09 jul, 2024 - 10:55 • Francisco Sousa (comentador e analista)
Antes do Espanha-Alemanha, falava-se numa autêntica final antecipada. Acho que o pensamento pode ser exatamente o mesmo se pensarmos num embate entre espanhóis e franceses. Estilos diferentes, mas enorme competência e mais-valias diversas em ambos os lados da barricada.
A 'roja' chega a este encontro sem dois habituais titulares no setor defensivo, o lateral-direito Carvajal e o central Le Normand, ambos castigados, e está também privada do médio Pedri, lesionado num embate com Kroos. A equipa mais goleadora do torneio (11 golos apontados) prepara-se para ter os veteranos Nacho e Jesús Navas no 11, com Dani Olmo a assumir o papel de médio mais ofensivo, com muita chegada, visão para o passe/cruzamento e golo.
Do lado gaulês, a expectativa da imprensa local é de que o 'espalha-brasas' Dembélé possa assumir o lugar na ala direita (em detrimento de Griezmann), com Rabiot a voltar à equipa inicial no lugar de um Camavinga que deu uma boa resposta no embate frente a Portugal. Depois da utilização do 4-3-1-2 nos quartos de final, aponta-se a um retorno ao 4-3-3 no embate frente a uma equipa que utiliza o mesmo sistema de base (com a nuance do 4-2-3-1).
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Podemos esperar um jogo numa lógica de maior cautela francesa e procura por um modelo impositivo da formação ibérica. A equipa de Didier Deschamps privilegia uma organização defensiva robusta, que não concede muitas situações de perigo e uma acumulação de unidades fortes a nível posicional e de contenção no meio-campo, mas que tenham a capacidade para segurar ou girar a bola, assim o momento do jogo o dite.
Frente a Portugal, a França manteve-se coesa atrás (novamente em destaque o irrepreensível Saliba, figura defensiva deste Europeu), soube aguentar as investidas portugueses (pela direita gaulesa no 1º tempo, mais amplas e variadas daí em diante) e acentuou a busca por ataques mais imediatos, desde logo com a entrada do veloz e imprevisível Dembélé.
Já a Espanha viveu momentos distintos no jogo face à Alemanha: assumiu uma postura dominadora, mesmo com as referências individuais dos médios alemães sobre Rodri e Fabián Ruiz (nem sempre resultaram, mas pelo menos diminuíram a influência construtora e de ruptura de ambos). Um dos méritos da turma de Luis de la Fuente foi a capacidade para sair da pressão desde a defesa (Unai Simón e Laporte são mais-valias) e, de resto, foi assim que originou o lance do primeiro golo.
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Lamine Yamal voltou a mostrar o porquê de ser um dos maiores desequilibradores do torneio, num conjunto que tem uma disciplina de cruzamento ímpar a partir dos dois flancos - à esquerda, Nico Williams também tem feito a diferença a servir bolas para o centro da área. Em termos defensivos, ficou a imagem de maior sofrimento nos segundos 45 minutos, com a Mannschaft a carregar sobre a área (efeito Füllkrug) e a ter em Wirtz uma unidade criativa e de mira para a baliza importante para aproveitar o passo atrás dado pelos hispânicos.
Saber utilizar o poder de Morata para arrastar defesas para fora de zona e oferecer apoios, manter as sinergias criativas nos dois flancos, utilizar o poder de chegada dos médios (e de Dani Olmo) e manter o nível alto na pressão em zonas subidas serão chaves para derrotar a coesa França.
Por sua vez, a equipa de Deschamps terá de olhar para as virtudes dos ataques rápidos e contra-ataques, de forma a potenciar eventuais desequilíbrios na transição defensiva espanhola - habitualmente forte numa primeira fase, mas com algumas fragilidades quando o adversário chega com vantagem à zona do meio-campo. Isso e manter a impermeabilidade defensiva. Estar na sua zona de conforto pode ser meio caminho andado para ficar mais perto da final de Berlim - por muito aborrecido que seja para nós.