14 jun, 2022 - 11:43 • Carlos Dias
Em entrevista a Bola Branca, Luciano Gonçalves, presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) lamenta o afastamento de Artur Soares Dias do Mundial do Qatar, mas recusa associar esta desilusão a uma possível falta de qualidade da arbitragem lusitana.
A época 2021-2022 foi positiva apesar dos problemas causados pelos dirigentes, que podem melhorar a sua qualidade, para bem do futebol português, refere o homem que lidera a APAF desde 2016, que volta a insurgir-se contra os casos de agressões a árbitros em jogos dos campeonatos distritais, por muito culpa, garante, dos maus exemplos das provas profissionais.
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Que balanço faz das prestações dos árbitros nas competições profissionais em Portugal na temporada que agora findou?
Mais uma vez falou-se demasiado da arbitragem. Continuarmos a não olharmos para o essencial, continuamos a ter o foco muito no clube e menos no futebol. Naquilo que é a nossa autoavaliação, consideramos a época positiva. Foi uma época um pouco atípica, mas consideramos que foi positiva.
A arbitragem portuguesa tem qualidade?
A arbitragem portuguesa tem muita qualidade e não é justo que se ponha em causa essa qualidade por uma ausência no Mundial. A arbitragem portuguesa tem muita qualidade e basta perceber que os nossos árbitros são dos mais utilizados nas competições da UEFA.
Os nossos árbitros foram ao campeonato francês e baixaram a média de cartões. Todos os clubes gostam dos nossos árbitros lá fora. Só que infelizmente, há aquele ditado que diz que 'santos da casa, não fazem milagres'. Temos uma geração muito nova, uma geração em crescimento e temos muita qualidade na arbitragem.
A ausência de Artur Soares Dias na lista de árbitros para o Mundial do Qatar é uma “espinha cravada na garganta”?
Não nos podemos esquecer que apenas oito árbitros portugueses já estiveram presentes em Mundiais. Naturalmente, tendo em conta a expectativa que tínhamos, estávamos à espera e fazíamos conta que o Artur Soares Dias estivesse presente no Mundial. Não estando naturalmente, isso deixa-nos tristes.
Não apenas pelo Artur, não apenas pela equipa dele, não apenas pelo Conselho de Arbitragem da Federação, não apenas pelos árbitros, mas essencialmente porque a não nomeação dos árbitros portugueses para o Mundial serviu, tal como eu também calculava, para fazer chacota da arbitragem e para justificar aquilo que foram os insucessos desportivos de alguns.
Claro que aproveitaram para dizer que afinal os árbitros não têm qualidade, e isso é injusto, até tendo em conta que o número reduzido de árbitros europeus que estão nos Mundiais.
Já disse que em Portugal os árbitros têm qualidade. E os dirigentes, têm também têm qualidade?
Penso que não deverei ser eu a opinar sobre isso, certamente deve ser para o presidente da associação de classe dos dirigentes. Mas posso dizer que tendo em conta o conhecimento e a experiência e o exemplo, naturalmente sei que podem fazer muito melhor, podem fazer mais pelo futebol.
Esta temporada também ficou marcada por vários incidentes, várias agressões a elementos de equipas de arbitragem, nas provas distritais. Isso também pode ter sido influenciado pelos exemplos dados pelos campeonatos profissionais?
Nós nunca podemos fugir a isto. Naturalmente, tudo aquilo que são os maus exemplos, naquilo que é o topo, têm reflexo nos escalões mais baixos.
É factual, no dia seguinte aos jogos mais mediáticos em Portugal em que tenham existido muitas críticas à arbitragem, aumentam os casos de agressão nas competições distritais. Mas há mais motivos para esta violência. A impunidade. Continua a poder-se fazer tudo. E depois ou não se atua, pouco se faz, pouco se castiga, demora-se muito tempo.
Os castigos acabam por ser muito fora de contexto, ou seja, infelizmente acaba por passar-se uma imagem de impunidade dos campeonatos profissionais para as divisões mais baixas.