21 ago, 2024 - 09:10 • Eduardo Soares da Silva
Minutos depois de ser conhecido que o melhor do mundo de ténis, Jannik Sinner, tinha testado positivo em dois testes de doping, mas não iria ser suspenso, o português Gastão Elias disparou nas redes sociais: "O ténis tornou-se, oficialmente, uma piada".
Sinner, de 23 anos, testou positivo à substância proibida clostebol em duas ocasiões diferentes, em março deste ano, mas o caso só ficou a ser conhecido esta terça-feira. Clostebol é considerado um estroide anabolizante e o seu consumo é proibido desde 2020.
O italiano foi, no entanto, ilibado de responsabilidades uma vez que um tribunal independente aceitou a sua justificação para o teste positivo. De acordo com a versão apresentada, Sinner foi contaminado por contacto com o seu fisioterapeuta, que tinha aplicado um spray numa ferida sua.
Sinner não foi suspenso, mas perdeu os pontos e os prémios associados ao Masters 1000 em Indian Wells, prova durante a qual o italiano testou positivo e terá tido o seu rendimento impulsionado pela substância.
O canadiano Denis Shapovalov foi dos primeiros a criticar a decisão: "Regras diferentes para diferentes jogadores".
Em entrevista à Renascença, Gastão Elias subscreve a sensação de injustiça e também defende a ideia que Sinner está a ser protegido pelo seu estatuto atual de melhor do mundo.
"Os jogadores sempre acharam que os jogadores de topo eram beneficiados nestas situações de doping. Nunca foi comprovado, mas sempre se achou isso. O que aconteceu agora mostra um pouco que pode ser verdade. O que está em causa não é ele ter sido apanhado com uma substância. Eu amo o Sinner, acho-o o melhor da atualidade, é o meu jogador preferido, mas a questão é que as decisões não são iguais para todos", afirma.
Elias - que participou em três Grand Slams e chegou a ocupar o 57.º posto no "ranking" - reconhece que já teve amigos "que foram suspensos por doping por menos", e aí encontra o motivo para "a indignação dos jogadores".
Lucas Poille, antigo top-10 mundial, também demonstrou o desagrado com a decisão. "Talvez devêssemos parar de nos considerar idiotas, certo?", questionou.
O tenista português tem "a certeza absoluta" que, se fosse ele, teria sido suspenso. E argumenta com o quão apertadas são as regras antidoping.
"Um atleta é suspenso se tiver três faltas em testes. Diariamente, temos de dar uma localização porque podemos ter testes surpresa em qualquer dia. Quem preencher mal o documento ou não estiver no sítio exato à hora de uma visita leva uma advertência. À terceira, é suspenso. Acho isso menos grave do que testar positivo duas vezes. Tenho a certeza que um jogador de ranking mais baixo seria suspenso de imediato", explica.
O polémico Nick Kyrgios foi dos mais vocais em relação ao assunto. Considerou a decisão "ridícula" e respondeu várias vezes a comentários de outros adeptos.
O australiano contestou ainda a versão apresentada por Sinner: "Quer tenha sido acidental ou planeado, se testas duas vezes positivo a um esteroide, tens de ser suspenso dois anos. A performance foi aumentada. Creme de massagem... sim, claro". Acompanhou a mensagem com um "emoji" a revirar os olhos.
Gastão Elias reconhece que "não sabe se é possível ser contaminhado daquela forma", mas descreve o caso como "estranho".
"Há uns anos, lembro-me que o Gasquet foi suspenso porque beijou alguém na noite que tinha consumido algo. Foi o caso mais bizarro que me lembro, mas já houve outros, como jogadores contaminados por comerem carne em certos restaurantes na Colômbia... Eu não sou perito, não sei se essas coisas são possíveis. É só o facto de ser algo pouco comum", reconhece.
Vem aí o US Open, o último Grand Slam da época, e Jannik Sinner entra em prova com um dos favoritos e também no olho do furacão.
Gastão Elias recusa comparar o caso e o possível impacto para a modalidade ao de Lance Armstrong no ciclismo. Até porque Sinner não foi suspenso. Por isso, não imagina consequências a longo prazo para a modalidade que até hoje mantém a reputação de ser de "cavalheiros".
"Acredito que terá entrevistas mais tensas durante o torneio, mas acho que o caso vai acabar por ir desaparecendo passado umas semanas, porque ele não foi suspenso. Não deixa de ser um escândalo, mas o facto de o deixarem competir faz com que não seja tão grave como o do ciclismo ou outros", conclui.