12 dez, 2024 - 10:50 • Pedro Castro Alves
À segunda-feira à noite há treino de benjamins e infantis. Com a chegada do inverno, as noites frias e ventosas junto à Serra da Arrábida convidam a maioria dos jovens a ficar em casa e complicam a vida ao treinador, o primeiro a chegar ao Estádio António Henrique de Matos.
Os primeiros jovens corajosos começam a chegar pelas 18h30, alguns a pé, sozinhos, outros acompanhados pelos pais (a maioria com cara de quem preferia ter ficado em casa).
“Mister, hoje não consigo, magoei-me na aula de Educação Física”, diz uma das crianças, com cerca de 12 anos. “Não faz mal, pede para ligarem à fisioterapeuta que mora aqui perto, pode ser que te consiga ajudar”, responde o treinador, que vê assim mais uma baixa para o treino, depois de ao longo do dia ter recebido várias chamadas de pais a dar conta de constipações dos filhos.
Pelas 19h00, chega Fernando Felicidade, presidente do clube, após um dia de trabalho.
As primeiras conversas são sobre o treino e os jogos do fim de semana, das camadas jovens até à equipa de veteranos. Há jogadores suficientes? É uma questão importante.
Esta é a realidade do Botafogo Futebol Clube de Cabanas, situado numa pequena aldeia do município de Palmela, no distrito de Setúbal.
O nome pomposo, igual ao do clube onde Artur Jorge se sagrou campeão brasileiro e sul-americano, contrasta com a realidade do futebol amador. Um é o campeão do Brasil e da Taça Libertadores, o outro é o 11º classificado da 1ª Divisão distrital da AF Setúbal.
“Isto tudo começou quando estavam aqui a eletrificar a nossa terra", explica Fernando Felicidade a Bola Branca. "Eram uns cidadãos brasileiros que andavam aí a trabalhar e nós, nessa altura, estávamos para fundar um clube. Precisávamos de um nome e, de conversas de café com essas pessoas, surgiu o nome Botafogo. Pelos vistos, era o clube que estava na ribalta no Brasil na altura. Surgiu assim e ficou o Botafogo Futebol Clube até hoje."
Um nome com origem no Brasil, a quase oito mil quilómetros de distância e que já tem despertado o interesse de alguns adeptos brasileiros.
“Há tempos houve um brasileiro que até nos pediu um cachecol para enviar para o avô, que é sócio do Botafogo do Brasil, porque achou curioso existir também o nome Botafogo aqui em Portugal”, conta o presidente.
Com as conquistas do Botafogo na Libertadores e no Brasileirão, sob o comando de um treinador português, Fernando Felicidade aproveita para lançar um desafio a Artur Jorge.
“Fazemos um convite para vir aqui a Cabanas conhecer o Botafogo. Se calhar ele nunca ouviu falar, mas, quem sabe, seja uma hipótese. Era uma maneira de nos dar a conhecer e de ele também levar um bocadinho da nossa história”, diz.
Convite lançado, do Botafogo de Cabanas para o Botafogo do Rio de Janeiro.
O clube da Associação de Futebol de Setúbal conta com cerca de 45 jogadores nas camadas jovens, 20 na equipa de veteranos e 28 na equipa sénior.