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Jogos Olímpicos

O que é preciso para uma modalidade se tornar olímpica?

09 ago, 2024 - 13:15 • Diogo Camilo

O breaking faz a sua estreia em Paris esta sexta-feira, já sabendo que não estará nos Jogos de 2028. Pelo caminho ficaram as candidaturas do parkour e do corta-mato, rejeitadas pelo Comité Olímpico. Como é o processo de uma modalidade para se tornar olímpica e que modalidades se estreiam ou regressam em 2028?

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É na Praça da Concórdia, onde se realizaram as provas de skate, que esta sexta-feira começa a competição de breaking. A única modalidade estreante dos Jogos de Paris terá uma portuguesa, Vanessa Marina, e sucede à escalada, ao surf e ao skateboarding, que tiveram a sua primeira participação em Olimpíadas em Tóquio.

A entrada do breaking nos Jogos Olímpicos acontece com a modalidade a já saber que não fará parte dos Jogos de 2028. Em Los Angeles, teremos o regresso do críquete, do lacrosse e do softbol, uma variação do basebol, além da inclusão do flag football, uma espécie de futebol americano com menos contacto físico, e do squash.

O vai e vem das modalidades nos Jogos Olímpicos não é novo. Nas primeiras edições alguns eventos apareceram apenas por uma vez - e na maioria delas um país dominou as medalhas. Alguns deles inusitados, como o jogo da corda ou a pelota basca, em que a Espanha venceu o ouro sem competir nos Jogos de 1900.

Mas afinal o que é preciso para uma modalidade ser olímpica?

Para uma modalidade se tornar olímpica, é preciso primeiro que seja reconhecido como tal pelo Comité Olímpico Internacional (COI), que tenha uma federação e um protocolo antidopagem, entre outras condições.

Mas ser reconhecido como uma modalidade não chega: o xadrez e o bowling, por exemplo, são legitimados como tal pelo COI, mas não fazem parte dos Jogos Olímpicos.

É preciso então que a federação de cada modalidade avance com uma candidatura que deve obedecer aos critérios da Carta Olímpica. Para que seja aceite, a modalidade tem de ser praticada por homens de pelo menos 75 países e quatro continentes e por mulheres de pelo menos 40 países e três continentes.

A estes critérios junta-se algo mais subjetivo: a candidata a modalidade olímpico tem de “aumentar o mérito e encanto” dos Jogos Olímpicos, ao mesmo tempo que mantém e reflete as suas tradições.

E há ainda outras regras que proíbem a inclusão de modalidades mentais, baseados apenas na capacidade intelectual como o xadrez, ou de disciplinas dependentes de propulsão mecânica - que exclui o automobilismo.

Depois cabe ao COI decidir se a atividade é adicionada aos Jogos Olímpicos como desporto, como modalidade de um determinado desporto ou como evento ou competição dentro de uma modalidade já existente.

O futsal e o hóquei em patins têm hipóteses de entrar?

À partida, estas alíneas tornam quase impossível ao hóquei em patins, muito praticado em Portugal, ser uma modalidade olímpica.

Em 1992, nos Jogos de Barcelona, foi uma das três modalidades de demonstração incluídos no programa olímpico - Portugal terminou a competição em 4.º lugar, fora das medalhas.

No caso do futsal, a bola está do lado da FIFA, que não abdica de realizar o Campeonato do Mundo por acontecer no mesmo ano dos Jogos Olímpicos - este ano, o Mundial terá início a 14 de setembro, no Uzbequistão.

A modalidade fez parte dos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018, em Buenos Aires, que serve de porta de entrada a muitos das disciplinas que fazem agora parte da competição. Na altura, Portugal levou o ouro no torneio feminino.

Que modalidades foram rejeitadas recentemente?

Nos últimos Jogos Olímpicos, de Tóquio, as artes marciais chinesas, o wakeboarding e a patinagem de velocidade foram algumas das modalidades que ficaram pelo caminho.

Para Paris, as disciplinas como o corta-mato, o parkour e o remo costeiro viram as suas candidaturas rejeitadas, enquanto que para os próximos Jogos Olímpicos, de 2028 em Los Angeles, o breaking, modalidade olímpica em 2024, e o karate, que fez parte dos Jogos de 2020 em Tóquio, não viram luz verde.

A estes juntam-se as modalidades motorizadas, que tiveram lugar apenas uma vez em Olimpíadas - no longínquo ano de 1900 em Paris -, e que também foram rejeitados, a par com o kickboxing.

Mas ser rejeitado não significa necessariamente que a modalidade desapareça do programa olímpico ou que não tenha hipóteses de voltar quatro anos depois. O ténis, por exemplo, fez parte das Olimpíadas até 1924, deixou de ter provas durante mais de 60 anos e voltou apenas em Seul, nos Jogos de 1988.

O golfe é o exemplo mais recente, tendo feito parte de duas das três primeiras edições dos Jogos Olímpicos da era moderna e voltado apenas em 2016, no Rio de Janeiro.

O surf foi incluído nos Jogos Olímpicos em 2020 e estará também em 2028. Foto: Fazry Ismail/EPA
O surf foi incluído nos Jogos Olímpicos em 2020 e estará também em 2028. Foto: Fazry Ismail/EPA
O parkour esteve às portas de entrar nos Jogos Olímpicos de Paris. Foto: Bagus Indahono/EPA
O parkour esteve às portas de entrar nos Jogos Olímpicos de Paris. Foto: Bagus Indahono/EPA
O karate esteve nos Jogos de Tóquio, em 2020, mas não marcou presença em Paris nem estará em Los Angeles, em 2028. Foto: Laurent Gillieron/EPA
O karate esteve nos Jogos de Tóquio, em 2020, mas não marcou presença em Paris nem estará em Los Angeles, em 2028. Foto: Laurent Gillieron/EPA
O softbol, uma variação do basebol, esteve nos Jogos Olímpicos em 2020 e voltará em 2028. Foto: Jiji Press/EPA
O softbol, uma variação do basebol, esteve nos Jogos Olímpicos em 2020 e voltará em 2028. Foto: Jiji Press/EPA

Que novas modalidades vão estar em 2028?

Em Los Angeles haverá três regressos e duas estreias entre as disciplinas olímpicas. O críquete, uma das modalidades mais praticadas em todo o mundo, é uma das modalidades que volta, depois de uma curta passagem em 1900, em que só competiram a Grã-Bretanha e a França.

O lacrosse regressará às Olimpíadas e também a Los Angeles, onde surgiu para demonstração nos Jogos de 1932, depois de 80 anos sem constar do programa olímpico. O softbol, uma variação do basebol, não esteve em Paris, mas esteve em Tóquio e também voltará a ser modalidade olímpica.

O squash junta-se a uma modesta lista de disciplinas de raquetes introduzidos nos Jogos Olímpicos, como o ténis, o ténis de mesa, o badminton, o rackets e o jeu de paume - os últimos dois de curta duração, ainda no início do anterior milénio.

O flag football também faz a sua estreia em Jogos Olímpicos, uma vertente do futebol americano com menos contacto físico que a versão original. Na primeira vez que as Olimpíadas se realizaram em Los Angeles, em 1932, o futebol americano surgiu como modalidade de demonstração.

Além destes, três modalidades que estiveram em Tóquio e vão estar em Paris (surf, skateboarding e escalada) tornar-se-ão disciplinas residentes a partir dos próximos Jogos Olímpicos, passando o total de modalidades para 31.

Que modalidades podem estar prestes a desaparecer?

Nas preparações para os Jogos Olímpicos de Tóquio e de Paris, em 2013, o COI chegou a discutir a possibilidade de deixar de parte algumas modalidades para abrir espaço a novos.

As modalidades a serem preteridas - ou que estariam pelo menos vulneráveis a serem retirados - seriam o pentatlo moderno e taekwondo mas, em vez disso, o Comité Olímpico Internacional optou por recomendar a retirada da luta livre e luta greco-romana do programa, a única modalidade dos Jogos de Verão sem vertente feminina.

No entanto, no final do mesmo ano, foi confirmado que essa disciplina continuaria nos Jogos pelo menos até 2024.

Em relação a Jogos Olímpicos recentes, apenas o basebol, o softbol e o karate, que marcaram presença em Tóquio, foram descontinuados em Paris, com softbol a ter regresso marcado para 2028.

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