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Euro 2024

​Akanji não merecia, mas ingleses foram melhores nos penáltis, e como tudo mudou com Weghorst (o resumo do dia')

07 jul, 2024 - 09:10 • Francisco Sousa (comentador e analista)

Inglaterra e Países Baixos marcam encontro na meia-final da próxima quarta-feira, em Dortmund.

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Os melhores também falham penáltis. E como a Inglaterra soube esperar, para castigar a Suíça da marca dos 11 metros

E ao quinto dia (jogo, vá), Southgate parece ter decidido inovar no posicionamento de alguns jogadores. Frente à Suíça, encostou Foden à meia-direita, para o colocar mais próximo de Saka e tendo Bellingham a procurar arranques e ligações desde a meia-esquerda. Com tudo isto, os 45 minutos iniciais do Inglaterra-Suíça, com sistemas espelhados, foram pouco entusiasmantes na dimensão criativa - valeram por Saka, o maior desequilibrador individual na equipa dos 3 Leões, procurando permanentemente o 1x1 com um desamparado Aebischer.

Murat Yakin, mais conservador no plano inicial, soltou os centrais externos após o intervalo e a equipa passou a ter mais intenção no desenvolvimento dos ataques. Rodríguez foi dando acompanhamento e capacidade de cruzamento (originou boa chance para Embolo) e Schär acabou por ter participação ativa na meia-direita, desde logo no lance do golo, recebendo de Akanji e ativando a desmarcação de Ndoye na direita da área (cruzamento desviado em Stones e Embolo a superiorizar-se a Walker ao 2º poste).

A vida inglesa voltou a partir das substituições ousadas do selecionador britânico. Mainoo estava a ser dos melhores (excelente em ruptura para a 2ª linha), mas foi um dos jogadores que partiu de campo - entraram Shaw, para assegurar largura permanente à esquerda e dois desequilibradores de características distintas como Eze e Palmer. Foram ainda assim dois dos ingleses com mais discernimento em campo a construírem diretamente a jogada do empate: Rice abriu jogo em Saka, atraiu a marcação direta de Zuber e permitiu que se abrisse a brecha para a diagonal certeira e remate cruzado do extremo do Arsenal.

Com todo o risco, Gareth Southgate tinha por esta altura o mesmo 5-4-1 em momento defensivo, mas com Saka e Eze como laterais e Palmer e Foden a fecharem por fora, mais subidos. O prolongamento só não foi soporífero porque o efeito das substituições de Yakin até se fez sentir (Widmer a chegar pela direita, Shaqiri e Amdouni construíram ocasião clamorosa por dentro e Zuber mostrou capacidade para alternar entre pausa e passes mais difíceis). Já o treinador inglês lançou Toney (para o lugar do lesionado Kane) e Alexander-Arnold, muito também a pensar nos penáltis. E olhem, a estratégia saiu bem: os dois homens que entraram no prolongamento foram certeiros nas cobranças, assim como Cole Palmer (um clássico), Bellingham e um Saka a ter o seu momento Roberto Baggio - redenção do penálti falhado na final de há 3 anos.

Do lado suíço, falhou um Akanji que foi soberbo durante o torneio inteiro - a defender a área, a ganhar duelos (como ante Kane), a antecipar e a iniciar jogadas de golo a partir de trás - pelo menos 3 dos golos helvéticos neste Euro nasceram nos pés do defesa do Man. City. Ele, Schär, Freuler, Xhaka e Rodríguez já estavam entre os consagrados e confirmaram a relevância para o projeto de Murat Yakin. Aebischer, Rieder, Ndoye ou Vargas deixaram notas sorridentes para o presente e para um futuro mais alargado da equipa alpina.

A competitividade da Turquia de Montella e o efeito Weghorst

O Países Baixos-Turquia lembrou-nos que afinal os jogos podem ser resolvidos em 90 minutos, com grande emotividade até final. Do lado neerlandês, e depois de um 1º tempo em que a entrada foi dominadora e o resto do tempo cinzento, houve uma substituição que, como é habitual, trouxe impacto na manobra ofensiva: Weghorst para o lugar de um pouco inspirado Bergwijn. O ponta de lança permite atrair atenções e fixar defesas para que a equipa ataque melhor a área - como no lance do empate, ao ‘prender' Barış Alper Yılmaz e permitir que De Vrij atacasse a bola à vontade. Os colegas de ataque agradeceram a presença em campo e o impacto foi tão significativo que esteve também no lance do golo da reviravolta, ao oferecer um apoio na meia-direita e ativar Simons para o passe de ruptura na direção de Dumfries, que se desprendeu novamente com qualidade no flanco direito para 'assistir' o autogolo de Mert Müldür.

Os turcos despediram-se do Euro, não sem tentarem antes um assalto final à baliza de Verbruggen (fundamental, assim como van de Ven ou de Vrij, nos minutos de maior sofrimento na área neerlandesa). Vincenzo Montella voltou a apostar nos 3 centrais e depois de uma entrada nervosa em jogo, a Turquia encontrou soluções para se aproximar da área dos Países Baixos, quer lançando bolas em profundidade para o incansável Barış Alper Yılmaz, quer explorando situações de bola parada lateral.

O golo inaugural nasceu da sequência de um canto (cruzamento para Samet Akaydın cabecear ao 2º poste, numa zona em que estavam mais dois turcos prontos a rematar). Çalhanoğlu ou Ferdi Kadıoğlu orientavam ataques mais a partir da meia-esquerda e da ala e do outro lado aparecia a liberdade criativa de Arda Güler. Após o descanso, as primeiras grandes ocasiões até foram da Turquia, mas falhou sempre a pontaria para corresponder ao que a equipa conseguiu produzir através de situações de bola parada ou de cruzamentos sucessivos para zona de finalização.

Arda Güler 💎

O canhoto turco do Real Madrid é um daqueles talentos à antiga, que faziam o povo pagar bilhete só para os ver jogar. Com liberdade posicional para alternar entre o corredor direito e a zona central, vem pegar no jogo atrás, assume o passe para zonas adiantadas, tem destreza para a condução e execução e ainda serve cruzamentos de luxo (com o pior pé!) como o que originou o 1-0. Esteve perto de marcar num livre com uma curva pronunciada, mas a bola desviou no poste. Atraente e influente.

Qualidade dos jogos 🌧️

Entre o conservadorismo de uns, o pragmatismo de outros, as apostas em perfis ‘certinhos’ em vez do talento mais cintilante e disruptivo, as limitações de determinados plantéis e o cansaço natural de uma prova curta no final de uma temporada tão exaustiva, temos possíveis razões (entre várias) que justificam a desvalorização estética dos espetáculos nalguns dos encontros a eliminar deste Europeu. Nos quartos de final, vimos emoção e incerteza até final, mas também períodos de bocejo, sobretudo nas primeiras partes.

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