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FC Porto

Inquérito ao Portimonense "sem pernas para andar"

28 abr, 2022 - 12:00 • Luís Aresta

O jurista Diogo Soares Loureiro esclarece que teria de se provar um acordo tácito em benefício do Porto. A atuação do Conselho de Disciplina é questionável, mas legítima.

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Teria de se provar que houve um acordo tácito entre Portimonense e FC Porto, na goleada por 7-0, da 30ª jornada, no Estádio do Dragão, para que o processo de inquérito desencadeado pelo Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tivesse algum tipo de consequência para os dois clubes.

O esclarecimento de Diogo Soares Loureiro, jurista especializado em direito do desporto, surge a pedido da Renascença, a pretexto das dúvidas levantadas pelo órgão disciplinar federativo, na sequência do onze que o treinador do Portimonense, Paulo Sérgio, fez entrar em campo no Dragão, no passado dia 16 de abril e com que acabou cilindrado pelo Porto.

Houve ou não favorecimento ao FC Porto e a troco de quê? No fundo, é esta a dúvida que o Conselho de Disciplina pretende ver esclarecida pela Comissão de Instrutores da Liga de Clubes.

Diogo Soares Loureiro esclarece que atuação do órgão disciplinar da FPF está legitimada pelo regulamento disciplinar em vigor.

“Tem a ver com o artigo 63, que fala na corrupção entre os clubes que de alguma forma intervenham em acordos com vista a obtenção de determinados resultados. O número 1 desse artigo 63 fala na apresentação notória de uma equipa inferior ao habitual, ou outro procedimento que tenha esse mesmo propósito", diz, antes de prosseguir.

"Estou em crer que este processo de inquérito tem a ver com a averiguação para perceber se esta poupança e esta rotação de jogadores teve a ver com uma decisão unilateral do Portimonense ou se existiu algum contacto prévio, ou algum acordo que possa ter sido estipulado entre os clubes, porque aí sim, eventualmente poderíamos estar a configurar um ilícito disciplinar nos termos do regulamento”, esclarece.

O mesmo jurista enfatiza que teria se provar que houve um acordo tácito e um nexo de causalidade entre o desfecho do jogo no Dragão e o onze, sem vários jogadores titulares, com que o Portimonense apresentou frente ao Porto.

“O preenchimento do ilícito tem a ver precisamente com isso; tem obrigatoriamente de haver aqui uma intervenção concertada, entre os dois clubes no sentido de haver essa gestão, essa rotação por parte do Portimonense, neste caso seria com o objetivo de facilitar o jogo ao FC Porto”, sublinha.

"Sem pernas para andar"

Na opinião de Diogo Soares Loureiro, dificilmente este processo conduzirá a alguma penalização.

O jurista constata que este novo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol está muito ativo e considera desejável que, no futuro, tenha o mesmo comportamento perante casos idênticos.

“Vi um levantamento que demonstrava que nos últimos anos houve, pelo menos, setes situações em que as equipas mudaram mais de sete jogadores para um jogo da Liga. Convém relembrar que houve uma alteração do Conselho de Disciplina recentemente e sabemos que este CD está muito interventivo desde que tomou posse. Inclusivamente, levou à abertura de uma série de inquéritos que às vezes não tem acabado por não resultar em qualquer sanção", atira, antes de concluir.

"O Conselho de Disciplina está a tentar averiguar aquilo que considerou ser um resultado anormal para a realidade da nossa Liga, mas também não é caso único. O que se espera do CD é que, no futuro, quando voltarem a acontecer estas situações de muita gestão dos jogadores possa ter o mesmo tipo de intervenção. Eu acho que isto são coisas perfeitamente normais no âmbito de uma época desportiva, que é desgastante. Portanto, a não ser que haja aqui contactos prévios e se consiga provar que houve tentativa de aliciar o outro clube a fazer esta gestão, dificilmente este tipo de casos terão pernas para andar”, termina.

A SAD do Portimonense fala de um “ataque feroz, impiedoso e infundado”. A SAD lembra que os “acionistas cumprem escrupulosamente com as suas obrigações financeiras e têm como prioridade o engrandecimento das instalações de trabalho para a prática do futebol".

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