27 set, 2024 - 08:40 • Inês Braga Sampaio , Eduardo Soares da Silva
"Uma 'durazita' ou outra e depois passa." É assim que Luís Montenegro e Pedro Nuno resolvem os diferendos e impedem que a relação azede. Os do Varzim, claro, porque entre o primeiro-ministro e o líder da oposição o clima aparenta ser um pouco mais tenso.
Os dois jogadores do histórico Varzim Sport Clube têm conselhos a dar aos seus homónimos da política, que esta sexta-feira se reúnem para debater o Orçamento do Estado.
A coincidência não passa ao lado. Luís Montenegro até prefere ser tratado por Miguel, o seu segundo nome, e Pedro Nuno é Sousa em vez de Santos. No entanto, nenhum dos dois é indiferente ao acaso de terem os nomes dos dois líderes partidários mais relevantes da política portuguesa e jogarem na mesma equipa. Tanto assim é que chegam do treino compenetrados em conversa sobre o tema.
"Já estamos a discutir política", atira um companheiro, antes de entrar no túnel.
Minutos mais tarde, já em entrevista à Renascença, Montenegro e Pedro Nuno reconhecem que é difícil escapar à coincidência de partilharem nome com os líderes de PSD e PS. Nem o fisioterapeuta do Varzim o permitiria.
"Logo quando vim para cá, o nosso fisioterapeuta, o Sérgio [Villas Boas], começou logo com a brincadeira, por causa do nome", conta Montenegro, médio-centro, de 23 anos, entre gargalhadas.
"Sinceramente, nunca me lembrei do Pedro Nuno. Mas já tinham falado muita vez se eu tinha alguma relação familiar com o político Luís Montenegro", refere.
"Foi o fisio e o roupeiro. O nosso roupeiro disse logo: 'Eh, pá, temos aqui os nossos dois principais políticos'", acrescenta Pedro Nuno, defesa-central, de 24 anos, que também se lembra de fazer logo a associação quando o atual líder do PS se candidatou a primeiro-ministro.
Ao contrário dos seus homónimos, o Luís Montenegro e o Pedro Nuno do Varzim dão-se bem. Que o diga o central, que tem no campo a função oposta da do outro Pedro Nuno no Parlamento: proteger as costas do companheiro.
"Entendemo-nos muito bem, eu gosto muito de jogar com o Montenegro. É uma pessoa de quem gosto, não só como jogador mas também como pessoa. Dou-me muito bem com ele, temos uma boa relação", afiança.
Montenegro faz suas as palavras do companheiro de equipa: "Não tem nada a ver com a parte dos políticos, a nossa relação é muito boa, mesmo. Entendemo-nos bem, tanto dentro de campo como fora."
Para o médio, o segredo do bom entendimento "é levar as coisas com leveza, não criar pressão dentro da equipa e no balneário".
"Todos os dias vimos para aqui fazer o que gostamos e isso acaba por ajudar nas relações também dentro do balneário", assinala.
Quando discordam ou se desentendem, a resolução é fácil, conta Pedro Nuno: "Uma 'durazita' ou outra e depois passa. São coisas de treino normais, depois no balneário já está tudo bem."
"É, fica dentro do campo", concorda Montenegro.
Passa por aí a recomendação que ambos dão aos dois rivais políticos, que esta sexta-feira discutem o Orçamento do Estado para 2025.
"Que tenham a mesma relação que nós os dois temos", aconselha Pedro Nuno, detalhando: "Umas 'durazitas' onde tem de ser, mas depois cá fora sejam grande amigos e, se tiverem de ir jantar, vão tranquilos. Sempre na palhaçada, que é o mais importante. É assim que temos de levar as coisas."
Montenegro sublinha que "o mais importante é o futuro do nosso país", pelo que os dois políticos "não podem estar a olhar para interesses pessoais". Esse é, precisamente, um dos paralelismos que se pode estabelecer entre o futebol e a política.
"Mesmo entre outras equipas, nós levamos muitos amigos do futebol. Acho que isso acaba por passar um bocadinho também para a parte da política, porque existem partidos diferentes, com equipas diferentes", salienta.
Pedro Nuno reforça a ideia: "Acima de tudo, que seja tudo como uma equipa, que não olhem todos individualmente para o que cada um tem de fazer, mas sim olhar para um fim comum, que é o mais importante, que é uma equipa. Que alcancem os seus objetivos também, mas na política, que é o que nós fazemos aqui em campo."
Ambos começaram a jogar futebol aos cinco anos.
Nascido em Coimbra, Montenegro deu os primeiros pontapés na bola no FC Offside. Depois, passou nas formações de Académica, Beirense e Condeixa, onde iniciou o percurso como sénior. Também esteve no Benfica, antes de rumar a Real SC e depois Amora, até chegar ao Varzim, esta temporada.
Gaiense a vida toda, Pedro Nuno iniciou o seu percurso na escola de futebol Hernâni Gonçalves, em que esteve cinco épocas, seguidas de passagens pelas escolas de FC Porto, Rio Ave e Vitória de Guimarães. No primeiro ano de sénior, o azar bateu-lhe à porta: uma lesão grave que o obrigou a parar "bastante tempo" e ir para a distrital por uma temporada, no Aliados de Lordelo. Seguiu carreira no Campeonato de Portugal, primeiro no Vila Meã e depois no São João de Ver, com que garantiu a subida à Liga 3, e esta época rumou ao Varzim.
Para já, o percurso no Varzim "está a ser muito positivo", garantem os dois jogadores.
"Começámos bem o campeonato, de seguida tivemos uma derrota que nos abalou um bocadinho, mas depois reagimos bem e está a ser muito positivo", frisa Pedro Nuno, que enaltece "o apoio de todos os adeptos" e o plantel "bastante unido": "Temos tudo para fazer uma época bastante positiva."
Garantida a passagem à terceira eliminatória da Taça de Portugal, por isso vamos continuar e jogo a jogo tentar alcançar os nossos objetivos.