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Bola Branca em Manchester

"He's the man". Acompanhámos os adeptos do Manchester United antes e depois da estreia de Ruben Amorim

25 nov, 2024 - 08:00 • Inês Braga Sampaio

Estreia infeliz para Rúben Amorim no Manchester United: a equipa do treinador português empatou a um golo no terreno do Ipswich, no domingo, e está no 12.º lugar da Premier League. A Bola Branca acompanhou a viagem dos adeptos do United para Ipswich e as incidências da partida.

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A chuva torrencial que se abateu sobre Manchester Piccadilly, à chegada dos adeptos do United à estação de comboio, poderia ser interpretada como um augúrio, não estivéssemos nós em Inglaterra e em novembro.

Os dois comboios atrasados e o terceiro cancelado já fariam os mais supersticiosos suspeitar que o destino estava a preparar alguma. E, de facto, o dia estava enguiçado, pois terminou com um empate no jogo de estreia de Rúben Amorim.

O Manchester United até marcou primeiro, logo aos dois minutos, por intermédio de Marcus Rashford, mas os referidos agoureiros ter-se-ão agarrado aos talismãs e clamado razão, quando Omari Huthincson decidiu provar a sorte de longe e acertou em cheio nas redes de André Onana. Era o culminar de um dia que nasceu torto e nunca se endireitou.

Recuemos até ao início deste domingo em que Bola Branca foi mais uma passageira da caravana dos "red devils".

As rajadas de vento fazem o interior de Piccadilly guinchar e a chuva encharca o chão, ora pelas golfadas que conseguem entrar quando as portas se abrem, ora pelos sapatos e guarda-chuvas que a trazem para o interior. Quando a Renascença chega à estação, já umas poucas dezenas de adeptos do Manchester United se encontram na plataforma, à espera do comboio que os levará até Doncaster.

Uma vez em trânsito, alguns grupos mantêm-se em silêncio, a aproveitar as poucas horas de sono que lhes restam - terão cinco horas de viagem pela frente -, ao passo que outros fazem questão de começar a festa logo às oito da manhã. Sacos de cervejas e "snacks" dançam de mão em mão, pese a hora; o entusiasmo é palpável.

"Estou extasiado. [Rúben Amorim] está a dizer todas as coisas certas, esperemos que consiga tirar o máximo deste grupo de jogadores, que neste momento está aquém do seu potencial, e, potencialmente, disputar o acesso à Liga dos Campeões", afirma Jamie, um membro do grupo mais expressivo, em declarações à Renascença. Questionado sobre a previsão de resultado, atira: "Vitória por 4-0."

O êxtase não esmorece ao primeiro atraso, causado por trabalhos na ferrovia. Os adeptos continuam a falar alto e a cantar, mesmo depois de saber que não chegarão a Doncaster à hora prevista. De qualquer forma, e mesmo com esta demora de mais de 20 minutos, o próximo comboio não está em risco.

O enxame adensa-se a cada paragem e, na chegada a Doncaster - uns pela linha original, outros por Sheffield, a terra do Wednesday, com que Carlos Carvalhal foi, por duas vezes, derrotado no "play-off" de acesso à Premier League -, os 20 ou 30 adeptos que tinham iniciado a viagem em Manchester já se multiplicaram. Os decibéis também aumentam, quando embarcam rumo a Peterborough, a última escala desta viagem de cinco horas.

Mais um atraso, por problemas na linha, e, quase a chegar a Peterborough, a machadada final na normalidade: o último comboio, que levaria os adeptos até Ipswich, foi cancelado. Os adeptos querem continuar neste comboio, até Kings Cross, e mudar aí para Ipswich, mas a agência ferroviária diz que não, que há demasiada gente à espera para entrar em Peterborough e que não há espaço para quem deveria sair na próxima estação.

A solução? A agência chama táxis para todos os lesados da ferrovia e, de quatro em quatro, lá se ensardinham todos dentro de carros demasiado pequenos para a viagem de duas horas que os espera.

"Está a ser um pesadelo", admite Chris, um dos três adeptos que partilham táxi com a Renascença.

A proximidade física, inescapável, puxa pela conversa sobre o Manchester United e Rúben Amorim: "Vai ser um grande treinador, acredito que encontrámos o treinador certo na altura certa."

Chris espera que o técnico português vença o primeiro jogo. No entanto, depois de relembrar a derrota de estreia de Alex Ferguson, em 1986, e a goleada (4-0) imposta por David Moyes, em 2013, conclui que, afinal, se calhar "é melhor perder e, depois, vencer tudo o resto".

Chris e o amigo, Mal, ganharam os bilhetes da lotaria do Manchester United para os adeptos. Mal aposta numa vitória por 3-0 para a estreia de Amorim, com golos de Bruno Fernandes e Diogo Dalot; Chris acredita que será 3-1, embora, agora, tenha mais reservas.

Questionados sobre o mercado de transferências, os dois amigos escolhem o mesmo alvo: "Aquele Gyökeres, do Sporting. O ponta de lança..."

A viagem de carro acaba por se revelar mais rápida do que o comboio teria sido e a caravana de táxis invade Ipswich pelas 13h30.

A primeira coisa que a grande maioria dos adeptos faz é deslocar-se ao pub mais próximo. À porta, são direcionados para um parque de estacionamento, logo ali ao lado, a menos de um quilómetro de Portman Road. A música já vai alta, as cervejas rodam livremente e, depois de uma viagem de cinco horas, um simples "cheeseburger" é o novo bife tártaro.

Com clássicos como "Sweet Caroline", de Neil Diamond, e "Hey Baby", DJ Ötzi, a "bombar" nas colunas - em alguns casos, as versões da claque do Manchester United -, o recinto enche. De 100 a 200 pessoas, ao fim de de duas horas o número passa a 400 ou 500, ou até mais, e começa a ser difícil passear por entre os adeptos, tantos deles de copo quase a transbordar e sorriso cada vez mais rosado.

"Eu muito entusiasmado. Extasiado", assume um fã, que também se mostra encantado com Rúben Amorim. "Ele fala bem, falta agora vê-lo em ação", assinala. Quando lhe pedimos um prognóstico, atira: "Vitória por 3-1."

Chega a hora da abertura de portas e os adeptos começam a deslocar-se, paulatinamente, para o estádio. Os mais barulhentos resistem, contudo, e há quem não se coíba de lançar um grito aleatório para o microfone da Renascença.

Um dos adeptos que tardam em arredar pé, apesar da proximidade do pontapé de saída, mostra-se confiante no sucesso de Rúben Amorim e lança uma previsão ainda mais arrojada: "Vitória por 4-0."

O golo de Rashford, logo ao minuto e 20 segundos, parece apontar para isso. Porém, quem se engrandece é o Ipswich Town, que não só empata como chega a ameaçar, por diversas vezes, a reviravolta.

Ao intervalo, num dos cafés portugueses em Ipswich, Aníbal revela que está a a torcer pelo Ipswich Town, por ser o clube da terra que o acolheu. Por coincidência, bate certo com as cores do clube do coração: o FC Porto. Ele que é de Setúbal.

"Eu venho de uma família humilde. O meu pai era benfiquista, o meu irmão mais velho era benfiquista, a minha mãe era do Vitória de Setúbal e eu sou portista. Eu jogava à bola na rua, com os amigos, e comprámos uma camisola do Porto. E aqueles meninos com sete anos de idade que compraram essa t-shirt tornaram-se todos portistas. Quem está vivo ainda é portista. Desde aí, o meu amor pelo Porto foi enorme e continua a ser", conta.

A certa altura, pede o microfone e pergunta ao amigo Policarpo: "Qual é o prognóstico do que possa acontecer neste jogo?"

"Dos anos de vida que eu tenho de Portugal e de Inglaterra, eu penso, como homem e como jogador amador, que vai ficar 1-1. Vai ficar um empate, para ficar tudo contente", responde o "pescador de Ipswich", como lhe chamam com carinho, com um sorriso malandro.

E tem razão. Apesar das tentativas de lado a lado, o empate a uma bola mantém-se e Rúben Amorim viaja de volta para Manchester insatisfeito.

Quem não segue logo viagem para casa são os adeptos do United, que se reúnem nos vários pubs de Ipswich. A Renascença vai ao encontro deles para perceber o que acharam desta estreia do técnico português.

"Muito mau. Muito, muito mau. Tão, tão, muito, muito mau", declaram, a meias, Mack e Bobby, dois adeptos que conseguiram entrar no estádio sem bilhete.

Longe das cantorias, há outros fãs mais comedidos, como John.

"Foi típico Manchester United. Não fomos bons o suficiente. O Ipswich mereceu o empate e teve oportunidades para vencer. Como nós também tivemos", ressalva.

John acredita no potencial de Amorim e lamenta que, no futebol atual, o dinheiro seja amigo da pressa e inimigo da perfeição. Ainda assim, tem um receio: "Ele fez um bom trabalho em Portugal, mas o salto para a Premier League é gigante. Foi por isso que Ten Hag falhou."

Billy admite que, por um lado, ficou satisfeito com a má exibição, porque mostra a Amorim a dimensão do "desafio que tem pela frente".

"Este jogo mostrou todo o trabalho que ele que terá de fazer para ter sucesso no United. Desejo-lhe o melhor, porque há muito tempo que não estávamos numa situação tão má", assevera.

No mesmo pub, Ben concorda que a estreia não foi boa, o que o deixou com "sentimentos mistos". Com Ian, o mais velho deste par, partilha o microfone e as opiniões: é demasiado cedo para tirar quaisquer conclusões.

A meias com Ben, Ian dá a tática: banco para Casemiro e Eriksson, que estão "demasiado velhos", subir Amad e ver se Rashford se esforça. "Há muitos problemas para resolver", frisa.

Depois de "muitos treinadores em poucos anos", Ian quer "um treinador para muitos anos". Todos elogiam o carisma do português e garantem que estão do seu lado.

"Gostamos dele", declara Billy.

Por isso, pedem tempo e paciência para Rúben Amorim, para que possa mostrar que tem o que é preciso para dar a volta aos problemas estruturais do Manchester United. Nas palavras de Ian, "he's the man".

É o homem certo.

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