06 jan, 2025 - 17:30 • Eduardo Soares da Silva
O Boavista corre o risco de fechar portas. Num debate nos estúdios da Renascença, os dois candidatos à presidência do clube, Filipe Miranda e Rui Garrido Pereira, concordam que as eleições marcadas para o próximo sábado, dia 11 de janeiro, são decisivas.
"A minha candidatura é um ato de coragem por perceber que o clube está na iminência de poder fechar", diz Filipe Miranda, gestor financeiro e antigo guarda-redes de futsal do clube.
O outro candidato, o advogado Rui Garrido Pereira, concorda: "É uma situação limite".
"Temos problemas ao nível mais básico. Há ordenados em atraso aos funcionários e não há meios para resolver", acrescenta o candidato.
Miranda garante que propôs a Garrido Pereira que "cada um pagasse metade do ordenado de dezembro para que os funcionários tivessem um Natal digno", mas alega que não teve resposta.
Filipe Miranda e Rui Garrido Pereira garantem ter investidores preparados para resolver os problemas financeiros mais imediatos que o clube atravessa, mas nenhum deles abre o jogo em relação à sua identidade.
Garrido Pereira "compreende a curiosidade e o pessimismo porque não é a primeira vez que há promessas de investimento que acabam por falhar", mas garante que não revela por "motivos estratégicos".
O advogado assume que já negociou com Gérard López, atual detentor da maioria do capital da SAD, a compra das suas ações. A filosofia de Garrido Pereira é ver clube e SAD "como um só".
"Somos frontalmente contra quem tenta, tentou e continua a tentar dividir o clube e a SAD. Não faz sentido separar os dois porque quem anda na rua, as perguntas que recebemos são sobre a SAD e o futebol. Não faria sentido não cuidar da SAD", diz, antes de acrescentar.
"Já encetei contactos com o senhor Gérard López. Não queria falar muito sobre isso, foi uma conversa privada, mas houve, de facto, negociações. Isso responde indiretamente à questão, mas é evidente que ninguém tomará a SAD por assalto, até porque o clube tem 10% da SAD e dois administradores não-executivos. Há muito para lá da ajuda com dinheiro. Um dos grandes problemas do Boavista tem sido a gestão", explica.
Filipe Miranda tem uma visão oposta e não pensa numa entrada na SAD: "Claro que a SAD me preocupa, mas o meu foco está no clube".
O antigo guarda-redes de futsal, com uma ligação de duas décadas ao clube, revela ainda que já conseguiu colocar em marcha um investimento no futebol feminino, para que a equipa não caia ao terceiro escalão e com uma visão de futuro a lutar pelo título de campeão nacional.
"O futebol feminino é histórico no clube. No imediato, já arranjei um investimento, que já está em curso, para que a equipa não desça. E ainda não sou presidente. O investimento permite a criação de uma SAD que, no futuro próximo e com dividendos para o clube, lute com os grandes como Benfica e Sporting pelo título de campeão", revela.
Miranda contesta ainda a possibilidade de Garrido Pereira comprar a SAD: "Do que sei, a conversa com o Gérard López não correu muito bem. Duvido que venda a sua parte".
Os dois candidatos concordam que o investimento de Gérard López com a compra do clube não correu bem. Garrido Pereira realça que a sua entrada foi importante para que o clube não fechasse portas na pandemia, mas desde então não houve melhorias.
"Os boavisteiros entenderam que iria ser um investimento, foi mais um financiamento. 30 milhões de euros não é pouco dinheiro, mas percebemos que não foi bem rentabilizado. Se estamos há quatro janelas sem poder contratar jogadores, percebemos que foi mal rentabilizado", atira.
Filipe Miranda acusa a gestão de ser "pouco transparente": "A SAD deve mais de três milhões ao clube e no PER aparecem 280 mil euros".
No fim do debate, Filipe Miranda revela que houve uma tentativa de Garrido Pereira criar uma lista única para as eleições, mas considerou que a proposta reduzia a sua candidatura.