20 set, 2024 • Susana Madureira Martins
O PSD aponta os madeireiros e interessados na “exploração de terrenos” como potenciais responsáveis e “autores morais” dos incêndios que têm lavrado esta semana na zona norte e centro do país. É nesse sentido que apontam as declarações à Renascença do vice-presidente da bancada do PSD, António Rodrigues.
Depois da declaração ao país do primeiro-ministro sobre alegados “interesses que sobrevoam” a ignição dos incêndios, mas sem elencar quais, o deputado e dirigente do PSD, António Rodrigues diz que, para além de fogos com origem “negligente”, pelo menos, no fogo de Viseu e isso “conduz-nos a suspeitas”.
Em declarações ao programa São Bento à Sexta, António Rodrigues diz que “no passado, falou-se muito de madeireiros, hoje fala-se de outro tipo de interesses que podem vir a estar [relacionados], por exemplo, com a exploração dos terrenos ou do que está por baixo dos terrenos”, com o dirigente do PSD a reconhecer que “é muito difícil encontrar a conexão entre aquele que pratica o ato e aquele que é o mandatário do ato”.
O PSD recusa, entretanto, alterações à moldura penal dos crimes por fogo posto, considerando que a atual “já é forte e suficientemente significativa, com António Rodrigues a mostrar-se, contudo, preocupado com os pirómanos reincidentes, uma “situação que carece de uma intervenção suplementar”.
Já para o PS é cedo para avaliar totalmente o que aconteceu na última semana, com a vice-presidente da bancada do PS Marina Gonçalves a dizer ao São Bento à Sexta que tem havido “uma tentativa por parte do Governo de assumir funções que não são suas”, ou seja, que são da investigação criminal.
Marina Gonçalves vê, de resto, como deliberada a declaração do primeiro-ministro, Luís Montenegro, que, alegadamente, tentou “desviar” as atenções da ação política “numa lógica de vitimização” e de “responsabilização futura de terceiros”, por exemplo, da ministra da Administração Interna, acusada por diversos autarcas de não ter respondido atempadamente às necessidades dos concelhos afetados pelos incêndios.
Nesta altura, com incêndios ainda em curso no país, nem PSD, nem PS exigem a demissão do comandante operacional da proteção civil, André Fernandes ou do próprio presidente da autoridade nacional, Duarte Costa. O dirigente social-democrata António Rodrigues diz que “é cedo para se ponderar esse tipo de situação” e que “não há uma evidência de um qualquer tipo de falha de comando direto”.
O PSD pediu, entretanto, a instalação de uma comissão eventual sobre o “funcionamento do sistema” de proteção civil no combate aos incêndios. António Rodrigues considera que o sistema de organização da Proteção Civil “é talvez das coisas mais complexas que existem no país”.
Também a deputada e dirigente socialista Marina Gonçalves recusa a demissão da cúpula da proteção civil, lamentando que a discussão sobre a responsabilidade política “ficou alheada do discurso”, notando, “obviamente, que é preciso retirar conclusões do que aconteceu, perceber o que é que falhou, se falhou e como é que se deve continuar esse trabalho de melhoria para que não aconteça no futuro”.