28 mai, 2021 - 19:30 • António Fernandes, em Londres
Durante muito tempo, as viagens não foram uma hipótese para os britânicos. Quando a lista com vista para a reabertura do turismo foi estabelecida, Portugal entrou nos doze países a quem foi dada luz verde. Desde 17 de Maio, é possível ir e voltar de Portugal sem fazer quarentena no regresso a Inglaterra.
É isso mesmo que muitos planeiam fazer, mesmo não tendo bilhete para a final da Champions League. É o caso de Eugene Klimko, adepto do Chelsea que voa esta sexta-feira para o Porto, já sem muitas esperanças de conseguir bilhete: “Estou a ligar para o clube a cada 20 minutos mas a resposta é sempre a mesma: os bilhetes estão esgotados."
Não será certamente o único. Dan Silver, porta-voz do Chelsea Supporters Trust, o grupo oficial de adeptos do clube londrino, diz que espera que “alguns milhares de adeptos cheguem ao Porto sem bilhete”, até porque só ele sabe de 300 adeptos nessa situação.
Kevin Parker é adepto do City desde sempre e é o secretário-geral do Manchester City Supporters Club, o grupo oficial de adeptos do clube. Para Kevin, é normal que isso aconteça porque “Portugal está na lista verde do turismo inglês, por isso podemos ir de férias para Portugal e acho que muitas pessoas fizeram isso mesmo com esperança de conseguir um bilhete para o jogo por lá".
Kevin também está a caminho do Porto, mas já com bilhete garantido para o Estádio do Dragão e está "muito entusiasmado”. Já leva 48 anos a renovar o lugar anual no City, mas esta é a sua "primeira final europeia".
"Estou ansioso para que a final chegue. Claro que não foi a mesma coisa não poder ir ver a meia-final também, mas vou com os meus filhos e mal podemos esperar."
Liga dos Campeões
O incidente ocorreu por volta das 22h00 em frente (...)
Como Kevin e Eugene, muitos mais chegarão ao Porto entre sexta-feira e sábado. Se olharmos para as chegadas planeadas ao Aeroporto Sá Carneiro, vemos que, na quinta-feira, dia 27, houve três voos diretos de Manchester para o Porto. Na sexta-feira, o número sobe para 12 e no sábado para 17, só de manhã, mas a PSP diz esperar um total 80 voos com adeptos na manhã de sábado.
Inicialmente, a ideia seria criar uma “bolha” que levaria os adeptos ingleses a ficar em Portugal por menos de 24 horas. Quando os clubes receberam os respectivos 5.800 bilhetes, foi-lhes comunicado que a maioria deveria voar através dos pacotes dos clubes, com ida e volta nesse período de 24 horas.
Para encorajar os adeptos a viajar com o clube, e só no dia do jogo, o dono do City, o Sheik Mansour, dos Emirados Árabes Unidos, oferece os voos dos adeptos que optem pelo pacote do clube. Kevin diz que “há mais adeptos do City a viajar assim do que por conta própria”.
Dan Silver vai ficar em Londres: “Infelizmente, não vou ao jogo, foi um ano difícil financeiramente e acabei de renovar o meu lugar anual, tive de escolher e optei por essa opção”.
Dan diz-nos que a UEFA comunicou ao Chelsea, inicialmente, que “90% dos bilhetes tinham de ser vendidos através dos pacotes do clube, com voos charter”, com o clube a oferecer viagens no valor de 200 libras. Também por isso, e apesar do número limitado de bilhetes, o Chelsea acabou a devolver 800 dos 5.800 bilhetes que recebeu.
Para além da viagem, "acrescenta-se o preço dos testes, talvez mais umas 300 libras. Estamos a falar de 500 libras antes sequer de comprar o bilhete. Acho que isto se deve à ganância da UEFA", atira Dan, relembrando que os bilhetes que foram devolvidos custavam entre 300 e 400 libras, "o que é demasiado para um jogo num estádio com lotação limitada".
E com tantos adeptos no Porto sem bilhete, Dan acredita que a UEFA podia ter "organizado as coisas para que os bilhetes devolvidos fossem para os nossos adeptos". Já para Kevin, "é uma pena não podermos ficar com os bilhetes que o Chelsea devolveu!"
Quando as meias-finais determinaram uma final inglesa, a solução para garantir adeptos no estádio parecia ser simples: mudar o jogo de Istambul, como estava planeado, para Inglaterra.
A mudança para Portugal deixava antever desafios, mas Kevin não se importa que o jogo não se dispute em solo inglês porque “há tanto tempo que não vamos de férias, e não vamos a um jogo de futebol há tanto tempo que estou contente que o jogo seja em Portugal, um país de que gosto muito. Sim, vai sair mais caro, mas estou satisfeito que a final seja no Porto”.
Eugene chega esta sexta-feira ao Porto, com regresso marcado ao Reino Unido para terça-feira, e defende que mudar o jogo para Portugal foi a decisão correcta, porque "depois de tanto tempo sem viajar, é bom poder aproveitar e ver os adeptos nas ruas".
LIGA DOS CAMPEÕES
Presidente da Associação Portuguesa de Hotelaria, (...)
Não estamos a falar de um novato nestas andanças: Eugene esteve nas ruas de Moscovo, em 2008, quando o Chelsea perdeu a final contra o Manchester, e dentro do estádio em Munique, em 2012, quando o Chelsea ganhou a Liga dos Campeões, em casa do Bayern Munique. Onde quer que a final fosse, Eugene estaria lá. Tinha bilhetes de avião e hotel marcados para Istanbul, onde a final se ia disputar originalmente. Perdeu esse dinheiro "mas não faz mal", ri-se.
Dan preferia que a final se tivesse disputado em Inglaterra, mas acha que o “Governo fez bem em não aceitar que os dois mil convidados da UEFA pudessem chegar ao Reino Unido sem cumprir as regras”.
O Governo de Boris Johnson esteve em negociações para levar a final para Inglaterra, mas as negociações terão caído, de acordo com os media britânicos, porque a UEFA pretendia isenção de quarentena para os seus convidados para a final e o Governo britânico não aceitou essa condição.
Ainda assim, diz Dan, sabendo que a final seria entre duas equipas inglesas: “Sei que muitos adeptos gostam de ter uma final europeia numa cidade europeia longe de casa, mas se calhar podíamos ter poupado 12 mil adeptos que vão oficialmente e se calhar mais 10 mil que vão sem bilhete a essas deslocações e ter mais pessoas no estádio” ou seja, acredita que havia “soluções mais práticas do que ir para Portugal.”
Kevin, que aproveitou a final para fazer um fim-de-semana prolongado, diz que a maioria dos adeptos do City com bilhete vai viajar com o pacote do clube. "In and out", porque os citizens vão voar "muito cedo sábado de manhã, quando chegarem vão de autocarro para o Fan Park da UEFA e daí para o estádio e daí de novo para o aeroporto e voam de regresso a Manchester.
Dito assim, parece simples. Mas a pandemia impõe outras medidas: "Temos de fazer um teste PCR para voar e depois antes de regressarmos temos de fazer um teste rápido, e depois de regressar tenho de fazer outro PCR dois dias depois. Já tenho as duas doses da vacina, mas todos temos de ser testado, o que se percebe porque queremos garantir que ninguém chega a Portugal infectado nem regressa a Inglaterra infectado também. Sai um pouco mais caro, mas percebo a necessidade destes testes."
Em cima de tudo isso, faltou tempo. Mas quando se trata da final da Liga dos Campeões "temos de fazer tudo para estar lá", diz Kevin que admite que acabou por nem se preocupar com o custo do bilhete, do voo, de tudo isso. Todas as dificuldades vão valer a pena se ganharmos." E quanto custa ir a uma final? No caso de Kevin foram perto de mil libras, cerca de 1.150 euros, mas "se ganharmos, será dinheiro bem gasto". E Kevin está confiante que o City e os seus três portugueses vão conquistar o troféu pela primeira vez.
Enquanto isso, dentro ou fora do estádio, Eugene espera estar no meio de adeptos do Chelsea, a cantar e a beber cerveja, também ele confiante que o Chelsea vai ganhar "mas só nas grandes penalidades, apostei num empate 3-3 com a nossa vitória no final." Ainda tem esperança de encontrar um bilhete, mas mesmo se isso não acontecer está feliz por poder estar no Porto a ver a final com outros adeptos do Chelsea. Isso, diz, " é o mais importante".