01 out, 2024 - 15:00 • Inês Braga Sampaio
Cento e dezassete minutos no relógio. Cesc Fábregas desmarca na meia direita da área Andrés Iniesta, que recebe orientado para o pé direito, deixa-a saltitar uma vez na relva e, com ela no ar, desfere um remate cruzado, potente, que foge à luva do guarda-redes da Holanda e dá golo. Na próxima terça-feira, dia 8 de outubro, o autor do golo mais importante da história do futebol espanhol dirá adeus aos relvados.
Quase tão célebre como o golo que deu à Espanha o título de campeã do mundo, em 2010, ficou o grito emocionado de José Antonio Camacho, que comentava o jogo para a televisão espanhola Telecinco desde a bancada de imprensa do Soccer City, de Joanesburgo, palco da final do Mundial de África do Sul. "Iniesta de mi vida!"
Foi o momento mais alto de uma carreira repleta de sucessos, alternados entre o "6" de Espanha e o "8" do Barcelona, as duas equipas da vida de "Don Andrés".
Juntou uma passagem de cinco anos pelo Vissel Kobe, do Japão, e uma temporada no Emirates Club, dos Emirados Árabes Unidos - aquela que, agora, se torna a sua última equipa. Embora longe dos holofotes, Iniesta nunca ficou longe da memória dos adeptos e, agora, Barcelona voltará a vestir-se a rigor para honrar o final da carreira de um dos melhores futebolistas que por lá passaram.
Será em conferência de imprensa que o médio espanhol, de 40 anos, revelará os motivos para o fim da carreira de futebolista e revelará o que se segue.
Nascido em Fuentealbilla, na província de Albacete, no dia 11 de maio de 1984, Andrés Iniesta deu os primeiros pontapés numa bola de futsal, devido à falta de campos de futebol de 11 na sua aldeia. Aos 12 anos, quando disputava um torneio de sete, despertou a atenção de olheiros de vários clubes, contudo, foi o Barcelona que conseguiu contratá-lo. Aí começou a viagem do jovem Andrés por La Masia.
Passo a passo, Iniesta lá subiu os escalões das escolas do Barcelona, até chegar à equipa principal, com apenas 18 anos. A estreia, em 2002, em Bruges (ou Brujas, em espanhol, que quer dizer "bruxas" em português - um nome curioso tendo em conta que o jogo se realizou a apenas dois dias do Halloween), para a Liga dos Campeões, foi, segundo o próprio, o momento mais especial de toda a carreira de Andrés.
Aos 20 anos, Iniesta já era um indiscutível do Barcelona. Em 2005/06, na companhia de superestrelas como Ronaldinho e Deco, que estavam no topo da carreira e do mundo, conquistou a sua primeira Liga dos Campeões.
Foi a partir de 2008/09, contudo, que a verdadeira lenda de Iniesta começou, com ascensão do ex-jogador Pep Guardiola - que comentara com Xavi, anos antes, que o jovem Andrés o mandaria para a reforma - ao comando da equipa. O agora treinador do Manchester City levou os catalães ao "triplete" - Champions, campeonato e Taça do Rei -, algo que nunca uma equipa espanhola conseguira. Aquele Barcelona de Guardiola conquistaria mais duas Ligas dos Campeões, com quatro maestros ao pedal da roda de fiar: Busquets, Xavi, Iniesta e Messi.
Sem Guardiola, o Barcelona do quarteto genial voltou a vencer a Champions, em 2015, três anos antes de Iniesta se despedir do Camp Nou e rumar ao Japão.
Mesmo sem Messi - e, no Euro 2008, Busquets - a dupla Xavi-Iniesta transportou o sucesso para a seleção, com que se sagrou campeã europeia, em 2008 e 2012, e do mundo, em 2010. O "6" e o "8" do Barça eram o "8" e o "6" na "Roja". A partilha de números era o reflexo da sua comunhão em campo. "La computadora" e "el ilusionista", o casamento perfeito do cérebro com a magia no futebol.
Andrés Iniesta prepara-se, agora, para se despedir dos relvados, com um total de 40 troféus oficiais no palmarés, 38 a nível sénior, incluindo nove ligas espanholas, um campeonato japonês, quatro Ligas dos Campeões, três Supertaças Europeias, três Mundiais de Clubes, e dois Europeus e um Mundial de seleções.
Fez mais de mil jogos como profissional: pelo Barcelona, com o número 8, somou 674 partidas, 57 golos e 121 assistências; com a seleção de Espanha, de 6 às costas, registou 131 internacionalizações AA, 14 golos e seis assistências. O oitavo desses golos foi ao minuto 117 daquela final de 11 de julho de 2010, na África do Sul, frente aos Países Baixos, o mais importante da história do futebol espanhol.