Siga-nos no Whatsapp

Futebol Feminino

Presidente da Liga F sugere liga ibérica feminina: "Seria um produto diferente e interessante"

12 set, 2024 - 11:40 • Inês Braga Sampaio

Em entrevista à Renascença, Beatriz Álvarez defende a criação de "sinergias" entre Portugal e Espanha e de produtos diferenciados do futebol masculino. A presidente da Liga espanhola também considera importante mostrar às jogadoras que há um futuro a seguir no futebol feminino depois da carreira de futebolista.

A+ / A-

Porque não criar uma liga ibérica feminina? A ideia, "lançada para o ar", é da presidente da Liga espanhola, Beatriz Álvarez, para quem esta seria uma forma de criar um produto diferenciado para o futebol feminino.

Em declarações exclusivas à Renascença, Beatriz Álvarez salienta que "o crescimento do futebol feminino no mundo em geral, a nível mundial e social, sobretudo, vai criar sinergias". Essas "sinergias" verificam-se no número crescente de jogadoras portuguesas em Espanha, seis, e de espanholas em Portugal, também seis. São relações simbióticas que, no entender da presidente da Liga F, é necessário aproveitar e potenciar.

"Criou-se o World League Forum, um encontro de ligas profissionais femininas, nem há um ano. Haverá simbioses na Península Ibérica, evidentemente, e porque não pensar num produto diferenciado, uma liga ibérica? Digo algo assim, lançando um pouco a ideia para o ar, mas é certo que tem de haver essas sinergias. Afinal, somos dois países que estão unidos em território. Certo é que essa sinergia tem de existir e faria crescer as duas ligas e o futebol feminino em geral", destaca.

Beatriz Álvarez sublinha a importância de traçar linhas claras de separação em relação à vertente masculina: "A verdade é que, no futebol feminino, uma das questões que perseguimos é diferenciar-nos do futebol masculino em todos os países, para tentar evitar essa comparação contínua, que é um entrave e que nos prejudica sempre. Então, seria uma forma de criar um produto diferente e podia ser interessante, não?"

Numa entrevista ao diário espanhol "As", a presidente da Liga F afirmou que, a nível desportivo, até o Sporting de Huelva competiria na Liga norte-americana, que é considerada uma das melhores do mundo, se não mesmo a melhor. Declarações que geraram bastante polémica.

"Muito a aprender" dos EUA, mas desportivamente "não há nada que invejar"


Nesta entrevista a Bola Branca, Beatriz Álvarez sublinha que essa afirmação surgiu no contexto de uma pergunta que lhe foi feita "sobre se um clube médio da Liga espanhola estava muito, muito distanciado de um clube médio dos Estados Unidos" e esclarece as suas palavras.

"Eu disse que a nível de marketing, publicidade, abertura de estádios, estamos ainda muito longe dos Estados Unidos, também porque a nossa Liga foi criada recentemente - levamos somente dois anos -, entre outros fatores. Mas para lá da justificação do tempo, evidentemente que nos falta percorrer esse caminho e que podemos importar muitas coisas da Liga americana. Espanha e o resto das ligas. Temos muito que copiar dos grandes exemplos. O que eu disse foi que, a nível desportivo, Espanha não tem nada por que invejar os Estados Unidos", salienta.

A presidente da Liga F vinca que Espanha tem "a melhor matéria-prima, as melhores jogadoras do mundo, um clube que é uma referência, o Barcelona, que é um dos melhores do mundo, se não o melhor".

"Claro que, como presidente e máxima representante, mostro orgulho no que temos, mas também não sou ingénua. Levo 30 anos da minha vida nisto e sei perfeitamente o caminho que ainda nos falta percorrer para igualar ou chegar aos objetivos e metas que queremos", frisa.

Um dos problemas que Beatriz Álvarez identifica é, também, o desnível entre o Barcelona e todos os outros da Liga espanhola. Nos últimos 13 anos, as catalãs conquistaram nove títulos nacionais. São atualmente pentacampeãs. A dirigente pretende "fazer uma liga sustentável a nível não só económico, mas também desportivo, e isso passa por ter uma liga atrativa, competitiva".

O Barcelona aposta e investe no futebol feminino "há muitos anos" e já leva "uma década de vantagem sobre o resto dos clubes em Espanha". Portanto, o nivelamento é algo que "leva algum tempo".

"Na Liga F, tentamos dar a mão a todos os clubes a que ainda falta percorrer esse caminho e guiá-los e crescer com eles, de mão dada, sem deixar ninguém para trás", sustenta.

Álvarez recorda, contudo, que Espanha não é o único país em que um clube leva grande vantagem sobre os demais. Em França, o Lyon conquistou 17 dos 18 últimos campeonatos. Em Inglaterra, o Chelsea foi sete vezes campeão nos últimos dez anos. "Há sempre um clube que saca muita vantagem sobre o resto", nota.

"O futebol feminino está a nivelar, a Liga F também, e temos de trabalhar para isso. O Barcelona fez uma digressão nos Estados Unidos e também aí ganhou por goleadas. O Barcelona neste momento tem um potencial difícil de alcançar para outros clubes, mas o que temos de fazer é crescer com esses clubes, para que cada vez haja menos desigualdade. Para que na luta pelo título haja a igualdade que há mais para baixo, na luta pela manutenção e inclusive pela entrada na Champions, que na última época foram disputadas até à última jornada. Para que isso possa acontecer também na luta pelo título", explica.

Depois de pendurar as botas, há futuro para as mulheres no futebol


Beatriz Álvarez é uma antiga futebolista. Na segunda-feira, a icónica Alex Morgan pendurou as botas e, questionada sobre o futuro, revelou que tinha encontrado a sua vocação no investimento no desporto feminino e, em concreto, no futebol feminino. Nesta entrevista a Bola Branca, a presidente da Liga F realça a importância de encorajar as atletas a continuar no futebol, seja em que posição for, quando deixam de jogar.

"Parece-me imprescindível em ambos os sentidos. Parece-me imprescindível para o crescimento do futebol feminino poder contar não só com talentos ou com a formação que têm muitas jogadoras, mas também com a sua experiência. E para elas é, também, enriquecedor e, sobretudo, satisfatório saber que podem, depois de terminar as suas carreiras futebolísticas, dar o passo, seja para os bancos, para a direção desportiva ou para a presidência de um clube ou para trabalhar na Liga F", diz.

Álvarez tenta "fazer esse trabalho interno", dentro do que está nas suas mãos, e revela que, no seu organismo, "mais de um terço do plantel são ex-futebolistas".

"É esse o caminho. Que nós próprias sejamos referências para outras, inspiração, que demos o exemplo e que abramos as portas também a outras que chegam de trás. É uma das questões que estamos a trabalhar com elas, num projeto que temos para elas, em que queremos cobrir as suas necessidades, e uma questão básica. Quando acabam a sua carreira profissional, o salto a outra vida profissional dentro do mundo do desporto e do futebol feminino em concreto", detalha.

Numa entrevista à BBC, Emma Hayes, atual selecionadora dos EUA - e a mulher que conquistou os sete campeonatos ingleses do Chelsea -, afirmou que os donos dos clubes não estão preparados para treinadoras no futebol masculino, porque ainda não se confia numa mulher para liderar um plantel de homens, ao contrário do que acontece noutras profissões fora do futebol.

Questionada pela Renascença sobre estas palavras da treinadora inglesa, Beatriz Álvarez assume que "as coisas estão a mudar, mas ainda estamos longe de alcançar essa igualdade".

"No mundo do futebol, um mundo tão masculinizado, com muito maior presença de homens que de mulheres, incluindo no futebol feminino, liderado praticamente por homens, eu tento empoderar muito as mulheres que desbravam caminho. Em Espanha, temos mulheres que são presidentes de clubes, temos, por exemplo, a Amaia [Gorostiza], [presidente] do Eibar, que, quando a equipa feminina do Eibar subiu à primeira divisão, abriu o Ipurua, o estádio principal, para elas em todos os jogos. É uma dessas referências", assume.

A presidente da Liga F destaca a importância de "dar visibilidade" às mulheres de sucesso no futebol, para que todas "vejam essa janela" de oportunidade.

"Há cada vez mais meninas que sonham ser futebolistas; haverá mais mulheres que vejam possível poderem dedicar-se profissionalmente ao mundo do desporto e fazê-lo sem complexos", conclui.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+