Entrevista Bola Branca

Luís Pedro, o recordista da II Liga que "trocava todos os jogos por uma oportunidade na I Liga"

21 jun, 2022 - 10:30 • Eduardo Soares da Silva

O "senhor II Liga" é o jogador com mais partidas disputadas na história da competição. Depois da primeira grave lesão da carreira e a descida de divisão do Varzim, o central procura novo clube para dar continuidade ao recorde.

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Luís Pedro já escreveu o seu nome na história da II Liga ao tornar-se o jogador com mais partidas (367) da história da competição, mas "trocaria-os todos por uma oportunidade" de se provar na I Liga, que até agora nunca surgiu.

Aos 32 anos, o central reconhece que o salto é mais díficil e improvável, principalmente depois de uma grave lesão. O grande objetivo é continuar a somar partidas na segunda competição mais importante do futebol português e alargar o recorde.

Ao longo da carreira, o defesa só jogou na II Liga, com passagens pelo Freamunde, Portimonense, Penafiel e Varzim.

Nas últimas três épocas, tornou-se num dos capitães de equipa da Póvoa de Varzim. No entanto, devido à primeira grave lesão da carreira - uma rotura de ligamentos - só conseguiu dar o contributo em três partidas esta temporada, marcada pela descida do clube poveiro à Liga 3. "Era impossível esta temporada ter sido pior", reconhece, à Renascença.

Livre para negociar com qualquer clube e totalmente recuperado da lesão, Luís Pedro procura nova oportunidade para somar jogos na II Liga.

O "senhor II Liga" lamenta o "rótulo de jogador de segunda divisão" que considera que existe e que afeta as carreiras de vários jogadores e treinadores.

O central assume que chegou a viajar para a Madeira em 2013 para dar o salto para a I Liga e assinar pelo Nacional, mas o negócio caiu, assim como o sonho de chegar ao primeiro escalão. "Trocava todos os jogos pela oportunidade na I Liga", reconhece.

Na última entrevista que deu à Renascença ainda faltavam alguns jogos para ultrapassar o Ricardo Pessoa como o jogador com mais partidas disputadas na II Liga. Neste momento, já é o detentor deste recorde. É um motivo de orgulho especial?

Nem sabia na altura que tinha tantos jogos e que era o segundo na altura. Consegui ultrapassar o recorde e até tinha jogado com ele em Portimão. Infelizmente este ano parei de somar jogos, mas espero retomar para mais alguns na próxima época. É o meu objetivo.

Sente-se reconhecido como uma das maiores figuras da história da II Liga?

Por acaso, nunca fui reconhecido. No fundo, não trabalho para isso. Quero jogar e ajudar o clube onde estou, mas se receber esse reconhecimento pelos jogos que fiz, ficarei feliz.

É um marco difícil de alcançar, hoje em dia o jogador ou tem oportunidade da I Liga, ou ir para o estrangeiro. Fazer uma carreira na II Liga não será fácil.

Foi sempre fugindo a graves lesões, tirando esta temporada, no joelho. Como é que reagiu?

Felizmente nunca tive lesões. Uma ou outra pancada, mas era sempre a treinar e jogar. O azar bateu-me à porta, não escolhe hora nem idades. Para quem não está habituado, é uma situação nova. Fiquei abalado no início.

O doutor ligou-me e eu nem achava que ia ser grave. Depois do jogo, o joelho não inchou. Nessa semana, antes da ressonância, fiz treino condicionado e sentia-me normal. Mas caí em mim. Disse logo que seria algum tempo, mas que iria voltar a 100%.

Acabou por não voltar a tempo de jogar no fim da época. O Varzim desceu à Liga 3, que balanço é que faz da temporada?

É para mais tarde recordar pelo lado negativo. O que me aconteceu a mim e ao clube foi muito mau. Tive a rotura de ligamentos, que costumam ser oito meses de recuperação, e o clube desceu. Pior era mesmo impossível.

Era um dos capitães, criou uma ligação com o Varzim?

Claro, revejo-me muito no clube e nas pessoas da Póvoa de Varzim, ficará para sempre marcado na minha carreira e no meu coração. Não sei o futuro, nem o dia de amanhã, mas vou sempre levar este clube comigo. Tem de se reerguer e dar uma resposta para tentar a subida de divisão.

É um jogador livre, o objetivo é continuar na II Liga para continuar a somar jogos ao recorde?

Pessoalmente, gostava de ficar na II Liga, se pudesse ser com o Varzim, porque acho que ainda existe essa pequena possibilidade [Leixões não cumpriu pressupostos financeiros], a não ser que haja um milagre, pode ser com o Varzim.

Não sendo, gostaria de ter uma oportunidade na II Liga. A última época não correu como queria. A lesão está 100% recuperada, que era o meu objetivo. Abordagens concretas ainda não tive nenhuma, mas o mais importante é estar bem para lesão. Espero que tudo aconteça naturalmente.

Abdicaria deste recorde por uma estreia na I Liga? Ainda pode chegar essa oportunidade?

Claro que abdicaria dos jogos todos por uma oportunidade na I Liga. Infelizmente, nunca aconteceu. No futebol nunca podemos dizer nunca, vemos histórias fascinantes no futebol, não sei qual será a minha. Sei que agora é difícil.

Tenho 32 anos, tive a lesão que tive, o que não é impeditivo. A próxima época será impossível, mas nunca é tarde. Com esta lesão, se calhar trabalhei mais do que numa época normal, porque é uma recuperação exigente. Nunca se sabe o futuro, gostaria muito.

Foto: DR
Foto: DR

Chegou a ter essa possibilidade em algum momento da carreira?

Assinei contrato com o Nacional, fui para a Madeira, mas houve algumas coisas que não foram bem resolvidas. Paguei por tabela e não tive a possibilidade sequer de ficar lá uma semana completa. Fui para Portimão nesse ano [2013/14]. Foi uma desilusão para mim, não tive culpa no que aconteceu.

O destino ficou assim traçado. Pensei que iria ser a minha oportunidade, a minha rampa de lançamento para a I Liga. Nunca tive essa oportunidade de cumprir esse sonho.

Acha que em Portugal se rotulam jogadores e treinadores como sendo "de II Liga"?

Não tenho dúvidas que sim. Somos um país talvez pequeno em termos de mentalidade. Esse rótulo fica mesmo marcado nos jogadores e treinadores. Tenho tantos jogos na II Liga, tinha qualidade para, pelo menos, ter oportunidade num clube da I Liga.

Claro que é uma divisão superior, a qualidade é maior, mas não é assim tão superior à II Liga. Temos esses rótulos, é real e tem de ser mudado, porque temos tanta qualidade a nível de jogadores e treinadores.

Como é que olha para a II Liga neste momento? É um campeonato que tem evoluído em termos de qualidade?

Acho que tem muita qualidade, como sempre teve. A entrada das equipas B melhorou a divisão e também em termos de visibilidade. Estamos muito bem servidos. Poderia enumerar muitos jogadores da II Liga que dão o salto para a I Liga e depois passado meio ano estão nos grandes ou numa boa equipa lá fora.

É uma divisão muito competitiva, o jogador tem de ter competência e ser muito regular. Estamos bem servidos.

Há um jogador noutro clube que está também perto do seu recorde. O Gilberto, do Covilhã, aproveitou esta época para se aproximar, só tem menos 8 jogos. Alguma vez trocaram alguma impressão sobre este assunto?

Nunca joguei com o Gilberto, mas há uns anos treinei com ele em Freamunde. Nunca falei com ele sobre o assunto, não sei se ele me vai ultrapassar. Se assim for, não há problema nenhum. É um profissional de eleição, com muita qualidade. É sinal do seu valor e da sua qualidade. Por acaso, nunca conversamos sobre esse assunto.

Qual o melhor momento da carreira até agora?

Tive um jogo marcante entre Freamunde e Oliveirense. O Marco foi expulso, eu fui para guarda-redes e defendi um penálti. É um feito quase inédito no futebol e vencemos o jogo.

O que mais guardo e mais carinho tenho foi a minha estreia pela seleção sub-21. Era um dos meus sonhos e felizmente consegui concretizar. Esse fica acima do penálti que defendi.

Que sonhos restam por cumprir?

Não há idades para os sonhos, sei que é difícil jogar na I Liga, mas tenho esse sonho. Quero agarrar-me à oportunidade que tiver, se puder ser na II Liga para dar continuidade à carreira. Quero prolongar a minha carreira ao máximo, sinto-me com condições e motivado para alargar o meu recorde da II Liga, se for possível.

Tem 32 anos, já pensa no que poderá ser a carreira pós-futebolista?

Pensamos sempre. Nesta fase, ainda mais. A minha mentalidade foi tentar seguir o futebol. Tenho nível 2 do curso de treinador, não sei se será esse o caminho. Seja qual for, quero continuar ligado ao futebol, sem dúvida.

Como olha para a posição de central na seleção nacional neste momento?

Acho que estamos bem servidos, mas é uma questão do selecionador apostar. Temos o Rúben Dias, que provavelmente será a referência nos próximos anos na posição, há todos os miúdos jovens, o David Carmo e o Gonçalo Inácio, mesmo o Domingos Duarte. Temos um futuro tranquilo na posição. O Pepe é uma referência que é difícil de bater, mas o futuro está garantido.

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