12 nov, 2024 - 17:30 • Hugo Tavares da Silva
Quando saiu do palco desapareceu por uns segundos, como se mergulhasse no oceano, e de repente… bang. Luzes. Rebuliço. Encontrões, perseguição. Omar Berrada, o novo CEO do Manchester United, já sabe o que é sentir-se uma estrela. E não piou. O homem que veio a Lisboa fechar a contratação de Ruben Amorim, no dia 28 de outubro, voltou a Lisboa para a Web Summit.
“Estamos muito entusiasmados, muito felizes pelo Ruben ter começado ontem [segunda-feira]”, começou por dizer, no palco 16 do pavilhão 5, o homem que se transformou no primeiro movimento da INEOS, o recente acionista minoritário dos red devils, ao ser recrutado no coração do rival City. “Eu estava aqui em Lisboa há duas semanas. Voltei. Estamos muito entusiasmados com o futuro.”
Este senhor foi, segundo vários relatos na imprensa britânica, o homem que fez mais força por Ruben Amorim nos bastidores do clube, onde se levantava a sobrancelha por causa do 3-4-3 e da suposta teimosia em não mudar. Finalmente, ganhou o braço de ferro e, a partir daqui, o sucesso de Ruben será o sucesso de Berrada.
O tema da palestra-conversa de 25 minutos era sobre a relação entre desporto e tecnologia, mas no fundo foi mais publicidade do que outra coisa. A Snapdragon, filha da Qualcomm, é o patrocinador principal alojado na parte da frente da farda do clube inglês. O Chief Marketing Officer – vale falar em estrangeiro quando estamos em contexto de Web Summit? – da empresa, Don McGuire, esteve no palco a bater bolas com Berrada, juntamente com a moderadora Lara O’Reilly, do “Business Insider”.
O CEO do United veio falar nas maravilhas da tecnologia no desporto. Este parisiense filho de marroquinos acredita que a inteligência artificial pode transformar o futebol, revolucionando a análise e o tratamento dos dados nos clubes.
“A lógica desta parceria não é só meter um logotipo na camisola”, garantiu sobre o parceiro que magica processadores poderosos para smartphones e outros aparelhos. “Queremos algo mais engajador. A maneira como os adeptos interagem com as equipas está a mudar muito rápido. A tecnologia pode ser uma solução para os clubes como o nosso para chegarmos à nossa audiência."
Omar Berrada valoriza a narrativa. Disse-o mais do que uma vez. “Qual é a história? É genuína? Queremos continuar a desenvolver este storytelling”, explica, no seguimento de justificar a escolha de Alex Ferguson e Eric Cantona para o vídeo de apresentação da parceria.
“Queremos gerar histórias. Como clubes, somos bons a montar um espectáculo no relvado e a manter os adeptos satisfeitos. Não somos bons a saber o que é que a tecnologia pode fazer por nós”, refletiu o dirigente do United que ainda na segunda-feira andou a mostrar as instalações do Manchester United, em Carrington, a Ruben Amorim. “O que podemos fazer com a inteligência artificial? Seja na performance, seja na relação com os adeptos.”
O marroquino-francês entende que a experiência do adepto e a forma como consome os eventos em direto vai mudar muitíssimo, “radicalmente”, nos próximos 10, 15 anos. “Quando pensamos em construir um novo estádio, queremos um parceiro que esteja integrado nos espaços para melhorar a parte tecnológica.”
Resumindo, “isto vai continuar a evoluir. Como clube, temos de pensar à frente e ser os líderes da inovação”.
No dia 20 de janeiro deu-se o movimento que chocou o dirigismo em Inglaterra. Omar Berrada, que chegou antes de Ferran Soriano e Txiki Begiristain ao City (e que era visto como um possível sucessor), foi contratado pelo Manchester United para o cargo de diretor executivo. “[Esta contratação] representa o primeiro passo para o futebol e o desempenho no relvado voltarem a ser o mais importante que fazemos”, podia ler-se num comunicado do United.
Este homem, impecavelmente vestido neste regresso ao local do crime, abandonou a universidade nos Estados Unidos seis meses depois de começar o curso de engenharia, em Massachusetts. Ele queria outra coisa: a Europa.
Manchester United
Manchester United espera que situação esteja resol(...)
Doido pelo Barça, mudou-se para a cidade onde Johan desatou outra revolução. Ali começou a trabalhar na Tiscali, uma empresa de telecomunicações, conta um perfil no “The Athletic”, a secção de desporto do “New York Times”. Ali conheceu a mulher e recebeu um convite que o esmagou: o Barça contratou o CEO da Tiscali e este levou-o.
“Provavelmente, teria aceitado ir para o Barcelona de borla”, disse, em jeito de brincadeira, numa entrevista à EU Business School. Foi trabalhar para um departamento pouco futeboleiro, mais a ver com negócio e comunicação. O cargo era qualquer coisa como gestor sénior de desenvolvimento de negócios de media e diretor de um gabinete de publicidade.
O francês, com um catalão perfeito, viveu aquela época dourada de Pep Guardiola e, oito anos depois, mudou-se para o Manchester City em 2011. Recentemente, ainda segundo o “NYT”, rejeitou cargos importantes noutro clube da Premier League, em equipas da liga norte-americana e na NFL.
Quando Berrada chegou a Old Trafford, o clube indicou ainda o seguinte: “Como um dos mais experientes executivos no topo do futebol europeu, Omar traz uma riqueza de conhecimentos futebolísticos e comerciais, com um registo comprovado de liderança bem-sucedida e uma paixão para ajudar a liderar a mudança em todo o clube”.
A revolução de Berrada, escudada pelo novo patrão Jim Ratcliffe, começou com um nome muitíssimo familiar para todos os portugueses: Ruben Amorim.