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Objetivo para Pequim 2022 é “melhorar resultados das últimas participações”

04 fev, 2022 - 06:32 • Pedro Castro Alves

Pedro Farromba, chefe de missão portuguesa para os Jogos Olímpicos de inverno, não esconde que os atletas nacionais partem com uma “diferença muito grande” para os “atletas de topo”, mas o apoio tem sido “significativamente maior”.

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Pedro Farromba, presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal e chefe de missão para os Jogos Olímpicos de Inverno, parte para a China com a expectativa de “melhorar os resultados” conseguidos nas últimas participações.

A competição arranca esta sexta-feira e decorre até dia 20 de fevereiro, em Pequim. Portugal apresenta-se nos Jogos Olímpicos representado por três atletas, todos estreantes a este nível.

Ricardo Brancal, de 25 anos, natural da Covilhã, compete no esqui alpino em slalom e slalom gigante. O estudante mudou-se para Itália em 2020 para preparar a competição.

Vanina de Oliveira, de 19 anos, nasceu e reside em França. Filha de mãe portuguesa, a atleta compete também no esqui alpino, na disciplina de slalom. A luso-francesa é a personificação “de um caminho que tem vindo a ser feito” para juntar atletas formados em Portugal a outros “oriundos das comunidades portuguesas”, que treinam a um “nível mais elevado”.

José Cabeça, de 25 anos, é natural de Évora e reside entre Portugal e o Dubai. Originalmente triatleta, o alentejano compete em esqui de fundo, na prova de 15 km clássicos, apesar de ter começado a esquiar há apenas dois anos. Esta rápida evolução pode “fazer parecer fácil, mas seguramente não o é”, sendo fruto “de um esforço muito grande”.

Esta é a quinta participação portuguesa consecutiva em Jogos Olímpicos de Inverno, o que mostra “uma grande regularidade”.

Danny Silva, de Almeirim, foi o único representante nacional nas olimpíadas de Turim 2006 e Vancouver 2010, onde competiu em esqui de fundo, nos 15 km estilo livre. Em Sochi 2014, Camille Dias e Arthur Hanse foram os atletas portugueses presentes, ambos em esqui alpino, e em Pyeongchang 2018, Arthur Hanse repetiu a presença, acompanhado de Kequyen Lam, no esqui de fundo.

Pedro Farromba, quais são as expectativas para esta participação nos Jogos Olímpicos de inverno?

A expectativa é sempre ir melhorando os resultados a cada edição. Como é sabido Portugal não tem tradição de participações com equipas grandes em Jogos Olímpicos de Inverno. Temos mantido uma regularidade muito grande de participação, esta é a quinta consecutiva, embora sempre com equipas de dimensão reduzida, neste caso vamos levar três atletas.

Por isso, a nossa expectativa é ir evoluindo e melhorando os nossos resultados, sendo que os nossos atletas têm uma diferença muito grande em relação aos atletas de topo, que têm mais de 300 dias de neve por ano. Entre os nossos, mesmo a Vanina, que vive em França, não chega perto disso.

Que impacto teve a pandemia na preparação dos atletas e de que forma vai afetar esta participação?

Tudo é diferente. Nas outras edições dos Jogos Olímpicos já teríamos ido pelo menos duas vezes à China, para conhecer as instalações, alojamentos, distâncias. Nesta edição foi tudo feito de forma virtual. Não haver público será também estranho.

Teremos um regime de bolha, desde o momento em que aterrarmos em Pequim e até virmos embora. Só temos deslocações entre as aldeias olímpicas e os locais de treino e de competição. Nesse aspeto será tudo bastante diferente.

Os três atletas portugueses são estreantes em Jogos Olímpicos. José Cabeça é natural de Évora, vive entre Portugal e o Dubai e pratica esqui há apenas dois anos. Surpreende-o esta presença nos Jogos? Faz parecer fácil estar presente.

O José pratica triatlo e por isso tem um conjunto de características e um ritmo de treino que é característico das provas de fundo, como é o esqui de fundo. O facto de ele ter essa preparação e uma grande vontade de estar no Jogos Olímpicos fez com que fizesse um esforço imenso para lá estar.

É uma modalidade com alguma técnica, mas principalmente de resistência, que foi o que lhe permitiu a evolução. Parecendo fácil, seguramente que não o é, porque há milhares de atletas que não se qualificaram. O José conseguiu porque se dedicou de corpo e alma à preparação e é um atleta muito esforçado e focado nos objetivos, por isso é que conseguiu esta oportunidade.

Vanina Oliveira tem mãe portuguesa, mas nasceu e vive em França. À semelhança de outras modalidades, procurar estes atletas na diáspora pode ser o melhor caminho para desenvolver os desportos de inverno em Portugal?

É um caminho que temos vindo a seguir, a par dos atletas formados em Portugal. O Ricardo Brancal é um exemplo de alguém que começou com a federação aos 12 anos e tem vindo a fazer muitas provas.

Combinamos as duas formas: atletas oriundos das comunidades portuguesas, que são tão portugueses como os que vivem cá, e os atletas que se desenvolvem em Portugal. Desenvolvemos as duas coisas a par.

O facto de podermos treinar com atletas melhores [de países com as modalidades mais desenvolvidas] também melhora os atletas residentes em Portugal. Temos procurado fazer um misto de atletas, com o objetivo de melhorar o nível destas modalidades.

Obviamente é complicado desenvolver atletas para desportos de inverno ao ar livre em Portugal, mas há também modalidades de pavilhão. Como é possível evoluir e o que tem vindo a ser feito nesse sentido?

A Federação de Desportos de Inverno inaugurou em dezembro uma pista de gelo na Serra da Estrela. Tem metade da dimensão olímpica, mas permite-nos começar a desenvolver modalidades como a patinagem artística, o hóquei no gelo ou o curling.

No caso da patinagem e do hóquei, temos já academias de formação com 40 crianças, mas não chega. Temos um projeto para construir o primeiro pavilhão permanente de desportos de inverno em Portugal, com uma pista olímpica, que nos permitirá desenvolver as modalidades e atrair jogos e competições internacionais.

No hóquei no gelo, por exemplo, há disponibilidade para podermos realizar competições internacionais em Portugal. É um trabalho que temos vindo a fazer, em conversa com municípios, para encontrar uma localização para esta pista, que ocupará uma área de oito mil metros quadrados.

Tem sentido algum aumento no apoio aos desportos de inverno em Portugal, tanto ao nível institucional como do público?

Diria que sim a ambos. Temos mantido uma ótima relação com o Governo, através da secretaria de Estado, do IPDJ e do Comité Olímpico. Temos conseguido apresentar os nosso projetos para que os nosso atletas possam ser apoiados num percurso de preparação olímpica, para podermos ter atletas a representar o nosso país.

Também temos sentido um crescente interesse do público pelas participações nos Jogos e é importante para os atletas perceber que existe este apoio. Há muitos portugueses que, por lazer ou turismo, praticam ski ou snowboard e esses olham para estes atletas com algum orgulho, por se verem representados no maior evento desportivo do mundo.

Temos sentido um apoio significativamente maior, que é derivado de todo o trabalho que a federação e o Comité Olímpico têm feito. Um trabalho de proximidade que queremos continuar a fazer nos próximos anos, para continuar este processo, quase evangélico, de ir apresentando os desportos de inverno no nosso país.

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