13 nov, 2024 - 11:15 • Hugo Tavares da Silva
Era um miúdo com jeito para a bola mas, com 18 anos e a jogar na academia do Ajax, Siem de Jong pensava em perseguir uma vida académica. O neerlandês até começou a estudar economia e negócios na universidade, mas dois meses depois foi chamado para a primeira equipa dos gigantes de Amesterdão. E lá largou os livros e as sebentas.
O futebol meteu-se pelo meio dessa intenção com cifrões e outros tipos de movimentos de risco. Começou por baixo, tornou-se capitão, ganhou muitas peças de prata. Mas também acumulou lesões, uma delas gravíssima no Newcastle, quando quase ficou cego. À medida que o nível ia baixando, que os objetivos desapareciam e o corpo não correspondia, lembrou-se do plano do adolescente de Jong.
Foi isso que o internacional neerlandês, de 35 anos, contou na Web Summit, no palco 16 do pavilhão 5, ao lado da vencedora do Tour de France Demi Vollering, que contou como começou a vidinha como florista e que até aí queria ser a melhor. Os atletas vieram a Lisboa falar sobre fazer a diferença dentro e fora de campo ou da estrada, sendo que os negócios e os investimentos estiveram no cerne da conversa.
“Os negócios são muito parecidos com o futebol”, refletiu o antigo futebolista do Ajax, com quem fez 259 jogos, onde está a estagiar para aprender o lado burocrático da organização, longe da relva reluzente. “Tentamos criar uma equipa, ter toda a gente com um papel específico, trabalhar juntos para ter uma máquina bem oleada. Depois, estabelecer objetivos claros, metas, é muito parecido com o negócio. Quanto melhor uma equipa render e os elementos trabalharem juntos…”
Foi nessa altura que o moderador, Miguel Delaney, jornalista do “The Independent”, recordou Louis van Gaal, por todas essas regras. Jong riu-se, talvez recordado de algumas duras.
“Sim, o Louis van Gaal era muito honesto, dizia-te o teu papel muito claramente, como via a equipa, dizia as táticas, é muito parecido com o que tento agora fazer nos negócios”, admitiu este antigo camisola 10 que tem um irmão avançado, Luuk de Jong, ex-Barcelona e atualmente no PSV. “É bom que todos saibam o seu papel e como podemos trabalhar juntos. É algo que aprendemos no futebol.”
Siem de Jong abandonou o futebol aos 34 anos, em 2023, com o corpo castigado, quando jogava na segunda divisão neerlandesa, no De Graafschap. A carreira dividiu-se entre passagens por Ajax, Newcastle, PSV, Heerenveen e Sydney FC e FC Cincinnati, de Austrália e Estados Unidos.
Web Summit
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Esse definhar, praticamente inevitável para todos os futebolistas, marcou-o. Se numa primeira fase da carreira estava “na zone”, a subir os degraus, a transformar-se em capitão e figura de um clube gigante, compreendendo a necessidade de andar para a frente e estabelecer uma nova meta, a segunda parte da vida profissional foi mais frustrante.
“A certa altura eu estava muito lesionado, perdi um bocado isso”, confessa. “Sentia que não conseguia render ao nível que eu costumava render, porque perdi esse foco em querer atingir esses objetivos. Foi uma loucura sentir isso por causa das lesões, por não jogar muito, por mudar para clubes mais pequenos, não estabelecia objetivos. Isso é mesmo necessário para manteres-te a render no pico.” Ou, como ele disse no palco, “moving forward”.
É talvez por isso que os atletas de topo muitas vezes dizem que nem se apercebem do que fizeram, já olham para o amanhã. É a droga desta gente.
Este antigo futebolista, nascido em Aigle na Suíça, contou ainda como o Ajax pode ser um exemplo para o mundo empresarial. “Temos de fazer algo diferente. Olhar para os miúdos, para a academia, e trazer o talento para a nossa forma de jogar. Não podemos competir com o dinheiro dos grandes clubes da Europa. Queremos encontrar diferentes formas inovadoras de criar sucesso. É algo que vejo nos negócios também, encontrar maneiras inovadoras para estar à frente dos grandes concorrentes.”