22 nov, 2024 - 12:40 • Inês Braga Sampaio
O Ipswich Town também tem uma espécie de Ruben Amorim. Kieran McKenna é o homem que tentará estragar a estreia do treinador português pelo Manchester United e leva o seu próprio frasco de pimenta para a partida de domingo.
O técnico norte-irlandês, de 38 anos, foi adjunto de José Mourinho em Old Trafford e, em maio, depois de ter levado o Ipswich a duas subidas de divisão consecutivas até à Premier League, 22 anos depois, chegou a ser apontado como o principal alvo para substituir Erik Ten Hag, que acabou por não sair no verão. O neerlandês deixou mesmo o United em outubro, mas o sucessor foi outro: Ruben Amorim.
Simon Milton, antigo jogador - fez mais de 300 jogos, entre 1987 e 1998 - e atual embaixador do Ipswich Town, avisa que jogar na Premier League é bem diferente de ganhar em Portugal, contudo, vê potencial em Amorim.
"Parece ser uma grande contratação. É mais um treinador jovem com potencial que vem de Portugal, mas treinar na Premier League é diferente. Esperamos um Manchester United animado, os jogadores tentarão todos provar-se ao novo treinador. Mas o Ipswich estará pronto. A história do Kieran McKenna com o United é um condimento extra", assinala, em entrevista a Bola Branca.
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Kieran McKenna não saiu porque não quis, sublinha Simon Milton: "O compromisso dele com o projeto foi crucial, foi fantástico ele ter mostrado essa lealdade. O Ipswich Town deu-lhe o primeiro trabalho como treinador principal."
Ruben Amorim também não deixou o Sporting no verão, apesar de, agora, ter saído a meio da época para assumir o comando do Manchester United.
Na verdade, é fácil traçar paralelismos entre o português e McKenna: ambos são treinadores jovens (um ano de diferença) que surgiram quase do nada e, contra as expectativas, reergueram o clube, cerca de duas décadas depois, e despertaram o interesse dos gigantes europeus.
O que McKenna fez foi de tamanha dimensão que já o comparam a Bobby Robson, que conquistou a Taça de Inglaterra e a Taça UEFA (agora Liga Europa) pelo Ipswich.
Quando a Renascença questiona os adeptos que passam, a espaços, pelas ruas que abraçam Portman Road, todos garantem que o norte-irlandês é, já, uma lenda do seu clube.
"Se ele ficar no clube tempo suficiente, penso que pode. Eu já penso que ele é uma lenda do clube pelo que fez. Levou-nos à Premier League. Mas ainda pode fazer muito mais", vinca um jovem adepto.
Questionado sobre se McKenna pode ser o novo Bobby Robson, um segundo adepto sorri: "Essa é a pergunta do milhão de dólares."
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Para Simon Milton, que também participou numa subida à primeira divisão inglesa com o Ipswich, em 1992, o que McKenna fez nas duas últimas temporadas foi "um feito incrível".
"Há dois anos, estávamos na terceira divisão. É fantástico estar de volta à Premier League, 22 anos é muito tempo", assevera.
No entender de Milton, há dois grandes obreiros deste "ressuscitar" do Ipswich Town.
"Um deles é o treinador. Trabalhei com muitos treinadores, mas ele está bem lá em cima, entre os melhores. Grande personalidade, muito humilde. Fora de campo, o nosso CEO, Mark Ashton, teve um papel fundamental na revolução do clube. É o McKenna a fazer bem as coisas dentro de campo e o Mark Ashton fora dele. Esses dois mudaram a nossa sorte nos últimos três anos", enaltece.
A euforia do regresso à elite do futebol inglês esmoreceu um pouco com o arranque de época do Ipswich. Ao fim de 11 jornadas, os "tractor boys" estão no 17.º lugar da tabela, com cinco derrotas, cinco empates e uma só vitória.
Ainda assim, Simon Milton garante que ninguém está desiludido com McKenna e a equipa.
"A expectativa era apenas tentar jogar bem todas as semanas. Ao fim de 11 jornadas, estamos fora da zona de despromoção. Temos o estádio cheio, os adeptos estão com o treinador. Ninguém está dececionado, de forma nenhuma. São só positivos e assim continuará a ser até ao resto da época, à medida que tentamos manter-nos na Premier League, ganhar tantos jogos quanto possível e competir contra as melhores equipas do mundo", vinca o antigo jogador.
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O único triunfo do Ipswich até agora foi na última jornada, precisamente, e arrancado no terreno do Tottenham. Um resultado que alenta as esperanças dos adeptos de continuar entre os melhores, apesar da "dimensão da tarefa". E que aumenta a expectativa para domingo.
"É muito bom voltar a competir com equipas como o Manchester United", destaca, com uma garantia para o jogo de estreia de Amorim: "O estádio vai estar a abarrotar, vão estar mais de 30 mil pessoas."
Os adeptos esperam ver Kieran McKenna por mais tempo em Portman Road. Milton não é exceção e, nesta entrevista a Bola Branca, puxa pelo sentimento.
"O Ipswich Town deu-lhe o primeiro trabalho como treinador principal. Ele trouxe a equipa técnica e todos os jogadores que queria, o clube apoiou-o dentro e fora de campo. Ficámos todos felizes por ele ter decidido ficar e continuar a viagem em que o Ipswich está, de que ele é parte fundamental", declara.
Porém, um dos adeptos que a Renascença entrevistou junto a Portman Road decide lançar a acha para a fogueira, relembrando que McKenna já esteve muito perto de se sentar na cadeira que Ruben Amorim agora ocupa.
"Se o Manchester United não tiver uma boa época... Eles foram buscar um novo treinador, de Portugal. Podia ter sido o Kieran McKenna. Quem sabe, se este novo treinador do United não funcionar e se o Ipswich estiver bem, o Kieran McKenna pode ser o próximo alvo deles", refere.
É mais um ingrediente para apimentar a estreia de Amorim pelo Manchester United. A partida está marcada para domingo, às 16h30, e a Renascença estará em Ipswich para acompanhar o acontecimento.