer que ele “continuará a ser o que sempre foi, uma pessoa de bem, um rapaz sério, incapaz de trair seja quem for”.
“Era incapaz de ser desleal para com todos aqueles com quem trabalhou ao longo de uma vida. Trabalhou muitos anos com o Sérgio Conceição. Acho que o ajudou muito. Também acho que aprendeu muito”, sublinha.
Viterbo diz que o seu ex-jogador não pode ficar com o rótulo de “traidor” e confessa que quando falou com ele no pós-separação de Conceição “achei-o muito abatido, achei-o muito em baixo, dei-lhe algumas palavras de conforto”.
"Era incapaz de ser desleal para com todos aqueles com quem trabalhou ao longo de uma vida", José Viterbo.
O mesmo considera que a confusão mediática que se seguiu era escusada. Acrescenta que há momentos da vida em que temos tendência para extremar posições, mas que isso “não nos leva a lado nenhum”.
“Eu acredito que ainda haverá espaço para um dia o Bruno e o Sérgio se reencontrarem, conversarem e voltarem a normalizar as suas relações. Porque acho que a vida é tão curta. É uma passagem”, analisa Viterbo.
Olhando para trás, Mauro conta que terá sido Augusto Inácio, com quem Vítor trabalhou na Naval como adjunto, que o terá aconselhado a Conceição.
Mauro não tem dúvidas de que cada um deles soube retirar o melhor do outro. Aliás, de Vítor ouvia muitos elogios àquele que até agora era líder da equipa técnica portista.
Contrato de dois anos para o antigo adjunto de Sér(...)
“O Vítor diz que ele é brilhante na forma como prepara os jogos, na forma como analisa os adversários, na forma como prepara a equipa. Nisso não há nada a dizer”, lembra.
Apesar das diferenças de personalidade, Conceição mais emotivo e explosivo e Vítor Bruno mais calmo e sereno, Mauro diz que a extrema competitividade de ambos os uniu. Não gostam de perder nem a feijões.
“Não acredito que haja alguém que seja mais competitivo do que o Vítor e eu acho que eles funcionavam muito bem. A determinada altura o Sérgio Conceição também percebeu que ele tinha que efetivamente assumir ali um papel preponderante”, descreve.
Para Mauro Paula as diferenças na forma de estar serão facilmente percecionadas na época que agora começa. “Dificilmente veremos o Vítor, mesmo na função que está agora, a ter aquela forma de estar e aquela forma de reagir”, explora.
O amigo de Vítor Bruno diz que que não acredita que este se “identificasse muito com aquelas confusões que se criavam, independentemente da competência e do mérito que o Sérgio Conceição tinha”.
FC Porto
O FC Porto derrotou o Sporting, por 4-3, com revir(...)
Em algumas situações de conflito com outros treinadores ou adversários, que se multiplicaram, Vítor partilhava com Mauro que sempre que “não concordou com algum comportamento, fez questão de o afirmar”.
Mas ao mesmo tempo o então adjunto de Sérgio Conceição enfatizava ao amigo que “fora do contexto do futebol, [Sérgio] é uma pessoa “de coração bom” e que sem querer protagonismo “ajudou muita gente, muito mais do que aquilo vem para a praça pública”.
"O Vítor diz que ele é brilhante na forma como prepara os jogos, na forma como analisa os adversários, na forma como prepara a equipa"
Esta faceta desconhecida da maior parte das pessoas, segundo Mauro, “ajudava o Vítor a ultrapassar os momentos menos bons e a aceitar aquela forma de ser”.
O amigo do treinador do FC Porto dá um exemplo concreto de como Vítor Bruno lidava com estas situações. “Lembro-me daquela confusão que houve com o treinador do Santa Clara, o João Henriques. Falei com o Vítor sobre isso e ele no dia não [disse nada], porque sair não valia a pena. Mas depois, no primeiro treino da semana, fez questão de dizer ao Sérgio Conceição que não tinha concordado com aquilo e acho que, no fundo, acabou por contribuir depois para aquele telefonema que houve entre o Sérgio Conceição e o João Henriques”.
Outro aspeto que suscitava curiosidade era o de como o atual treinador do FC Porto tendo feito parte da anterior equipa técnica lidaria com os proscritos de Conceição: Franco, Ivan Jaime, Toni Martinez e Fran Navarro.
Poderia ser considerado responsável também da decisão? “Acho que houve uma perceção clara de que aquilo passou por mais pelo Sérgio Conceição e pela direção do que propriamente qualquer outra pessoa”, começa por dizer Mauro.
“Acho que ele de certeza está a aproveitar isso para ter um efeito precisamente contrário”, afirma.
O mesmo considera que Vítor Bruno é bastante forte no trabalho da “parte psicológica” “e os jogadores devem reconhecer que ele de facto, não deve ter tido grande responsabilidade nisso”.
“A melhor forma de mostrá-lo aos jogadores é na forma como agora provavelmente os está a tratar e está a valorizar e a fazê-los sentir eles são parte da solução”, concluiMercado de transferências
Gregos ficam com opção de compra no final da época(...)
Viterbo pensa o mesmo: “Não nos podemos esquecer que houve alterações profundas na dinâmica e na estrutura diretiva do Porto. Foi um passo decisivo, importantíssimo para a reintegração destes quatro jogadores. Depois, não há nada que não se resolva com duas ou três conversas frontais saudáveis com aqueles que na altura foram afastados”.
Já em relação a Francisco Conceição, filho de Sérgio, Mauro acredita que Vítor se reuniu com ele “e por estar de consciência tranquila lhe explicou a cronologia correta dos acontecimentos”.
Aliás este amigo de Vítor Bruno acredita que Francisco Conceição será fundamental para um eventual reatar de relações.
“Vai perceber que, inclusivamente, as coisas são ao contrário daquilo que se veio a dizer. Ele se calhar até poderá fazer ver isso ao pai”, remata.
FC Porto
O FC Porto derrotou o Sporting, por 4-3, e conquis(...)