11 dez, 2024 - 16:10 • Inês Braga Sampaio
Se a Arábia Saudita fosse uma aranha, a sua teia de influências alastrar-se-ia por todo o globo. São mais de 900 os acordos de patrocínio de marcas sauditas com entidades desportivas e mais de 1.400 os posicionamentos estratégicos no desporto mundial, desde o futebol ao golfe ou ao boxe, de acordo com um estudo do "Play the Game", um instituto de ética desportiva da Dinamarca financiado pelo Estado.
No futebol, a influência saudita é evidente e bem publicitada. Cristiano Ronaldo, Neymar e Karim Benzema são as figuras maiores de uma liga que gastou milhares de milhões de euros para construir um céu tão estrelado que os seus jogos têm agora projeção internacional.
João Cancelo, Rúben Neves, Otávio, Danilo Pereira, Marcos Leonardo (vendido este verão pelo Benfica ao Al Hilal por 40 milhões de euros), Moussa Diaby, Ivan Toney, Sergej Milinkovic-Savic, Sadio Mané, Fabinho, Roberto Firmino, Kalidou Koulibaly, Aymeric Laporte, Renan Lodi, Gabri Veiga, Riyad Mahrez, Steven Bergwijn, Gerginio Wijnaldum, Odion Ighalo, Franck Kessié, Marcelo Brozovic, Cristian Tello, Talisca, Merih Demiral, Yannick Carrasco, Malcom, Pierre-Emerick Aubameyang, Nacho Fernández, Chris Smalling, Kurt Zouma, Édouard Mendy, Aleksandar Mitrovic, Houssem Aouar, Jason Denayer são outros nomes relevantes.
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Entre os portugueses, além de Ronaldo, Cancelo, Neves, Otávio e Danilo, também jogam na Arábia Saudita João Costa, Fábio Martins, André Moreira, Pedro Rebocho e Tozé.
De acordo com a Deloitte, na época 2023/24, os clubes sauditas investiram cerca de mil milhões de euros em 94 jogadores de outras ligas.
Nos treinadores, há Jorge Jesus, Vítor Pereira, Álvaro Pacheco, Luís Castro e Paulo Duarte (saíram esta época), além dos conhecidos Laurent Blanc, Míchel, Stefano Pioli, Steven Gerrard, Hervé Renard (selecionador saudita), Rberto Mancini (ex-selecionador). Também já por lá passaram Nuno Espírito Santo, Rui Vitória, Pedro Emanuel, Ricardo Sá Pinto, Jaime Pacheco, José Peseiro, Leonardo Jardim, entre outros.
Tudo (ou muita coisa) começa em 2017, com a tomada de posse do príncipe Mohammed bin Salman, que assume o objetivo de limpar a imagem da Arábia Saudita no exterior. Ou, por outras palavras, fazer uso do fenómeno conhecido como "sportswashing". Para isso, opera mudanças profundas no "framework" de liderança do Fundo de Investimento Público (FIP), avaliado em cerca de 880 mil milhões de euros, de forma a ter autoridade para, unilateralmente, direcionar riqueza estatal para os megaprojetos em que desejar investir.
A partir daí, proliferam as parcerias, os patrocínios, os memorandos de entendimento, as posições estratégicas e as aquisições. O Newcastle é o exemplo maior. Em 2021, o FIP adquiriu o clube inglês por 354 milhões de euros e, a partir daí, várias empresas estatais sauditas tornaram-se patrocinadoras.
Não é caso isolado, contudo. O Atlético de Madrid é patrocinado pela Riyadh Air, acordo que se reflete nas camisolas e no "naming" do estádio, desde outubro, numa parceria de 250 milhões de euros. A Roma é patrocinada pela Riyadh Season. O Chelsea ia ter o mesmo "sponsor" esta época, no entanto, o negócio caiu.
Em agosto, o FIP assinou uma parceria multianual com a Concacaf, que inclui patrocínio das Taças dos Campeões masculina e feminina da Gold Cup 2025. A Riyadh Season patrocina a La Liga. O conselheiro real Turki Al-Sheikh comprou o Almería em 2020. Abdullah bin Musaid Al Saud, membro da família real, é dono de Beerschot VA (Bélgica), Al Hilal United (Emirados), LB Châteauroux (França), Kerala United (Índia) e Sheffield United (Inglaterra).
Além de 45 federações nacionais de futebol, incluindo a francesa, a Arábia Saudita assinou memorandos de entendimento com seis clubes: Sevilha, Espanhol e Valência (três), Zeljeznicar de Saravejo (Bósnia e Herzegovina), Juventus (Itália) e Sporting (Portugal).
No caso dos leões, este acordo diz respeito a um programa organizado pela Federação de Futebol da Arábia Saudita, chamado Future Falcons. O objetivo é trocar conhecimentos e desenvolver staff técnico e jogadores de ambos os lados, inserido num conjunto de esforços para "desenvolver o futebol saudita a todos os níveis e dar oportunidades diferenciadas a jogadores e técnicos sauditas em clubes de classe mundial".
No total, são 194 os patrocínios sauditas no futebol. Incluindo o patrocínio da gigante petroleira Aramco à FIFA.
Todavia, esta teia não se resume ao futebol.
Por exemplo, Yasir Al-Rumayyan, um dos líderes do FIP e que gere a Aramco, lidera a Federação Saudita de Golfe, a Golf Saudi e o tour LIV Golf. FIP e Aramco são patrocinadores coincidentes de vários eventos de golfe, aliás: Saudi Open, Saudi International, Team Series, Saudi Ladies International. Os dois últimos, da Ladies European Tour, têm “prize money” de cinco milhões de dólares.
A teia também é tricotada através de figuras públicas pagas para promover marcas sauditas. Stoffel Vandoorne, campeão de Fórmula E, é embaixador da Saudia Airline. Lionel Messi é embaixador da Saudi Tourism. O ex-tenista Rafael Nadal é embaixador da Federação Saudita de Ténis. Fora do desporto, a atriz Sofia Vergara é embaixadora do centro comercial de luxo VIA Riade.
O relatório do "Play the Game" lista 910 patrocínios no mundo do desporto e 1.412 cargos sauditas em organizações desportivas domésticas e internacionais. Mais de um terço dos acordos são atribuídos ao FIP.
Se rasparmos apenas o topo do balde: 346 patrocínios do FIP, mais 71 da Aramco, 70 da Autoridade Geral de Entretenimento, 64 da Vision 2030, 45 do Ministério do Desporto, 38 da Visit Saudi, 34 do Grupo Médico Dr Sulaiman Al-Habib, 31 da SAUDIA.
E se no futebol são 194, no boxe são 123, no golfe 92, no MMA 70, nos eSports 66, nos desportos motorizados 54, nos eventos multidesportivos 46, em hipismo 41, em bilhar e snooker 40, no ténis 36, no wrestling 29, no atletismo 22, no ciclismo 14, no críquete 13, no padel 13, no esqui 13, nas corridas de camelos dez, nos desportos aquáticos sete, na vela sete, no polo cinco, no hóquei quatro, na esgrima três, no basquetebol três, no ténis de mesa dois, e na escalada, no xadrez e na natação um, cada.