Paços de Ferreira

Em total afirmação na I Liga, André Ferreira sonha com presença no Mundial do Qatar

01 abr, 2022 - 06:50 • Eduardo Soares da Silva

O guarda-redes do Paços de Ferreira vive a sua primeira época como titular na I Liga, depois de pouca utilização no Santa Clara e Desportivo das Aves. A acumular boas exibições e com a deslocação a Alvalade à porta, André Ferreira quer confundir as escolhas de Fernando Santos na seleção nacional.

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André Ferreira é um dos guarda-redes em destaque na I Liga, ao serviço do Paços de Ferreira. Foto: Inês Rocha/RR
André Ferreira é um dos guarda-redes em destaque na I Liga, ao serviço do Paços de Ferreira. Foto: Inês Rocha/RR
André Ferreira conta com passagens pelo Benfica, Leixões, Aves e Santa Clara. Foto: Inês Rocha/RR
André Ferreira conta com passagens pelo Benfica, Leixões, Aves e Santa Clara. Foto: Inês Rocha/RR
André Ferreira sonha com presença no Mundial do Qatar. Foto: Inês Rocha/RR
André Ferreira sonha com presença no Mundial do Qatar. Foto: Inês Rocha/RR

Aos 25 anos, André Ferreira vive o momento para que sempre trabalhou: uma época de afirmação na I Liga.

Depois de três temporadas com o rótulo de "guarda-redes de Taça" no Desportivo das Aves e Santa Clara, o guardião natural de Vila Nova de Gaia afirma-se em definitivo no primeiro escalão e com várias exibições de gala ao serviço do Paços de Ferreira.

Em entrevista à Renascença, André Ferreira explica a importância de um guarda-redes ter continuidade na titularidade e espera fazer mais uma boa exibição em Alvalade, frente ao Sporting, o próximo adversário do Paços.

Jorge Simão era um treinador acarinhado pelo balneário pacense, mas a entrada de César Peixoto deu uma "nova energia" ao Paços, que ainda pode sonhar com a segunda qualificação europeia consecutiva.

O Paços de Ferreira é nono classificado, mas apenas três pontos atrás do Vitória de Guimarães, que ocupa o sexto posto, que poderá dar qualificação europeia mediante o vencedor da Taça de Portugal.

André Ferreira chegou à seleção sub-21 e agora quer complicar a vida a Fernando Santos. O guarda-redes reconhece que a competição é dura, com Diogo Costa, Rui Patrício, José Sá, Anthony Lopes, Rui Silva e Luís Maximiano, mas quer trabalhar para sonhar com presença no Mundial do Qatar.

Começo pelo próximo jogo, que será uma deslocação difícil a Alvalade para defrontar o Sporting. Quais as expetativas para o jogo?

Queremos fazer um bom jogo, estamos a prepará-lo desde segunda-feira, começámos a analisar os pontos fortes do Sporting, que são muitos, e procurar dentro das nossas armas a melhor maneira para lhes criar problemas.

Conseguir pontuar seria algo muito positivo, ainda não conseguimos este ano contra uma equipa grande. Vai ser muito complicado, mas temos de ter essa ambição e colocar esses objetivos para nós mesmo.

Ainda não conseguiram tirar pontos a nenhum dos três grandes. Estão numa boa fase com quatro vitórias nos últimos cinco jogos. É a altura ideal para isso?

A equipa está com confiança, fruto dos resultados que têm sido muito positivos. Dá-nos algum conforto na tabela classificativa. Temos aproveitado para melhorar a cada semana, adquirindo as ideias do "mister" César, que tem um estilo de jogo muito positivo, e nós estamos a receber muito bem as ideias dele, tentar assimilá-las o melhor possível e acho que estamos a crescer de semana para semana. Estamos numa boa fase, mas sabemos que jogar contra o Sporting é sempre muito complicado.

Existe alguma preparação específica enquanto guarda-redes para um jogo destes, mais mediático, com estádio cheio a torcer contra a sua equipa?

Não, a preparação é basicamente a mesma durante a semana. Mediante o adversário, procuramos algumas referências que nos possam ajudar, quer pela maneira como o Sporting pressiona, para arranjar forma de sair a jogar com bola desde trás. Jogando em casa, eles são muito pressionantes, querem resolver os jogos rapidamente, mas cabe-nos encontrar soluções.

Sarabia, Paulinho, Slimani, Pedro Gonçalves, Marcus Edwards e outros. É difícil manter a baliza a zero?

São muitas dores de cabeça para o guarda-redes e para a linha defensiva. O segredo é a organização coletiva, que é o que nos permite sofrer menos golos. O guarda-redes é o último reduto, mas parte tudo de uma organização defensiva e de um trabalho em que estamos a procurar conter a qualidade dos jogadores do Sporting, para nos criar o mínimo de problemas.

Há sempre lances em que a qualidade deles virá ao de cima e espero estar pronto para ajudar a equipa nesses momentos.

André Ferreira só falhou um jogo esta época na Liga, por Covid-19. Foto: Paços de Ferreira
André Ferreira só falhou um jogo esta época na Liga, por Covid-19. Foto: Paços de Ferreira
 Foto: Paços de Ferreira
Foto: Paços de Ferreira
Foto: Paços de Ferreira
Foto: Paços de Ferreira
Foto: José Sena Goulão/Lusa
Foto: José Sena Goulão/Lusa
Foto: Hugo Delgado/Lusa
Foto: Hugo Delgado/Lusa

O Paços começou mal a época no campeonato, mas deu a volta e tem a manutenção garantida. O treinador César Peixoto já admitiu que poderá dar para discutir o sexto lugar. Concorda?

Estamos a pensar jogo a jogo. Desde que chegou, o treinador incutiu-nos a ideia de olhar para cima. Estávamos embrulhados com muitas equipas pela manutenção e ele desde o início disse que acreditava muito no grupo e queria dar-nos ferramentas para lutar por outras posições.

Acho que estamos a conseguir dar resposta, sentimos que o grupo tem qualidade, onde podemos chegar, mas não faz muito sentido perspetivar muito à frente.

Vamos procurar com o Sporting fazer o melhor possível. Levar pontos de Alvalade seria excelente e logo a seguir teremos outro jogo. Só faz sentido pensar assim.

Ajuda a libertar o grupo saber que a manutenção já não é um risco?

Acho que sim, inconscientemente acho que pesa sempre no seio do grupo. Uma equipa que luta para não descer tem sempre algum peso nas tomadas de decisão.

Pensa duas vezes antes de arriscar um passe interior, tenta jogar mais pelo seguro. Sem a pressão dos pontos, estamos mais livres para fazermos o tipo de jogo que o treinador nos pede, assumir mais riscos, que também nos dá mais possibilidades de infligir dificuldades nos adversários.

Falou do jogo a jogo, mas internamente há algum objetivo definido para o que resta da época, depois de confirmada a manutenção?

O que a direção definiu foi a manutenção, o principal objetivo é deixar o Paços na I Liga. Isso é o mais importante.

Depois é escalar o máximo na tabela, estamos em 9.º, a olhar para cima, e vamos tentar fazer o nosso melhor para deixar o Paços o mais acima possível.

Seria importante para o clube e para o André conseguir uma segunda qualificação europeia seguida?

Claro que sim, tive a oportunidade de me estrear nas competições europeias na Conference League. Tivemos jogos muito bons, com o Larne e depois com o Tottenham, foi uma experiência muito diferente do que estávamos habituados. Temos sempre esse desejo de jogar as grandes competições e os grandes jogos, é para isso que jogamos futebol.

Seria um sonho que o Paços se qualificasse para uma competição europeia pela segunda vez.

Como foi para o André jogar contra o Tottenham? Duas experiências muito diferentes, na Mata Real e em Londres.

Foi muito positivo, mesmo no primeiro jogo sabíamos que eles tinham jogadores que o orçamento todo do Paços não chegava sequer perto do que o que eles custaram. A responsabilidade era deles, mas tínhamos muita ambição de dar uma resposta, mostrar que o campeonato português é competitivo e que as equipas conseguem competir lá fora, mesmo não sendo as chamadas grandes.

Conseguimos a vitória, o segundo jogo foi mais complicado, o próprio ambiente era muito forte, a cultura inglesa criou uma atmosfera que gostei muito de jogar. Na primeira parte entramos um bocado presos e receosos. Quando nos soltámos, até conseguimos fazer um bom jogo. Eles têm jogadores de nível mundial e acabaram por fazer a diferença.

A meio da época trocaram de treinador. Jorge Simão deu lugar ao César Peixoto. O que mudou para lançar o Paços para uma segunda metade da época bem mais tranquila?

As ideias dos treinadores são um pouco diferentes, mas às vezes momentos no jogo definem uma carreira, neste caso do treinador.

Tivemos jogos muito positivos com o Jorge Simão, o grupo gostava do treinador, mas chegou a uma altura em que as coisas quando tinham de correr mal, corriam. Perdemos vários pontos nos últimos minutos de jogo.

O "mister" César Peixoto trouxe uma energia nova, o grupo recebeu bem as ideias, temos jogadores que gostam de ter bola e fazer ataques rápidos e com posse de bola.

Os resultados ajudaram a dar essa estabilidade, a equipa ganha confiança com os resultados e acho que a diferença foi essa.

A constante com os dois treinadores foi o André Ferreira sempre na baliza. Como tem sido esta época individualmente, sendo a sua primeira como titular na I Liga?

Tem sido uma época muito positiva, se calhar uma surpresa para muitos que me conheciam da formação e de alguns jogos de Taça de Portugal e Taça da Liga, que tinha sido o que tinha feito mais. É uma época de afirmação, tenho sentido muita confiança no clube, dos meus colegas e pessoas de fora.

Tem sido uma época muito consistente, tenho feito boas exibições, mantido um nível bastante bom. Estou muito satisfeito por ter vindo para o Paços e por estar a ter esta oportunidade. Estou a desfrutar.

E isso tem sido reconhecido com alguns prémios de melhor em campo.

Sim, é positivo quando fazemos o nosso trabalho e depois temos o reconhecimento no fim de semana. É para isso que trabalhamos.

A parte individual é positiva, mas só faz sentido enquadrada dentro de um grupo e com bons resultados.

Pode recordar o último mercado de transferências, verão? Quando decide sair do Santa Clara e quando decide aceitar a proposta do Paços.

Queria sair, já na época anterior tinha essa ideia, mas o Santa Clara tinha feito muita força para eu ficar e tinha uma relação muito boa com a equipa técnica, com todo o "staff" e parte diretiva.

Viam em mim capacidade para, no futuro, assumir a baliza, mas o Marco Pereira estava a fazer épocas muito boas e consistentes. Às vezes, é complicado não tendo oportunidade e ritmo de jogo. A posição de guarda-redes costuma fazer a época toda a titular, é difícil haver trocas na baliza.

Voltei a pedir para sair, queria jogar mais e queria estar aqui mais perto da família, porque fui pai.

Surgiu o Paços, tive mais algumas abordagens, mas pela estabilidade do clube, pelas condições de trabalho e pelo que me falavam do clube - conhecia o Jorge Silva e o Stephen Eustáquio do Leixões e falaram-me muito bem - não tive dúvidas em aceitar o convite para vir para cá.

André Ferreira integrou a formação do Benfica em 2012, nos sub-17, e deixou em 2019, em definitivo. Nunca se estreou na equipa A. Foto: Instagram
André Ferreira integrou a formação do Benfica em 2012, nos sub-17, e deixou em 2019, em definitivo. Nunca se estreou na equipa A. Foto: Instagram
André Ferreira fez 13 jogos no Santa Clara em duas épocas. Foto: Santa Clara
André Ferreira fez 13 jogos no Santa Clara em duas épocas. Foto: Santa Clara

Foram três épocas seguidas com pouca utilização, uma no Aves e duas no Santa Clara. Sentia que precisava de uma época assim de afirmação na I Liga?

Sim, essa estabilidade de fazer muitos jogos seguidos é muito importante num guarda-redes.

No Santa Clara fiz boas campanhas na Taça da Liga e na Taça de Portugal, mas é completamente diferente fazer uma época com 30 jogos. Esta época devo ter mais jogos do que nas últimas três.

Essa consistência dá maturidade e tranquilidade para arriscarmos mais e mostrarmos o nosso valor. É difícil jogar uma vez por mês, jogos sem tanta visibilidade, é mais difícil mostrar o nosso valor assim.

Não tinha essa certeza de titularidade quando assinou? O Jordi vinha de uma grande época e lesionou-se com gravidade na pré-época, o que acabou por beneficiar o André.

Acho que nenhum jogador tem essas garantias, eu vinha para disputar o lugar, e com esperança e muita motivação.

Sentia-me bem nos treinos, que tinha capacidade para jogar na I Liga, mas ainda não tinha tido essa oportunidade. É verdade que a infelicidade do Jordi deu-me essa oportunidade e consegui agarrá-la. Está a ser uma época muito boa.

A próxima época será um desafio novo, já com o Jordi?

Ele já está a treinar sem limitações. É um guarda-redes que tem provas dadas, jogou no Brasil e no Irão, sempre com qualidade. Vinha de uma época muito boa no Paços.

Temos de trabalhar todos para elevar o nosso nível, eu puxar por ele e ele puxar por mim. Também o Igor Vekic e o Jeimes fazemos um trabalho muito forte, com competitividade leal, procuramos melhorar-nos uns aos outros.

No fim, o que interessa é ajudar o Paços. O treinador depois tomará a decisão.

O que acha que ainda pode melhorar enquanto guarda-redes?

É uma pergunta difícil, estamos sempre à procura de pormenores. Estamos sempre à procura de pequenos pormenores e há coisas em que achamos que estamos melhores e depois há uma falha e lá vamos ver os vídeos novamente.

É uma procura constante da perfeição. Nunca vamos lá chegar, mas temos de procurar, só assim conseguimos evoluir.

Que objetivos tem na carreira? Esteve num grande na formação, no Benfica, jogar num dos grandes é objetivo?

Há sempre o objetivo de jogar nas melhores equipas e as melhores competições, poder chegar à seleção nacional é sempre um sonho que está em qualquer jogador que jogue futebol profissional.

Acima de tudo, o que tento pensar é o que posso melhorar no dia a dia, o que posso fazer melhor no próximo jogo e deixar que seja essa sequência de decisões diárias chegar a um nível desses.

Não faz muito sentido projetar muito para o futuro. No ano passado não pensava que iria estar a jogar no Paços na I Liga. São coisas que acontecem e cabe-nos estar prontos para as oportunidades.

Lamenta não ter tido uma oportunidade na equipa principal do Benfica?

Sim, mas são momentos difíceis de explicar. Acabei por não ter essa oportunidade, por um motivo ou por outro. Fiz uma época muito boa na equipa B, fiz uma época no Leixões também muito boa, fui chamado para a pré-época, fiz um jogo num torneio em Setúbal, correu-me bastante bem.

O Benfica tinha muitos guarda-redes de qualidade, acabei por ter de procurar o meu espaço noutro lado e fazer um caminho alternativo. Poderia ter havido uma lesão, como aconteceu este ano, e eu estaria lá para entrar nas contas.

Não me deixei abater e não mudou nada do que quero para mim e para a minha carreira, tive apenas de fazer um percurso à volta. Estou num bom caminho para voltar a chegar a esses patamares.

Falou da seleção. Estar no Mundial é pensar demasiado ou pode ser um objetivo?

A concorrência é forte, eu vou fazer o que estiver ao meu alcance para estar cogitado nas escolhas, ou estar numa pré-seleção para dar o máximo de dores de cabeça ao selecionador, mas sei que é muito complicado, porque temos excelentes guarda-redes a atuar em Portugal e no estrangeiro.

O Diogo Costa assumiu a titularidade, vê de perto o crescimento dele. Que análise é que faz dele?

É uma pergunta difícil, porque não trabalho com ele todos os dias, mas era algo que acho que já estava a ser preparado há algum tempo, tanto na formação, sempre foi o titular as seleções. Tem muita qualidade, frieza, um jogo de pés muito bom que dá muita segurança para jogar por trás, por ele. Dá muita saída de jogo.

Foi feito um trabalho de preparação com ele, desde cedo na seleção e no FC Porto. O selecionador entendeu que este era o momento de o lançar.

Está numa fase muito boa, o Porto está no primeiro lugar, é uma das defesas menos batidas e do que conheço é uma pessoa muito humilde, trabalhadora e tem tudo para agarrar a oportunidade. Esteve muito bem nestes dois jogos e acho que o selecionador vai manter a confiança nele para o Mundial.

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