Tempo
|
Euranet
Trabalho sem Fronteiras
A+ / A-
Arquivo

Portugueses ainda “brincam” demasiado com a Internet

25 fev, 2015 • Manuela Pires/Ricardo Conceição


Conhecemos o mais recente estudo da Comissão Europeia sobre o acesso à Internet. O que procuram os europeus na rede? E que preocupações têm com a segurança quando navegam? E vamos tentar descobrir por que é que Portugal parece ser diferente (para pior).

O Eurobarómetro publicado este mês mostra que há ainda muitas disparidades entre os vários países da União Europeia. O norte da Europa lidera a tabela e usa muito mais a Internet. Quanto aos portugueses, estão na cauda da Europa no acesso à Internet, no grupo de países que integra ainda a Grécia, a Roménia e a Bulgária.

Apenas 56% dos portugueses inquiridos no Eurobarómetro têm acesso à rede. Um número muito inferior ao de países como os do norte da Europa: na Suécia, na Dinamarca e na Holanda, 9 em cada 10 pessoas têm acesso à Internet.

Mas há mais diferenças: os portugueses procuram mais a Net para lazer. Quase metade, 48%, dizem que navegam todos os dias na Internet. A maioria para ver o correio electrónico, para ler notícias e, principalmente, para entrar nas redes sociais (76%). Os portugueses estão também acima da média da União Europeia nos jogos online, 41% contra os 29% dos restantes Estados-membros. E, se compararmos com os outros países da União, os portugueses usam ainda muito pouco a Internet para operações bancárias ou para fazer compras. Entre os jovens, a Net serve essencialmente para ouvir música e para entrar nas redes sociais.

O Eurobarómetro sobre a Cibersegurança mostra ainda que 92% dos portugueses acedem à Net através de computador, 61% no “smartphone” e 30% no “tablet”.

Do computador pessoal, para a Internet móvel
Pedro Oliveira, director da revista Exame Informática, acha que é por “uma questão cultural” que os portugueses acedem menos à Net. “Desde sempre que os povos nórdicos tiveram melhores taxas de penetração no que toca a novas tecnologias”. “Para além de estarem mais abertos às novas tecnologias, as famílias também têm mais poder de compra para apostar em telemóveis, computadores, ligações à Internet, etc”.

Gustavo Neves, da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), não acha que seja por falta de meios. “A realidade tem vindo a melhorar. É verdade que continuamos muito atrás na tabela europeia, mas o percurso tem sido positivo e é de realçar o papel de instituições públicas, como as escolas, que ajudam a democratizar este tipo de tecnologias”.
 
Pedro Oliveira afirma que os hábitos estão a alterar-se e lembra que a Internet começa a estar acessível em cada local onde as pessoas estejam, graças ao uso dos “smartphones”. É uma mudança de hábitos que tem tendência para se manter. De resto, um dos dados do Eurobarómetro mostra que a Internet ainda é usada mais para o lazer e menos para actividades profissionais ou pessoais, como as compras online ou o “home-banking”.

E a segurança?
Este estudo foi realizado em Outubro do ano passado e envolveu quase 28 mil inquéritos em toda a União Europeia. Dois anos depois do último Eurobarómetro sobre Cibersegurança, a Comissão Europeia quis saber se os europeus tinham mudado os comportamentos e o estudo demonstra que há mudanças tendo em conta as preocupações com segurança.

O Eurobarómetro mostra que 61% dos inquiridos instalaram programas antivírus e metade dos que navegam na net não abrem o email de pessoas que não conhecem. Mas há mais: 38% recusam dar informações pessoais nos sites e 3 em cada 5 internautas mudaram, pelo menos, uma vez a palavra-passe no último ano.

As preocupações com a segurança na internet aumentaram em relação ao último Eurobarómetro feito em 2013. Quanto a Portugal, 87% dos inquiridos acreditam que está a aumentar a possibilidade de serem vítimas de Cibercrime, apesar de 82% considerarem que são capazes de se protegerem online. Este estudo mostra também que  92% dos portugueses evitam fornecer informações pessoais e 74% temem ser vítimas de roubo de dados pessoais quando estão online.

O Eurobarómetro mostra, ainda, que 36% dos portugueses já foi vítima de software malicioso e 20% de correio electrónico ou telefonemas fraudulentos a pedir acesso ao computador. Mas a falta de informação sobre os riscos do Cibercrime ainda é elevada: 55% entre os portugueses e 50% na média europeia.

Apesar da maioria dos portugueses (82%) dizer saber como se proteger contra o Cibercrime, o que é certo é que o Eurobarómetro mostra que os adultos não tomam medidas em relação ao uso da Internet pelas crianças.

Apenas 11% dos portugueses estão atentos à utilização da Internet pelas crianças com menos de 16 anos e 10% adaptam configurações de segurança no navegador.

Para Gustavo Neves, que é especialista em segurança, há uma preocupação oficial quanto a isto. De resto, a criação de um Centro Internet Segura Portugal, projecto co-financiado pela União Europeia, tem a vertente de consciencializar para o uso correcto e seguro da Internet e das redes sociais.    

“O que ajuda as pessoas a protegerem-se é a informação sobre os perigos que existem. Desde o ‘phishing’ a outros perigos, tudo passa pela informação e o site www.intertnetsegura.pt tem precisamente dicas sobre como detectar os esquemas mais frequentes, que apelam às nossas emoções mais básicas, do medo aos desejos”, recorda Gustavo Neves.

Pedro Oliveira, por seu lado, acha que “os mais jovens já vão tendo alguma noção sobre os perigos”, mas duvida se todos fazem alguma coisa para se precaver efectivamente para os problemas.

O director da Exame Informática lembra que, na Internet “a segurança total não existe”. É preciso ter noção de que “o que se põe online fica online”. Dificilmente vamos ter possibilidade de tirar uma fotografia comprometedora ou um comentário que tenhamos feito. Por muito que e peça ao Google ou ao Facebook para retirar coisas do espaço online, basta que alguém a tenha partilhado ou a tenha visto num ecrã para nunca mais sabermos onde está esse material.

Os cuidados especiais a ter com as crianças
Os pais têm de perceber que “têm de acompanhar a vida online dos filhos desde muito cedo”. Pedro Oliveira acha que “os pais têm de perceber que tudo o que passam para a mão das crianças (o tablet, o smartphone, o computador) tem de ter uma supervisão desde cedo. Se não criarem o hábito de monitorizar o que eles fazem desde cedo, acontece que, quando decidem acompanhá-los quando têm 12 ou 13 anos, já eles entendem o espaço online como algo ligado à sua esfera privada” e sentem-se invadidos.

No caso do computador, o director da Exame Informática deixa mesmo um alerta: não deve estar num espaço privado dos mais novos (como o quarto), o computador tem de estar num local frequentado pela família e em que o pai ou a mãe vão espreitando o que se passa online.

Gustavo Neves, por seu lado, defende que se deve também “limitar o tempo que as crianças passam frente ao computador a jogar ou a navegar”. E quanto mais cedo se fizer isso, “mais facilmente a criança vai perceber”.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.