Qatar 2022

Quanto custa organizar um Mundial no deserto?

18 nov, 2022 - 14:48 • Diogo Camilo

Para erguer o Campeonato do Mundo que começa este domingo, o Qatar investiu mais de 210 mil milhões de euros. A preparação custou mais do que os outros 21 Mundiais juntos e o retorno será pouco, já que a FIFA fica com a maior fatia das receitas.

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Quando, há mais de 12 anos, a FIFA decidiu atribuir ao Qatar a organização do Mundial de 2022, a riqueza do país do Médio Oriente era de pouco mais de 125 mil milhões de euros. Desde então, os qataris gastaram mais de 211 mil milhões de euros para tornar este o Campeonato do Mundo mais caro de sempre, ultrapassando o total de dinheiro investido em todas as outras 21 edições do Mundial.

Este valor significa que, para planear a maior competição internacional de seleções, o Qatar precisou de gastar mais de 17,5 mil milhões de euros, cerca de 10% de toda a riqueza do país, todos os anos desde 2010.

Para efeitos de comparação, o valor investido neste Mundial é 66 vezes o valor entregue à TAP para o resgate da companhia aérea ou mais de 40 vezes o custo para o Estado português da resolução do BES.

Os números ganham contornos ainda mais megalómanos quando comparados com anteriores edições do Campeonato do Mundo: nunca uma prova custou mais de 15 mil milhões a ser preparada e o valor investido nos últimos seis mundiais é cinco vezes inferior ao Mundial do Qatar por si só.

A prova disputada no Brasil, em 2014, era até aqui o Mundial mais caro e custou cerca de 14 mil milhões de euros a preparar, com a última edição na Rússia, em 2018, a não ter custado mais do que 12 mil milhões de euros.

Mas será que o valor justifica o investimento? Alguma vez valeu a pena gastar milhares de milhões de euros para organizar um evento que dura apenas um mês?

O retorno económico imediato é pouco, dado que tanto a receita dos bilhetes, como a publicidade e os direitos de transmissão dos jogos vão inteiramente para a FIFA, que estima custos de 1,5 mil milhões de euros com estas operações e cerca de 4,5 mil milhões de receitas, para um lucro de 3 mil milhões de euros.

Um dos custos a cargo da própria FIFA são os prémios para as seleções.

Além dos 1,5 milhões de euros que cada seleção qualificada recebeu para cobrir os custos de participação para o Mundial, serão distribuídos mais de 420 milhões de euros em prémios relativos à prestação no evento, com o vencedor a arrecadar cerca de 40 milhões de euros e uma seleção eliminada na fase de grupos a ficar “apenas” com nove milhões de euros.

Assim, a economia local do Qatar recebe em troca apenas o dinheiro do turismo e alojamento associado ao evento, que fica muito aquém dos custos logísticos que o país teve para acomodar mais de 1,2 milhões de visitantes numa área menor que a região de Trás-os-Montes.

Além destas despesas, foi ainda construído um novo sistema de metropolitano que terá custado cerca de 36 mil milhões de euros e os novos estádios para este Mundial terão custado cerca de 10 mil milhões de euros.

Claro que os mais de 210 mil milhões de euros investidos no Mundial contribuem a longo prazo para o desenvolvimento do país e fazem parte do plano nacional do país para 2030, enquanto que alguns dos estádios têm já o seu desmantelamento previsto para depois da competição.

Dos oito que vão receber jogos no Qatar, todos com capacidade para mais de 40 mil pessoas, sete foram construídos de raiz e muitos deles ficarão sem uso para um país que tem menos de 3 milhões de habitantes e onde o futebol não é o principal desporto praticado.

Mundial caro, bilhetes mais caros

E não é só no custo a organizar o Mundial que esta edição no Qatar é cara. Os bilhetes, o alojamento e os serviços no país tornam a prova na edição mais cara de sempre também para quem quer ver os jogos.

A partida de abertura deste domingo, entre Qatar e Equador, terá preços que podem chegar até aos 2.250 euros, sendo que os mais acessíveis custam cerca de 200 euros.

Nos jogos da fase de grupos, nos quais também está incluída a seleção de Portugal, os bilhetes divididos em quatro categorias custam 40, 250, 600 e 800 euros.

A categoria 4, com bilhetes mais caros, está reservada apenas para residentes do Qatar.

E se nos oitavos de final os bilhetes mais baratos custam apenas 70 euros, para os quartos de final sobem bastante: os mais acessíveis custarão 300 euros e os mais caros 1.550€, enquanto nas meias-finais os bilhetes mais baratos custarão 500 euros e os mais caros perto de 3.500€.

Para a final, no Estádio Lusail a 18 de dezembro, os preços dos bilhetes estão nos 750, 2.220, 3.650 e 5.850 euros.

Em comparação, os bilhetes mais baratos para a final do Mundial de 2018, na Rússia, custavam cerca de 400 euros para cidadãos estrangeiros, enquanto os bilhetes mais acessíveis para as meias-finais tinham um preço de 250 euros.

No último Campeonato do Mundo, o preço dos bilhetes já tinha subido mais de 16% em relação ao Mundial anterior, no Brasil.

Com os voos de ida e volta entre Portugal e Qatar a estarem por volta dos 800 a 900 euros, o alojamento a não ficar a menos de 90 euros por noite ou 3 mil euros em cerca de um mês de torneio, e os bilhetes até à final em mais cerca de 1.750€, a estadia para ver Portugal ser campeão nunca ficará a menos de 5.500 euros.

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