Taça de Portugal

"Calhou-me a sorte e o azar de marcar". Josué foi um dos heróis da última final Braga-Porto

04 jun, 2023 - 09:00 • Eduardo Soares da Silva

Formado no Olival e adepto assumido do FC Porto, Josué foi um dos carrascos dos dragões na conquista da Taça de Portugal, em 2015/16, emprestado ao Sporting de Braga. Apesar do "azar", Josué recorda um dia especial na carreira e antevê a final deste domingo.

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Subir a escadaria do Jamor e levantar a Taça de Portugal é um dos sonhos de qualquer jogador português, mas e se for contra o clube de coração?

Josué marcou um dos golos decisivos na conquista da Taça de Portugal do Sporting de Braga, a 22 de junho de 2016, contra o FC Porto, o clube que apoia desde criança e com o qual, à altura, ainda tinha ligação contratual.

O Braga venceu um FC Porto a lamber feridas de uma temporada de grande fracasso. Julen Lopetegui havia sido despedido no virar do ano e foi José Peseiro que se encarregou de terminar uma época para esquecer, mas que a conquista da Taça poderia ainda ajudar a aliviar o terceiro lugar do campeonato. Mas isso não aconteceu.

Rui Fonte abriu o marcador para os minhotos na primeira parte e Josué fez o segundo, já aos 58 minutos de jogo, sem celebração.

O médio ofensivo, atualmente no Légia de Varsóvia, recorda as sensações do "jogo mais difícil da carreira", um troféu conquistado apenas nos penáltis após um "bis" de um jovem emergente no FC Porto: André Silva.

Nesta entrevista a Bola Branca, Josué olha para o momento das duas equipas, em fim de época, e faz o balanço dos últimos anos de FC Porto e Sporting de Braga.

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"Foi o jogo mais difícil da minha carreira. Porto é o meu clube do coração, mas jogava pelo Braga. Calhou-me a sorte e o azar de fazer o golo"

Que memórias ainda restam dessa final, do golo, da conquista?

Foi o jogo mais difícil da minha carreira, porque em termos emocionais foi complicado. O Porto é o clube ao qual tenho uma ligação desde criança, é o meu clube de coração, mas estava a defender as cores de outro clube. Ainda estava contratualmente ligado ao Porto, mas emprestado ao Braga.

Calhou-me a sorte e o azar de fazer o golo ao Porto, mas a sorte de poder estar numa final da Taça pelo Braga e vencer, que foi um momento marcante na minha carreira.

Foi um jogo sofrido, porque estiveram a ganhar por 2-0, o André Silva marca dois golos, vai para prolongamento e só se resolve nos penáltis...

Foi sofrido, no ano anterior o Braga tinha perdido com o Sporting na final da mesma forma. Esteve a vencer, o Sporting empatou e ainda perderam nos penáltis.

Mesmo depois do 2-0 que sabíamos que o jogo não estava terminado. Mantivemos sempre a calma, o Paulo Fonseca passou uma mensagem muito tranquila no início do prolongamento e isso ajudou.

Nos penáltis, tivemos a sorte do Marafona estar em dia sim e defender três, trabalho dele e do Vital que era o treinador de guarda-redes. Mérito também grande do Goiano de fazer o último penálti com uma pressão incrível.

Fica marcado especialmente a mim. O Porto é o clube do meu coração, contra um clube que eu gosto muito, que é o Braga, e que tenho uma admiração muito grande.

Foi dos momentos mais altos da carreira até agora?

Foi, porque é um troféu mítico, num estádio cheio. Jogo difícil, mas foi muito marcante para mim.

Olhando para este Porto e Braga, vê algum favorito à partida para a final?

Acho que nas finais é muito difícil haver favoritos, por muito que a história do Porto seja muito maior em termos de clube e títulos. Quando começar, o árbitro apita e as camisolas não vão jogar sozinhas. Acho que o Porto vai entrar muito forte, com um estado anímico diferente porque acabaram de perder o campeonato.

O Braga entrará também forte porque sabe que a maior parte da pressão estará no lado do Porto. Espero que seja um grande jogo, gostava que fosse aberto, que as equipas se respeitassem e bonito de se ver.

Que avaliação faz da época do Porto se vencer a Taça? Ou seja, perde o campeonato, mas luta por ele até ao fim, vence a Taça de Portugal, a Supertaça, a primeira Taça da Liga da sua história e chega aos oitavos de final da Liga dos Campeões. Acaba por ser uma época boa?

Claro que acaba por ser uma época muito boa. Aquilo que mais conta no currículo de títulos é o campeonato e o Porto não ganhou. é o objetivo principal.

Não deixa de ser uma boa época, mas não é suficiente para o Porto.

Querem ganhar sempre tudo, mas há que ter noção - e eu tenho a certeza -, que vão defrontar um Braga muito forte, principalmente em transições, com o Bruma, o Ricardo Horta e o Iuri Medeiros, que se estiver no dia dele pode fazer a diferença.

Pode ser uma época de ainda maior afirmação para o Braga, com o apuramento para a Liga dos Campeões e uma Taça?

Sem dúvida. No início, achava-se que seria o Sporting na luta pelos três primeiros, mas o Braga fica em terceiro com todo o mérito, faz uma época espetacular e tem vindo a crescer.

O Braga já é um ponto assente no campeonato, será mais um passo, mas continua a ser uma equipa que vai estar em afirmação nos próximos anos. O clube está a crescer rapidamente, de forma sustentada. Podiam crescer e vir abaixo passados dois anos, mas não aconteceu.

O clube cresce ano após ano, chegam jogadores que fazem a diferença e surgem jovens da formação, que era algo que não acontecia há 10 ou 15 anos. Tudo isso ajuda na afirmação do Braga em Portugal e no plano europeu.

Está cada vez mais perto o último passo, que é vencer o título?

Espero que falte menos, o campeonato tem mais intensidade para toda a gente quantas mais equipas lutarem pelo título: mais pessoas nos estádios, clubes geram mais receita, acho que é tudo bom para todos.

Espero que continuem a crescer e lutem pelo título o mais rápido possível. Apesar de ficarem em 3.º, não é que não tenham lutado até à última. Estiveram sempre na parte de cima, mas o investimento das outras equipas é diferente. O Braga não contrata como as outras três, por isso é que tem mérito de competir com essas equipas.

Que individualidades podem decidir o jogo no domingo? Quem pode ser o Josué deste ano?

O Josué ou o Rui Fonte, que também fez golo. O Braga é muito forte no coletivo, mas gosto muito do Ricardo Horta e do Bruma, são muito complicados de travar. Se as coisas correrem bem de início ao Bruma, começa a ganhar confiança e é muito difícil de parar.

A defender gosto muito do Al Musrati, é um pilar incrível no Braga. Sem ele, não são a mesma equipa. Quando perdem a bola e na transição do Porto, se o Al Musrati não jogar tornam-se mais vulneráveis.

E no Porto?

Sempre disse que o Otávio é o melhor jogador do Porto. A forma como ele gere o tempo do jogo, do ataque e da defesa. É incrível, é o melhor jogador do Porto e dos melhores, se não o melhor, do campeonato. Em tudo, em termos de números e individualidade.

Na final, pode fazer a diferença. É o tipo de jogador que não precisa de muito espaço para fazer a diferença, consegue reinventar espaço para colocar um passe e isso pode mudar um jogo por completo.

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