22 nov, 2024 - 15:50 • Hugo Tavares da Silva
Quando um jornalista mencionou, na primeira conferência de imprensa de Amorim no Manchester United, “the impossible job”, Ruben, que se assumiu "um sonhador", sorriu como sorria.
“Chamem-me inocente, mas acho que sou o homem certo. Posso estar errado. A terra vai continuar a girar e o sol a nascer. Não estou preocupado”, deu troco.
Amorim vai estrear-se como sucessor de, entre muitos outros, Alex Ferguson. Pelo menos na aura, como dizem agora por lá. Na primeira aparição diante dos jornalistas britânicos, o ex-treinador do Sporting falou sobre o clube, a equipa, os jogadores, o que vai mudar e não vai mudar e também José Mourinho. Pediu tempo, repetiu-o, talvez esquecido de que os adeptos do United têm esse trauma com Erik ten Hag, que falava muito disso.
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Evolução ou revolução?, questionaram Amorim sobre o que vem aí. “Não é uma revolução. Não consigo dizer evolução, porque temos de esperar”, refletiu. “Vamos jogar num estilo diferente, temos as nossas ideias, não estou a dizer que são as melhores ideias. Não é evolução nem revolução, mas uma forma diferente de jogar.”
Mais à frente, explicaria o que teria de mudar e que impacto espera ter. “Em coisas simples”, disse, sem hesitação. “Penso que perdemos a bola muitas vezes, temos de manter a bola. Temos de ser melhores a correr para trás, acho que isso é claro para toda a gente”, ao dizer isto esboçou um glorioso sorriso, sacando vários risos na sala, o que denuncia que esse é um dos problemas maiores.
E continuou: “Temos de ser muito bons nos detalhes. Às vezes esperamos mudar grandes coisas, mas temos de mudar e melhorar nas coisas pequenas. Na forma como jogamos, como vemos o futebol, no jogar em equipa, entender o jogo de uma forma. Em coisas pequenas, acho que posso ajudar muito estes jogadores”.
Sem surpresa, foi questionado sobre José Mourinho. Não só pelo famoso estágio que Amorim fez com ele no United, mas também sobre a conferência de imprensa do mítico “Mou”, em 2004, na apresentação como treinador do Chelsea.
“Ele mandou-me uma mensagem”, confirmou Amorim. “Disse-me que o United era um grande clube, com boas pessoas, e isso é verdade. Muitas coisas mudaram, estamos num edíficio novo. Sou um homem diferente, estava a aprender, agora espero ensinar alguma coisa aos meus jogadores. O clube continua a ser grande, ainda é o melhor clube em Inglaterra. Queremos ganhar outra vez, é isso.”
Questionaram ainda sobre de que forma José Mourinho, hoje no Fenerbahçe, o influenciou. “Não foi só a mim, mas a todos os treinadores portugueses. Ele mostrou que podemos ser os melhores do mundo. Num país pequeno, isso pode meter um carimbo em todos”, explicou.
E assegurou: “Sou diferente dele, mas lembro-me desse tempo. Olhávamos para ele e sentíamos que ele podia ganhar em todo o lado. Ele era campeão europeu, eu não sou. Sou diferente, num momento diferente, o futebol agora é diferente. Acho que sou a pessoa certa para este momento. Sou jovem, percebo os jogadores, tento usar isso para os ajudar, como o Mourinho fez nessa altura”.
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O tema mercado e lógica de recrutamento também foi abordado. Ele puxou para si a responsabilidade, dizendo que deve ter a última palavra nas contratações, pois, no fim do dia, também será ele a dar a cara se ou quando os resultados não forem bons. Convocou uma conexão entre departamentos. Ainda tem de conhecer a Premier League, avisou, definir o perfil dos futebolistas. “Temos de melhorar o nosso processo de recrutamento”, assumiu, até porque o clube tem vida longa e o treinador nem por isso.
Ruben Amorim só pede duas coisas aos jogadores: “trabalho duro” e “acreditar na nova ideia”. Foi isto mesmo que confessou quando um jornalista sugeriu que muita gente não acredita nos jogadores do Manchester United, os mesmos que estão numa pobre posição na classificação e que são os responsáveis pela saída de Erik ten Hag, o neerlandês que assinara, antes de Old Trafford, um trabalho divino no Ajax. Amorim deixou-lhe um enorme elogio.
O contrato de dois anos e meio é suficiente para se saber se ele é o homem certo para o projeto, esclareceu. “Eu entendo que precisaremos de mais do que dois anos e meio, mas tenho de ganhar alguma coisa, em algum lado”, assegurou, rindo claro.
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Sobre o que se vai ver em campo, Amorim admitiu que haverá poucas mexidas no 11, mas sim nos detalhes, como posicionamentos, forma de guardar a bola ou cobri-la. Mas também que haverá adaptações, pois o plantel não foi construído para o seu 3-4-3 que tem gerado tanto debate e conversa no Reino Unido.
“Eu escolho 100% a minha maneira de jogar”, vincou, quando lhe perguntaram se ia jogar como sempre jogou ou se ia começar com calma. “Prefiro arriscar, mas avançar assim desde o primeiro momento. Se eles sentirem que acredito tanto na nossa forma de jogar desde o primeiro momento, eles vão acreditar. Não há dúvida, não há uma segunda forma.”
O Manchester United de Ruben Amorim vai jogar no domingo, no campo do Ipswich, às 16h30. A Renascença está por lá a contar histórias e a acompanhar a chegada do novo treinador especial do nosso cantinho.