14 jul, 2024 - 10:40 • Francisco Sousa (comentador e analista)
Não era uma final completamente inesperada, tendo em conta que, seguindo o trajeto habitual, ambas terminavam em primeiro lugar nos respectivos grupos e assim só se poderiam cruzar no jogo decisivo. Pois bem, Espanha e Inglaterra cumpriram com os objetivos a que se propuseram no início do torneio e, com maior ou menor dificuldade, mais ou menos brilhantismo, vão estar na final de Berlim a discutir o troféu do Euro 2024.
O favoritismo pertence aos espanhóis. Ao longo dos seis jogos até aqui disputados no torneio, mostraram um modelo ofensivo arrojado, com o traço de futebol associativo que tantos sucessos deu a 'nuestros hermanos' há pouco mais de uma década e juntando nuances de um futebol enérgico, vibrante e acelerado que nos transporta, em versão melhorada, para a tão célebre ‘fúria' doutras eras da ‘roja'.
É do meio-campo que parte a cavalaria mais imponente da equipa de Luis de la Fuente. Rodri é o cérebro, a estabilidade, possivelmente o jogador mais completo desta formação. Fabián Ruiz afirmou-se neste Europeu, tanto na dimensão construtora, como a chegar à área. Não havendo Pedri, surge um Dani Olmo que adiciona a capacidade de definição e gosto pelo risco no último terço que falta ao médio do Barça.
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Nas alas, estão os principais pontos de desequilíbrio, revelações que chegaram ao ponto de afirmação máximo neste torneio. Lamine Yamal chega a esta final depois de festejar os 17 aninhos na véspera e pronto para continuar a demonstrar arrojo, técnica estonteante e excelente perceção dos espaços a ocupar e das decisões a tomar a cada momento. Do outro lado, veloz, com um toque selvagem, mas cada vez mais ponderado no último passe, aparece Nico Williams, um extremo que ainda tem capacidade para finalizar.
O foco de talento espanhol neste torneio esteve aí, mas não podemos esquecer a experiência competitiva do lateral Carvajal (de regresso para a final) e do central Laporte, elementos de estabilidade e segurança (com e sem bola) a partir do setor recuado, o excelente momento do lateral Cucurella na faixa esquerda e o sempre cintilante jogo de apoios e sentido coletivo de Álvaro Morata.
Tudo isto, num plantel que conta com suplentes 'não-estrelas' que podem agitar ou serenar um jogo consoante a necessidade. A Espanha não foi só a equipa mais vistosa do Euro, até aqui, como também parece ter um plantel feito à medida das diferentes necessidades da equipa.
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Do lado oposto, vai estar uma equipa que foi tudo menos vistosa até chegar à capital alemã, mas que tem igualmente um grupo completo e que pode dar resposta (também a partir do banco) a diferentes tipos de desafios que possam surgir. Southgate mostrou desde o jogo com a Suíça, nos quartos de final, alguma intenção de mudar com certos paradigmas que levaram a um quarteto de jogos, no global, soporíferos a abrir o torneio.
Ao colocar Foden na meia-direita, numa dinâmica de proximidade com Saka (essencial frente aos helvéticos), com Mainoo a afirmar-se também como médio-centro direito tanto a recuperar como a chegar mais à frente (e formando dupla sólida com Rice) e Walker a despontar mais aberto no flanco, a turma dos ‘três leões' cresceu competitivamente sem ser necessariamente fascinante.
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No jogo das meias-finais com os Países Baixos, o encaixe dos jogadores certos nas posições ideais levou a que os ingleses rubricassem a primeira parte mais consistente até aqui em solo germânico, a dominar o jogo a partir do meio-campo, com capacidade para ganhar as costas dos médios neerlandeses (recuos de Kane foram importantes também nesse sentido) e para enquadrar para o remate à baliza.
O nível exibicional não é constante (após a troca de Koeman que equilibrou a ‘laranja', a Inglaterra já sentiu dificuldade de progressão por dentro), mas também em termos defensivos a equipa mostra estabilidade, quer pelos atributos na conquista de duelos, quer pelo sentido posicional.
Podemos esperar uma Espanha mais dominadora, mas uma equipa que conta nas suas fileiras com jogadores como Foden, Kane, Bellingham, Saka e até suplentes de luxo como Palmer, Toney ou Watkins tem sempre motivos para acreditar em competir por um título inédito.